A 13 de novembro de 2015, há quase três anos, a seleção francesa recebia a seleção alemã para um jogo particular no Stade de France, em Saint-Denis, Paris. Por volta do vigésimo minuto de jogo, quando o lateral esquerdo francês Patrice Evra tinha a bola controlada, ouviu-se uma explosão. Lá fora, nos arredores do estádio, cinco pessoas acabariam por morrer naquele que foi apenas um de uma série de atentados terroristas levados a cabo pelo Estado Islâmico na mesma noite. François Hollande, presidente francês, estava a ver o jogo e deixou o estádio ao intervalo. Dentro de campo, França venceu por 2-0 com golos de Giroud e Gignac. Mas esta é a última das memórias que os franceses têm daquela noite.

Esta terça-feira, França voltou a receber a Alemanha no Stade de France, em Saint-Denis, Paris. Os treinadores, Didier Deschamps e Joachim Löw, são os mesmos daquele 13 de novembro. Mudou uma coisa: em 2015, a seleção alemã era campeã do mundo em título e a francesa vivia uma fase de renovação depois de andar arredada das grandes decisões dos torneios de seleções desde 2006, ano em que perdeu a final do Mundial da Alemanha para Itália; agora, em 2018, é França a atual campeã do mundo e é a Alemanha quem precisa de se reinventar depois de um Mundial da Rússia onde chocou meio mundo ao não ir além da fase de grupos.

À entrada para esta partida do Grupo 1 da Liga das Nações, a Alemanha era uma de três equipas que ainda não tinham marcado qualquer golo na competição (as outras são a Croácia e San Marino). Com apenas um ponto e depois de uma derrota por 3-0 com a Holanda no passado sábado, a equipa de Joachim Löw precisava desesperadamente de marcar golos, conquistar pontos e evitar mais um desaire que colocasse ainda mais em causa o já muito contestado selecionador alemão. França, por outro lado, liderava o Grupo 1, tinha vencido a Holanda em Paris e estava em boa posição para passar à fase seguinte da Liga das Nações.

A tarefa alemã não se adivinhava fácil. Em setembro, as duas equipas empataram sem golos no Allianz Arena, em Munique – mas agora era em Paris. E a Alemanha nunca venceu a seleção francesa em França. Para tentar o inédito, Joachim Löw fez cinco alterações face à equipa que tinha perdido com a Holanda e empreendeu uma verdadeira revolução tática, arriscando com uma defesa a três e um meio-campo apoiado e balançado para a frente, onde estavam Leroy Sané de um lado, Serge Gnabry do outro e Timo Werner no centro.

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Toni Kroos marcou de grande penalidade o golo que ainda deu esperança aos alemães

Nos primeiros minutos, tudo apontava para o domínio francês. O entendimento entre Griezmann e Mbappé roça a perfeição e o avançado do PSG está num momento de forma inacreditável, com picos de velocidade arrepiantes e pormenores que deixam descansado qualquer cético sobre o futuro do futebol mundial. Mas os minutos passaram e os alemães perceberam algo muito simples: França iria jogar tal qual como jogou no Campeonato do Mundo. Ou seja, sem fazer pressão alta, à espera, com Griezmann, Mbappé e Giroud presos na linha de meio-campo sem avançar para reduzir o espaço dos defesas da Mannschaft. A Alemanha começou a conseguir sair com tempo, espaço e qualidade, principalmente pelo corredor esquerdo do ataque, onde Griezmann era parco a fazer dobras, N’Golo Kanté demasiado lento para acompanhar Sané ou Kroos e Pavard, lateral sensação do Mundial, passava um pouco ao lado do jogo.

