O nulo mantinha-se. Faltavam apenas dez minutos para o final do encontro. O Manchester City atravessava o melhor período em termos ofensivos do jogo até ao momento. Foi nessa altura que Pep Guardiola, que via a partida de pé, começou a esbracejar aos saltos com Gabriel Jesus depois de um lance em que Lovren levou a melhor. Pela descrição, não deviam existir muitas dúvidas: o técnico espanhol queria outros movimentos atacantes para chegar ao golo. Mas não, não era por isso – a grande preocupação do treinador era mesmo a transição defensiva e a colocação do avançado brasileiro na primeira zona de pressão.

Ao contrário do que é normal nas equipas que comanda, Guardiola esteve este domingo mais preocupado em anular os pontos fortes do seu adversário do que em potenciar as suas mais valias. Mas não se ficou por aí: aqueles que costumam ser os seus pequenos grandes super heróis do meio-campo ou das alas, como Bernardo Silva, David Silva ou Sterling, vestiram o fato de operário, pisaram outros terrenos menos habituais sem bola (o internacional português passou grande parte do tempo quase ao lado de Fernandinho, o único médio de características mais defensivas) e conseguiram as transições em velocidade do Liverpool, “secando” elementos como Salah ou Sadio Mané. E essa ideia de jogo por pouco não teve como prémio a vitória.

Aos 86′, no seguimento de um penálti claro de Van Dijk sobre Leriy Sané (antes já tinha havido um lance no mínimo duvidoso entre Gabriel Jesus e Lovren, depois de uma jogada de génio do brasileiro num curto espaço de terreno), Mahrez, o grande reforço dos citizens para esta temporada que teve os dois remates mais perigosos do encontro até aí, disparou um balão por cima da trave de Alisson, desperdiçando a melhor oportunidade do jogo grande da jornada na Premier League. O ‘kryptonite’ chamado Klopp não voltou a assombrar Guardiola como é normal, mas o argelino acabou por ser o vilão que hipotecou o trabalho dos super heróis do meio-campo e impediu que a equipa quebrasse um jejum de triunfos em Anfield Road que vem desde 2003.

O momento em que Mahrez atirou um balão por cima da trave da baliza de Alisson num penálti aos 86′ (PAUL ELLIS/AFP/Getty Images)

Recuando um par de semanas, o episódio seis do documentário “All or Nothing”, que seguiu a campanha do Manchester City na última temporada em que conseguiu vencer o Campeonato com o recorde de pontos, tinha uma conversa entre o técnico espanhol e os seus adjuntos antes do confronto para a Liga dos Campeões com o Liverpool. “Eles assustam-me. Ou melhor, eles são perigosos”, dizia Guardiola, a propósito do tridente ofensivo dos reds. E foi neste pormenor que a BBC agarrou esta semana para lançar o encontro – afinal, ao longo de todos os capítulos do trabalho que passou na Amazon Prime Video, o que se via era uma equipa e treinadores com enorme confiança e auto-estima; naquele momento, sentiu-se receio do adversário.

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Pep Guardiola mandou calar, foi calado e o City perdeu o pio (ou como o Liverpool está nas meias)

Daqui nasce a ideia de Klopp como o “kryptonite” de Guardiola, num duelo sempre com muito respeito (e elogios) entre ambos que começou ainda na Alemanha em 2013, nos duelos entre Bayern e Borussia Dortmund. Este foi já o 15.º jogo que colocou em confronto equipas de ambos os técnicos e que continua a dar uma tendência melhor para o germânico, que venceu por oito vezes contra cinco do espanhol e mais dois empates, incluindo o de hoje numa partida sem grandes motivos de interesse. Um exemplo rápido: nenhum jogo da Premier League teve até agora tão poucos remates na primeira parte (três).

Com este resultado, e antes da paragem para compromissos das seleções, existe uma liderança a três no Campeonato, com Manchester City e Liverpool a serem alcançados pelo Chelsea (que venceu esta tarde o Southampton por 3-0 fora, com golos de Hazard, Ross Barkley e Morata) com 20 pontos, mais dois do que Arsenal (goleou o Fulham por 5-1) e o Tottenham. No sexto lugar surge agora o surpreendente Bourmentouh com 16 pontos, mais três do que o Manchester United de José Mourinho.