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A noite contranatura em que os números não explicam todos os factos (a crónica do Belenenses-Benfica)

Este artigo tem mais de 5 anos

Entre Seferovic, Rafa, Gedson, Pizzi, Jonas e um penálti de Salvio, Benfica teve oportunidades para golear o Belenenses. Perdeu (2-0), com 25 remates. Mas os números não mostram (nem escondem) tudo.

Salvio falhou uma grande penalidade quando o resultado estava ainda a zero, permitindo a defesa a Muriel
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Salvio falhou uma grande penalidade quando o resultado estava ainda a zero, permitindo a defesa a Muriel

Pedro Rocha / Global Imagens

Salvio falhou uma grande penalidade quando o resultado estava ainda a zero, permitindo a defesa a Muriel

Pedro Rocha / Global Imagens

A hora está quase a mudar mas há tradições que nunca deveriam alteradas. Hoje, não foram poucas. O Belenenses-Benfica, um dérbi que por inerência tem sempre histórias muito próprias, não foi no Restelo; o Jamor, um dos palcos mais nobres do futebol português, não teve aquele habitual ambiente de folia em seu redor e estava demasiado despido de público para aquilo que estava em causa; a chuva que começou a cair momentos antes do jogo estava de tal forma a dançar com o vento que levava pingas até para os lugares mais abrigados; ao intervalo, algumas pessoas saíram cansadas do encontro e das condições climatéricas e houve muitos a manifestarem o desagrado por essa atitude. Podíamos continuar a nomear uma série de coisas que não costumam acontecer mas aconteceram. Estava tudo ao contrário mas não foi por isso que esta foi uma noite contranatura.

https://observador.pt/2018/10/27/belenenses-benfica-encarnados-podem-chegar-a-lideranca-isolada-no-campeonato/

Foi uma noite contranatura porque o Belenenses, que depois de um triunfo em Tondela a abrir o Campeonato em agosto nunca mais tinha ganho na prova, alcançou a vitória. Foi uma noite contranatura porque o Benfica, que ainda não tinha perdido na Primeira Liga, somou uma inesperada derrota depois da deslocação menos conseguida a Amesterdão. Foi uma noite contranatura porque a equipa que mais oportunidades conseguiu criar não chegou nem uma vez ao golo. Foi uma noite contranatura porque o conjunto que tinha dificuldades em passar do meio-campo de forma organizada marcou dois golos enquanto o Diabo esfrega um olho. Foi uma noite contranatura por tudo aquilo que as estatísticas mostram mas, aqui, os números não explicam todos os factos. A forma como os encarnados “secaram” o ataque com as substituições acabou por ser o golpe final numa noite em que pouco ou nada mais havia a fazer. Ter muitos jogadores na frente e colocar mais avançados de área em campo é a tentação compreensível de qualquer treinador; não encontrar depois ninguém que leve a bola até ao último terço é o principal pecado. E foi assim que o Benfica, que podia ter goleado, terminou o encontro que podia não ter acabado em 2-0.

Adeptos do Benfica no Jamor mostraram a insatisfação pela derrota frente ao Belenenses no final do encontro

Ficha de jogo

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Belenenses-Benfica, 2-0

8.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Jamor, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Belenenses: Muriel; Diogo Viana, Gonçalo Silva, Sasso, Reinildo (Fredy, 53′); André Santos (Nuno Coelho, 57′), Jonatan Lucca, Eduardo; Licá, Zakarya e Keita (Nuno Tomás, 75′)

Suplentes não utilizados: Mika, Kikas, Matija e Dramé

Treinador: Silas

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Fejsa (Zivkovic, 84′), Gedson Fernandes, Pizzi (Castillo, 68′); Salvio (Jonas, 46′), Rafa e Seferovic

Suplentes não utilizados: Svilar, Alfa Semedo, Gabriel e Cervi

Treinador: Rui Vitória

Golos: Eduardo (36′, g.p.) e Keita (42′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Reinildo (31′), Keita (32′), Jardel (45′) e Fejsa (78′)

O Benfica teve uma entrada fortíssima em campo e, com apenas 15 segundos de jogo, Muriel já estava a fazer a primeira defesa do jogo após remate em arco de Salvio. A vontade de haver uma entrada forte era demasiado evidente mas nestas coisas do futebol a diferença entre o querer e o conseguir é grande. Muito grande. Esta noite, foi um passinho. Ou dois, ou três. O Belenenses tinha inúmeras dificuldades em sequer passar a linha de meio-campo em posse minimamente orientada porque a pressão asfixiante e alta dos encarnados não permitia muito mais do que isso – dois/três toques e bola no adversário, que encontrava espaços nos três corredores para ir fazer aproximações atrás de aproximações com perigo. Em 10 minutos, 3-0 em remates e 76% de posse.

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Muriel, irmão do guarda-redes mais caro da história do futebol (Alisson, que custou 75 milhões ao Liverpool depois de mais uma grande época na Roma), o mesmo que tinha registado um jogo completamente desastrado contra o Sp. Braga com erros atrás de erros, estava em noite inspirada, retirando o golo a Seferovic e Gedson Fernandes, mas também já havia outros fatores à mistura. Rafa que o diga – aproveitando uma bola que ficou a pingar sem dono depois de uma investida do suíço para a área no corredor central, o internacional português ganhou espaço, atirou com o selo certo mas Diogo Viana, que fez um carrinho e levou com a bola algures na zona das costas. De Belenenses e de jogadas no último terço, quase nada.