Mas, curiosamente, foi do outro lado que surgiu a solução. Pogba perdeu a bola em zona proibida, Gnabry segurou e soltou para Sané; o extremo do Manchester City esticou o jogo até a linha de fundo e, quando tentou cruzar a meia altura para Gnabry ou Werner, a bola encontrou o braço de Kimpembe completamente levantado. Penálti, pé direito de Toni Kroos na bola, pontinha dos dedos de Lloris, golo. Ainda não havia um quarto de hora e a Alemanha já vencia em Saint-Denis. A segunda parte trouxe uma França com vontade de fazer aquele bocadinho mais para desconstruir a organização defensiva da Alemanha: os homens da frente empenharam-se na pressão alta, Kimmich e Kroos foram anulados e Matuidi começou a explorar terrenos mais interiores, uma decisão que viria a provar-se fulcral. A muralha germânica só conseguiu resistir durante pouco mais do que 15 minutos. Ao passar do minuto 63, Lucas Hernández recebeu na esquerda do ataque um passe de Pogba e cruzou com tanta força que mais parecia um remate. Antoine Griezmann, quase à saída da grande área, elevou-se no ar, cabeceou e bateu Manuel Neuer. Nota de rodapé: aquilo que Griezmann fez, embora aparentemente simples, nem na PlayStation é fácil de fazer.

O desfecho, a partir daqui, era previsível. Hummels precipitou-o e cometeu grande penalidade sobre Matuidi, dando a Griezmann, de mão beijada, o segundo golo. A França venceu a Alemanha, somou sete pontos no Grupo 1 da Liga das Nações e enterrou ainda mais a Mannschaft no último lugar. Joachim Löw voltou a perder, voltou a tomar decisões altamente duvidosas – como a substituição de Leroy Sané, indubitavelmente o melhor alemão em campo – e volta a estar sob fogo. A seleção alemã precisa agora de vencer a Holanda em Roterdão para não cair para a Liga B da Liga das Nações.

Brasil venceu a Argentina sem impressionar

Também esta terça-feira, a Arábia Saudita recebeu um dos grandes clássicos do futebol mundial. O Brasil venceu a Argentina num jogo que estava envolto em polémica antes ainda de o alemão Felix Brych apitar para o início da partida. Ora, antes de mais, este jogo estava integrado num torneio denominado de Superclássico que, além das duas seleções sul-americanas, incluía Arábia Saudita e Iraque. Antes de se enfrentarem, o Brasil venceu os sauditas por 2-0 e a Argentina goleou os iraquianos por 4-0: a final do mini torneio foi então disputada esta terça-feira entre brasileiros e argentinos, com a seleção de Tite e Neymar a conquistar o troféu. Mas porquê a polémica? É que este Superclássico foi disputado no King Abdullah International Stadium, na cidade saudita de Jeddah, onde fica a sede do Dallah Albaraka Group, o grupo detentor dos direitos comerciais dos jogos particulares da canarinha.

Miranda marcou o golo solitário que valeu a vitória brasileira frente à Argentina

Além disso, a opinião pública brasileira criticou a decisão da Confederação Brasileira de Futebol de aceitar participar no torneio organizado na Arábia Saudita mesmo depois das notícias que dão conta do assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista saudita, por parte dos serviços secretos do país. Na conferência de imprensa de antevisão do jogo, Neymar não poderia ter desvalorizado mais o assunto: “Viemos para jogar futebol e não estamos sabendo de nada”, afirmou o jogador do PSG.

Polémicas à parte, este foi o primeiro clássico sul-americano de Lionel Scaloni, selecionador argentino interino que assumiu o comando da equipa depois da saída de Jorge Sampaoli – muito criticado durante e após o Mundial da Rússia. Scaloni e Tite convocaram para este Superclássico vários jogadores que alinham em Portugal: Eduardo Salvio e Marcos Acuña foram suplentes utilizados, Franco Cervi não saiu do banco e Rodrigo Battaglia foi titular; do outro lado, Éder Militão viu o jogo a partir do banco. A Argentina, mesmo sem Messi, foi superior na grande maioria da partida, mas caiu abruptamente de rendimento nos últimos 20 minutos. O Brasil aproveitou, Neymar ainda tinha uma réstia de energia e serviu Miranda para um cabeceamento certeiro já para lá dos 90. Sem impressionar, os brasileiros venceram o eterno rival e ganharam ânimo para reconquistar a Copa América, a disputar em junho de 2019.