Editado – Corrigido às 15h59 com retificação relativa ao concerto Live Aid. A atuação serviu para angariar fundos para as vítimas da fome em África, nomeadamente na Etiópia, e não para angariar fundos para as vítimas da Sida. Pelo lapso, as nossas desculpas

Está a ser um sucesso retumbante junto do público. Em vendas de bilhetes e assistência, “Bohemian Rhapsody”, o filme sobre os Queen realizado por Bryan Singer que chegou às salas de cinema de todo o mundo na passada sexta-feira, teve uma receita de 50 milhões de dólares (perto de 43.5 milhões de euros).

Os números sugerem que este foi um início em sprint de uma maratona que poderá tornar o filme um dos mais vistos dos últimos anos e um candidato a vencer um Óscar de melhor ator pela interpretação que Rami Malek faz do vocalista da banda, Freddie Mercury. Porém, também houve percalços neste sprint inicial: a crítica, tirando algumas exceções, arrasou o filme e agora até os factos narrados em “Bohemian Rhapsody” estão a ser colocados em dúvida.

É verdade que, em filmes ficcionais inspirados em biografias, é habitual que se tomem liberdades de interpretação dos feitos e episódios da vida das personalidades retratadas. O problema é outro: “Bohemian Rhapsody” vai mais longe e adultera alguns factos da vida de Freddie Mercury e do percurso dos Queen, para melhorar a narrativa.

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Entre as imprecisões históricas já relatadas no site Screen Rant, uma das quais merecedora de um fact check do site noticioso TheWrap, destacam-se duas. Uma passa pelas ambições a solo de Freddie Mercury. No filme, o vocalista é seduzido pelo manager a lançar-se a solo e, ao fazê-lo, começam as divergências entre elementos da banda, incomodados com a decisão de um membro dos Queen gravar um trabalho paralelo à banda.

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Brian May e Roger Taylor, os restantes membros dos Queen que reviram e deram aval ao guião, poderão ter tido a tentação de fazer da ambição desmedida de um manager e da ambição da grande estrela da banda em ter um percurso a solo os motivos para as divergências. A verdade, porém, é que ao contrário do que o filme sugere, Freddie Mercury não foi sequer o primeiro membro da banda a lançar-se a solo: antes de editar o seu primeiro disco, em 1985, já o baterista Roger Taylor tinha lançado dois discos paralelos ao grupo, Fun in Space e Strange Frontier. Das ambições de Roger Taylor e do início do seu percurso a solo, contudo, nem sequer se ouve falar em “Bohemian Rapsody”.

A outra imprecisão histórica passa pela atuação dos Queen no Live Aid, concerto de solidariedade com vítimas da fome em África, nomeadamente na Etiópia, em 1985. No filme, Freddie Mercury é diagnosticado com o vírus do HIV antes do concerto, criando-se um dramático clímax em “Bohemian Rapsody” com a atuação da banda no concerto de solidariedade. Na verdade, segundo todos os relatos oficiais de Mercury e da banda, não há registo de que Mercury tenha sido diagnosticado com a doença antes de 1987, dois anos depois do grande concerto em que estiveram outras estrelas, como Bob Dylan, Madonna, Mick Jagger e Eric Clapton.

Para alguns analistas e críticos, todas as imprecisões históricas apontam na mesma direção: o filme tenta elevar a importância da banda e o génio de Freddie Mercury, imputando-lhe contudo uma maior quota parte de responsabilidades pelas divergências no seio dos Queen do que a que na verdade teve. Roger Taylor e Brian May, os parceiros de Mercury nos Queen que deram aval ao argumento, saem naturalmente mais ilesos de falhas.

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