Apenas seis das 28 Unidades de Acidente Vascular Cerebral (UAVC) do país têm equipas de reabilitação completas, revela um estudo esta sexta-feira divulgado, segundo o qual há unidades a funcionar “muito aquém” do desejável.
Promovido pela Sociedade Portuguesa do AVC, o estudo “Caracterização da avaliação e tratamento de reabilitação nas unidades de acidente vascular cerebral em Portugal” analisou as áreas essenciais ao desempenho da reabilitação, a partir das orientações mais atuais relativamente aos cuidados, avaliação, tratamento e orientação pós-alta, com visitas a todas as UAVC do país.
Apesar da comprovação de que estas equipas multiprofissionais são “muito importantes” nas unidades de AVC, “infelizmente em Portugal apenas cerca de 22% das unidades têm as equipas com todos os elementos necessários”, disse à agência Lusa Bárbara Moreira da Cruz, uma das autoras do estudo.
Em 37% das unidades faltam dois ou mais elementos e em 18% faltam três ou mais profissionais, disse a médica fisiatra, sublinhando que “há unidades a funcionar com equipas de reabilitação muito aquém do que seria o desejável” face ao número básico necessário de profissionais para tratar o AVC.
Mesmo nas unidades que têm as equipas completas, há profissionais que “não estão com a carga horária necessária” para responder às solicitações feitas pela unidade, vincou.
Quando estão a funcionar, estas equipas não só poupam dinheiro ao Estado e às famílias como as referenciações para a rede nacional são “mais atempadas” e a referenciação para a rede nacional de cuidados continuados integrados é “mais assertiva” e, por outro lado, são “a única maneira” de promover ao máximo todo o potencial funcional que o doente pode recuperar.
Perante estes resultados, “é urgente que estas equipas sejam formadas e que as deixem trabalhar”, defendeu a médica, apesar de reconhecer que os constrangimentos existentes tornam “muito difícil conseguir elementos para as equipas”.
Lamentou ainda que as contas do serviço de reabilitação sejam feitas tendo em conta o número de consultas de ambulatório que fazem, nunca avaliando o quanto “estas equipas poupam, quantos internamentos tiram, quantos dias menos um doente tem que estar institucionalizado, quantos dias menos de absentismo” vai ter o cuidador”.
“Enquanto essas contas não forem feitas, o país vai perder muito dinheiro”, vincou.
As unidades de AVC são atualmente o melhor local para o tratamento de doentes com acidente vascular cerebral agudo, sendo que as indicações mais recentes vão no sentido de que o tratamento de reabilitação se inicie precocemente, a par do tratamento curativo e de prevenção secundária.
A comunicação e coordenação desta equipa, composta por um médico especialista, terapeutas, fisioterapeuta, enfermeiros, assistente social, nutricionista e psicólogo, “é essencial” para maximizar a eficácia e eficiência da reabilitação, verificando-se que “esforços isolados dos diferentes profissionais para reabilitar o sobrevivente de AVC tornam improvável o atingimento do seu potencial máximo”.
“O que notámos foi que é muito difícil montar a equipa e muitas vezes essa coordenação não está estabelecida”, apesar de haver “um esforço brutal dos serviços para poder responder às necessidades da unidade”, disse Barbara Moreira da Cruz.
Todos os coordenadores das unidades consideraram que o “mais importante e mais urgente” é colmatar a deficiência de não ter profissionais de saúde com disponibilidade para as unidades.
As doenças cardiovasculares continuam a ser principal causa de morte e incapacidade em Portugal, provocando cerca de 35 mil mortes anualmente. Destas, estima-se que 20 mil se devam a acidentes cerebrovasculares e mil a enfartes do miocárdio.