Foi o ano passado que surgiu a primeira pista de que a Volkswagen estaria a preparar uma verdadeira revolução nos eléctricos, não só por estar a trabalhar numa gama bastante alargada de modelos, mas sobretudo pelo preço com que tencionava introduzir no mercado o primeiro da sua nova família de eléctricos, com um responsável da marca a antecipar que o I.D. Neo seria comercializado ao preço de um Golf diesel.
O Observador teve oportunidade de confirmar isso mesmo junto do construtor alemão, com as nossas estimativas a apontarem para um valor algures entre os 25.000€ e os 28.000€, o que vai ‘obrigar’ a concorrência a rever os valores das suas propostas eléctricas. A concorrência e a própria Volkswagen, com a primeira indicação disso a surgir da Alemanha, onde o preço do pequeno e-up! baixa perto de 4.000€, caminho que será seguido por outros mercados, incluindo Portugal, para onde está prometida uma “descida significativa” do preço do citadino eléctrico.
Juntando todas estas peças soltas, parece que vamos construir um puzzle de preços baixos. E porquê? Porque a Volkswagen ainda tenta esconder o jogo, mas a Bloomberg tirou uma cartada da manga ao ter acesso a fontes internas do construtor de Wolfsburg, segundo as quais a marca pretende lançar a partir de 2020 um crossover eléctrico do segmento B (de comprimento similar ao do novo T-Cross, ou seja 4 metros), que será proposto nos Estados Unidos da América por 21 mil dólares. A conversão, ao câmbio actual, dá qualquer coisa como 18.510€! Um preço de arromba, mesmo que lhe somemos mais 1.500€ devido à mais gravosa carga fiscal na Europa, se considerarmos que o eléctrico mais barato entre nós, o Volkswagen e-up!, custa actualmente cerca de 28.000€.
Esta pretensão vai ao encontro da promessa feita pelo CEO da Volkswagen, pois recentemente Herbert Diess afirmou que, em 2020, o fabricante alemão vai oferecer “veículos tão bons quanto os Tesla, mas a metade do preço”. Contudo, para que tal venha mesmo a acontecer será necessário ter luz verde por parte do conselho de supervisão, que reunirá no próximo dia 16 de Novembro. Em cima da mesa estarão a revisão da produção e os planos de investimento para os próximos anos.
Como é que a Volkswagen vai deitar os preços abaixo?
Primeiro, convém ter presente que a produção de um veículo eléctrico é muito menos complexa do que a de um modelo equivalente, mas com motor de combustão. E se a Tesla tem “patinado” no fabrico do Model 3 por ser inexperiente na produção em grande volume, à Volkswagen – cujo grupo a que dá nome é o maior construtor mundial de automóveis – experiência é coisa que não falta. Daí que, as fontes citadas pela Bloomberg estimem que a produção de um eléctrico tipo I.D. Neo se processe em metade do tempo daquele que seria necessário para fabricar um Golf.
À economia de tempo a marca tenciona somar a economia de escala. A ponto de prever vendas anuais para o tal SUV subcompacto eléctrico na ordem das 200 mil unidades/ano. O crossover equivalente ao T-Cross, mas assente na plataforma MEB, deverá sair da linha de montagem de Emden. