O início da Juventus-Génova deixou uma espécie de sensação estranha para quem estava a acompanhar o jogo via TV. Não era boa, não era má, era simplesmente diferente. Uns minutos a matutar na coisa, a pensar em tudo aquilo que nos passou pelos olhos ao longo da semana e fez-se luz para a explicação: a Federação Italiana de Futebol decidiu interditar uma bancada do estádio por cânticos racistas num jogo frente ao Nápoles mas os dirigentes da Vecchia Signora pediram para que essas cadeiras pudessem ser ocupadas por crianças da Academia do clube, isto num dia em que haveria uma ação de sensibilização da UNESCO para o combate ao racismo. O pedido foi aceite, para percetível (e audível) gáudio dos miúdos. Também eles puderam assistir ao vivo a algo que promete perdurar por muito tempo – um jogo com a participação de Cristiano Ronaldo.

Numa semana em que a grande notícia extra desportiva ligada ao internacional português, avançada pelo Tuttosport, foi o pedido do jogador aos advogados e restante equipa mais próxima entre marketing e comunicação para que não lhe fizessem chegar qualquer informação sobre o caso que envolve a alegada violação nos Estados Unidos em 2009, por forma a poder concentrar-se nos treinos e nos jogos, o número 7 voltou a merecer rasgados elogios por parte de mais um figura da Juventus, neste caso o agora capitão Chiellini (que foi poupado esta tarde, entrando Benatia para fazer dupla com Bonucci na defesa).

“Ele é espantoso! É verdadeiramente espetacular ter decidido provar novamente o seu valor aos 33 anos. A sua mentalidade ganhadora preenche o vazio deixado pela saída do Buffon. É uma referência e guia-nos com a atitude positiva. Além de marcar golos e fazer assistências, é uma figura exemplar. Vejo-o sereno, a trabalhar de sorriso nos lábios”, comentou. Uma ideia que ficou mais uma vez patente em campo, ainda que os heptacampeões tenham perdido os primeiros pontos.

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Para se perceber a influência de CR7 em campo, basta dizer que, a meio da primeira parte, já levava um total de seis remates, três dos quais enquadrados com a baliza (sendo o único da Vecchia Signora a visar a baliza do Génova). Também houve pelo meio uma entrada mais dura de Romero por trás mas nada que mexesse com o rendimento do avançado que, aos 14′, deu o primeiro sinal de grande perigo com um cabeceamento ao poste após cruzamento de Cuadrado. Quatro minutos depois, o 1-0: João Cancelo foi à esquerda ganhar uma bola após canto, rematou, Piatek – o avançado surpresa e melhor marcador da Serie A que considera Ronaldo o melhor do mundo agora e de sempre – desentendeu-se com o guarda-redes Radu e o português teve apenas de encostar para a baliza deserta do conjunto do lateral Pedro Pereira.

Piatek desentendeu-se com Radu após remate de Cancelo e Ronaldo só teve de encostar assim para o 1-0 (Tullio M. Puglia/Getty Images)

O capitão da Seleção abriu um largo sorriso, benzeu-se enquanto corria para a zona mais próxima da bandeirola de canto e fez o tradicional salto acompanhado do Siiiiiiiiii que se tornou célebre ainda em Madrid (e tanto que os adeptos do Real devem pensar nele, depois de mais uma derrota sofrida em casa frente ao Levante este sábado). Nono jogo no Campeonato, quinto golo (mais quatro assistências), ficando mais próximo dos primeiros na lista dos melhores marcadores (Piatek e Insigne). Mas a conta podia ter aumentado ainda na primeira parte, quando Radu fez uma grande defesa depois de um remate cruzado (23′).

Estava dado mais um passo para dois recordes que se mantinham em aberto para a Juve, que somava oito triunfos consecutivos na Serie A e dez no total desde o início da temporada (os outros dois relativos à Champions): por um lado, alcançar as 13 vitórias oficiais seguidos do AC Milan a abrir a época de 1992/93; por outro, igualar a série de dez encontros consecutivos a vencer da AS Roma em 2013/14. De forma inesperada, os registos ficaram hipotecados. Enquanto isso, Ronaldo somou outro recorde.

Com o golo deste sábado, o português tornou-se o primeiro jogador de sempre a chegar aos 400 em encontros a contar para os cinco principais campeonatos europeus (Espanha, Itália, Inglaterra, França e Alemanha), alcançando a marca à frente de outros nomes grandes do futebol mundial como Leo Messi (388), Jimmy Greaves (366), Gerd Müller (365) e Steve Bloomer (317). Entre os 400, 84 foram no Manchester United, 311 no Real Madrid e agora cinco na Juventus. Já antes, Ronaldo tinha recebido no relvado o prémio de MVP de setembro da Vecchia Signora.

No entanto, e mais uma vez, a Juventus voltou a sofrer do mesmo mal que tem assolado a equipa em alguns jogos: o excesso de confiança. E foi assim que, a 20 minutos do final, Kouame foi buscar à linha de fundo uma bola que Benatia tinha dado como perdido, ajeitou, fez o cruzamento e o brasileiro Bessa (que passou pelo Olhanense em 2013, emprestado pelo Inter), de cabeça, apontou o empate sem hipóteses para Szczesny. Balde de água fria que acabaria por confirmar-se com o apito final – apesar de mais um cabeceamento de Ronaldo ao lado após cruzamento da esquerda de Alex Sandro e de um remate de Dybala (que começou no banco) a rasar o poste, os heptacampeões não desfizeram o empate e perderam os primeiros pontos.

Bessa, que passou sem sucesso pelo Olhanense (emprestado pelo Inter) em 2013, fez o golo do empate (MARCO BERTORELLO/AFP/Getty Images)