[clique em cima das imagens para ver o vídeo dos melhores momentos do Belenenses-Benfica]

Aos 20 minutos, o Benfica ganhou mais um canto e os treinadores faziam movimentos inversos no banco: Rui Vitória, com um casaco extra por cima do fato porque o frio não estava para brincadeiras, dava uns passos para a frente aproveitando o espaço XL para os técnicos que a pista do Jamor permite; Silas, com o seu adjunto por perto, estava sentado no banco, olhava para um quadro e parecia desenhar triângulos com os dedos. Para o primeiro, olhar para o jogo era ver um conjunto de virtudes capaz de orgulhar qualquer líder; para o segundo, fixar as atenções no campo era perceber quase tudo o que uma equipa teoricamente mais fraca não deve fazer. No entanto, e naquilo que verdadeiramente conta, estavam os dois na mesma: a zeros.

Na sequência de um canto e de uma bola que podia ter sido resolvida por Vlachodimos logo à primeira, Eduardo, de uma forma entre o acrobático e o atabalhoado, obrigou o guarda-redes encarnado à primeira intervenção. E tudo, claro, porque houve um erro; caso contrário, seria complicado ver o número 1 ter algum trabalho. No outro lado, a história era outra e foi mais uma vez Seferovic a tentar de fora da área aquilo que não estava a conseguir lá dentro, com o remate a sair perto do poste. O Benfica já tinha tentado de todas as formas e já tinha experimentado todos os feitios. Faltava apenas uma mas que também não demorou muito tempo a aparecer, apesar da longa demora até Artur Soares Dias ir à TV no relvado confirmar o penálti.

Num passe de rutura, Salvio não conseguiu chegar a tempo mas caiu com Reinildo. O lance não é de facto fácil mas ficou a ideia de que houve um toque do lateral brasileiro sobre o argentino – depois, é uma questão de interpretar a intensidade do mesmo. O Benfica tinha mesmo a melhor oportunidade para quebrar meia hora de tiro ao boneco sem sucesso e o extremo, que tinha feito sinal para trocar as botas quando houvesse uma paragem, pediu para marcar. Correu mal: fosse da colocação ou das botas, nem de grande penalidade o Benfica conseguiu superar Muriel, um gigante na baliza do Belenenses. E quem não mata, morre. Neste caso, com o mesmo veneno: Zakarya colocou em profundidade para a aceleração de Licá, Vlachodimos saiu de carrinho, carregou o avançado que está a reaparecer e Eduardo, que fazia a estreia no Campeonato, inaugurou o marcador (36′).

Por quebra anímica ou por frustração, o Benfica sentiu o golo sofrido. Em dez incursões com perigo, nada de golos; o adversário foi lá abaixo uma vez e marcou. Mas este Belenenses de Silas é uma equipa que se consegue agigantar nos encontros com grandes porque sabe como ninguém jogar com os tempos do jogo. Sabe que há momentos para defender, sabe que há momentos para tentar atacar, sabe que há momentos para congelar bola, sabe que há momentos em que se deve apostar na velocidade. E sabe, mais importante que tudo o resto, que o segredo passa por aproveitar as inevitáveis flutuações exibicionais do adversário. Foi assim que chegou poucos minutos depois ao 2-0: Eduardo ganhou a bola ainda no seu meio-campo (com protestos por causa de uma possível falta de Lucca sobre Pizzi no arranque da jogada), encontrou uma autoestrada no corredor central com a cancela aberta por Rúben Dias que colocava todos em jogo e Keita, isolado, não falhou perante Vlachodimos (42′).

Em desvantagem por dois golos num jogo fora para o Campeonato, o Benfica tinha conseguido apenas uma vez dar a volta, em Guimarães. E se é certo que alguns adeptos encarnados, chateados com o resultado e ainda piores com a chuva grossa que caiu durante o descanso, deixaram o Jamor nesse período, a maioria ficou e ainda gritou “Vocês são uma vergonha!” para aqueles que estavam a ser vistos como “desistentes”. O caudal ofensivo, mesmo sem concretização, parecia acalentar ainda a esperança na reviravolta, a que se juntou ainda a entrada de Jonas para o lugar de Salvio. E essa esperança justificava-se.

O brasileiro demorou apenas três minutos para obrigar Muriel à primeira defesa mais apertada do segundo tempo. Pouco depois, na sequência de uma jogada de Rafa a ultrapassar adversários antes de soltar a bola, Pizzi, dentro da área descaído na direita, atirou para nova defesa do brasileiro e Jonas, na recarga, atirou por cima (52′). Mais uma voltinha, mais uma oportunidade, outra vez com Pizzi a atirar rasteiro ao lado da baliza dos azuis do Restelo (57′) já depois de uma bola anulada a Seferovic que acertou no poste apesar de estar em posição de fora de jogo. Era a pressão total do Benfica, que perdia gás e discernimento com o passar dos minutos. Era a resistência total do Belenenses, que ganhava gás com o passar dos minutos.

Houve mais chances mas as substituições operadas por Rui Vitória, sobretudo a saída de Pizzi para a entrada de Castillo, foram tirando domínio aos encarnados. Havia mais peso na frente, com três avançados puros, mas não existia quem agarrasse na bola e pudesse levar até às zonas de finalização. E foi assim que Licá, aos 71′, obrigou Vlachodimos a uma grande defesa a evitar o 3-0, antes de Lucca, na chance mais clara, ter cruzado para a frente quando Licá estava pronto para encostar isolado. Muriel acrescentou mais uns capítulos a uma exibição que daria um livro mas a história do jogo estava escrita.

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