Três sismos com magnitudes entre 3,3 e 3,9 na escala de Richter foram registados ao largo de Sines em seis minutos esta manhã, comunicou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. O primeiro foi registado às seis horas, 52 minutos e um segundo a 55 quilómetros para sudoeste de Sines e teve origem a 17 quilómetros de profundidade. O segundo, de magnitude 3,3 na escala de Richter, aconteceu às seis horas, 58 minutos e 11 segundos no mesmo epicentro mas a 15 quilómetros da superfície. Um segundo depois, outro sismo foi registado a 65 quilómetros de Sines com origem a 31 quilómetros de profundidade.
SISMO (Continente)
/ Mag 3.9 / 57 km W-SW Sines, aprox. / 01-Out-2018 06:52:01 (hora local) / *** Sentiu este sismo? https://t.co/nM35VI6m6B / +Info: https://t.co/XBB7d8vFAR— IPMA (@ipma_pt) October 1, 2018
Os abalos foram sentidos em várias zonas pela população — o Instituto Português do Mar e da Atmosfera diz que foram principalmente notados em Odemira e Odeceixe — e os primeiros testemunhos começaram a ser partilhados nas redes sociais. No Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, uma pessoa em Lisboa (a 111 quilómetros a norte do epicentro) diz ter ouvido “um barulho e logo de seguida um ligeiro abanar que durou de cinco a 10 segundos”. Em Odemira, a 80 quilómetros da origem do sismo, outra pessoa sentiu “um curto abanão como um comboio”. Em Sintra, a 122 quilómetros do epicentro, uma testemunha viu “os copos a abanar” e compara o som do fenómeno ao da passagem de um comboio. E em Cascais, a 104 quilómetros da origem do sismo, outra pessoa diz que a cama e a porta do quarto “mexeram-se ligeiramente”.
Eu estava na cozinha e os frascos das especiarias começaram a chocalhar. Por acaso pensei que fosse um sismo, mas achei que não. Afinal era.
— Sandra Gomes @xanoquita@masto.pt (@xanoquita) October 1, 2018
Apesar dos relatos, todos os abalos foram avaliados com intensidade entre os níveis III e IV na escala de Mercalli porque “foram sentidos por algumas pessoas dentro de habitações” e “os objetos pendurados no interior delas abanam”. No entanto, nenhum deles “causou danos pessoais ou materiais”.
Porque é que a terra abanou?
Em termos sísmicos, Portugal está condicionado pela interação entre três placas tectónicas, peças que compõem a litosfera da Terra e que se movimentam entre si: a euroasiática, a norte-americana e a africana. A placa euroasiática e a placa norte-americana estão a afastar-se uma na outra, num movimento de divergência que é responsável pela intensa atividade sísmica registada nos arquipélago dos Açores. À conta disso, pouco antes de estes três sismos acontecerem, um abalo de magnitude 2,2 na escala de Richter foi registado na Fossa de Hirondelle às seis horas, 36 minutos e 54 segundos com origem a cinco quilómetros de profundidade. Mas terramotos em Portugal Continental têm a ver com o choque entre uma parte específica da placa euroasiática e a africana.
Terramotos com origem na Colina Infante Dom Henrique, a região onde os três sismos aconteceram, acontecem porque o país fica numa região muito particular da placa euroasiática: é a microplaca ibérica, que se movimenta para leste e se vai soldando à placa asiática. Essa microplaca, no entanto, é influenciada pela placa africana, que se está a mexer para noroeste. À medida que a placa africana se mexe, ela comprime a microplaca ibérica e cria as chamadas falhas intraplaca. A microplaca sofre um levantamento litosférica e racha-se em falhas onde se acumula muita energia.
A placa africana está a rachar o país e mais uma dúzia de dúvidas sobre sismos
“Esse é o motor dos sismos desta natureza em Portugal”, confirma ao Observador o geólogo Fernando Carrilho. Mas 0 Instituto Português do Mar e da Atmosfera ainda não conseguiu determinar a que falha tectónica em específico é que os abalos estão relacionados: “Não são sismos muito grandes e isso dificulta essa descoberta. Além disso foram registados a alguma profundidade. A maior parte das pessoas só se apercebeu deles porque ouviram sons ou perceberam que os objetos estavam a abanar”, explica o cientista.
Questionado sobre se é normal a ocorrência de três sismos tão próximos uns aos outros, tanto em proximidade geológica como em termos temporais, Fernando Carrilho explica que o sismo mais forte foi o primeiro de todos. Os outros dois foram réplicas, isto é, tremores secundários que acontecem porque as rochas que compõem a crosta terrestre em torno da falha que originou o sismo principal está a reajustar-se àqueles movimentos. Os sismos são libertações súbitas de energia que acontecem quando os materiais na crosta da Terra cedem às pressões a que são sujeitos em profundidade. Às vezes, essa energia é libertada aos poucos, provocando vários sismos num curto período de tempo e associados ao mesmo evento geológico.
Outro sismo registado na noite de domingo em Góis
Os três abalos desta manhã aconteceram entre oito e nove horas depois de outro terramoto, com magnitude de 2,0 na escala de Richter, ter sido registado a quatro quilómetros a oeste-sudoeste de Góis e a 19 quilómetros de profundidade. Este terramoto, em nada relacionado com os três registados esta manhã, também foi avaliado com intensidade III na escala de Mercalli e foi sentido sobretudo na Lousã. Este sismo teve origem na falha de Seia-Lousã.
De acordo com um estudo das Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, assinados pelos geólogos António Sequeira, Pedro Proença Cunha e Manuel Bernardo de Sousa, essa falha é uma das que define a Cordilheira Central Portuguesa — a outra é a falha de Cebola. A Cordilheira Central é um sistema que se ergue no centro da Península Ibérica, desde o centro de Portugal até ao centro-noroeste de Espanha. À semelhança da Cordilheira Bética (que vai desde o golfo de Cádis até Alicante e Baleares), também esse Sistema Central é resultado da compressão que a placa africana exerce na microplaca ibérica e que está a abrir cada vez mais falhas no solo português.
Há pouco mais de uma hora, mais um sismo sentido em Portugal. Com magnitude 2,0 apenas, atingiu intensidade III na zona epicentral (Lousã). Mais uma manifestação da quase esquecida falha de Seia-Lousã, que contudo já produziu sismos de magnitude elevada, como em 1880. pic.twitter.com/njKC0K4QiK
— José R. Ribeiro (@JoseRodRibeiro) September 30, 2018