O Vaticano anunciou na terça-feira a descoberta de ossadas perto do edifício da Embaixada da Santa Sé em Roma, que está a ser restaurado. De acordo com a agência de notícias italiana ANSA, os resultados preliminares dos testes realizados aos ossos deverão ser divulgados na próxima semana, provavelmente na segunda-feira. Muitos esperam que os testes de ADN confirmem que os restos mortais pertencem a Emanuela Orlandi, a jovem de 15 anos que desapareceu em 1983 e cujo paradeiro permanece até hoje um mistério.

Orlandi, filha de um funcionário do banco do Vaticano, desapareceu sem deixar rasto ao final da tarde de 22 de junho de 1983. A última vez que foi vista foi à saída da aula de música que costumava ter perto da Piazza Navona, em Roma, pelas 19h. Apesar dos esforços levados a cabo pelos autoridades italianas, até hoje não foi possível descobrir o que aconteceu à rapariga. Teorias da conspiração não faltam, já que os dados sobre o desaparecimento de Emanuela Orlandi são poucos ou quase nenhuns. A maioria culpa a Santa Sé, mas há quem defenda que o verdadeiro culpado foi um mafioso romano.

A primeira informação aparentemente relevante sobre o caso surgiu em 2005. Nesse ano, um detetive privado italiano recebeu uma chamada anónima denunciado que o rapto de Orlandi tinha sido orquestrado pelo cardeal Ugo Poletti, vigário de Roma de 1973 a 1991, refere a CNN. Segundo a fonte, a resposta para o mistério estava no túmulo de Enrico “Renatino” De Pedis, na basílica de Sant’Apollinare, em Roma.

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De Pedis era um dos chefes da Banda della Magliana, uma organização criminosa romana. Depois do seu assassinato em 1990, o seu corpo foi trasladado por volta de 1997 para a basílica, alegadamente na sequência de um acordo secreto com o Vaticano. Neste ponto, existem diferentes versões, mas todas envolvem o pagamento de uma quantia elevada à Santa Sé em troca de um lugar na zona da basílica Sant’Apollinare reservada aos cardeais — uns defendem que De Pedis teria feito um empréstimo ao Vaticano, mas outros acreditam que o mafioso estava apenas a garantir que o seu túmulo não era vandalizado por um gangue rival.

O alegado envolvimento de De Pedis no desaparecimento da jovem de 15 anos foi confirmado em 2008 pela noiva do chefe da Banda della Magliana. Sabrina Minardi revelou que Orlandi tinha sido raptada e assassinada por “Renatino” por ordem de um membro da Igreja Católica. Nesta versão dos factos, o mandante não seria Poletti, mas o arcebispo Paul Marcinkus, ex-presidente do Banco do Vaticano, que pretendia calar o pai da rapariga. Ercule Orlandi teria, sem querer, visto documentos que comprometiam Marcinkus.

Segundo Minardi, Orlandi estava soterrada por debaixo dos alicerces de uma casa em Roma. As autoridades italianas chegaram a realizar buscas na residência apontada pela noive de De Pedis, mas depressa descobriram que esta tinha sido construída no ano a seguir ao desaparecimento da jovem. Em 2012, foi aberto o túmulo do mafioso. Além dos seus restos mortais, foram encontradas centenas de ossos, datáveis do século XVIII, que tiveram de ser arquivados em mais de 400 caixas, num processo que demorou vários dias.

Caso os testes realizados às ossadas descobertas esta semana confirmem a identidade de Emanuela Orlandi, isto poderá significar que Sabrina Minardi não mentiu e que, em 2008, a polícia esteve muito perto de descobrir o paradeiro de Orlandi. O único problema é que a procurou no lugar errado.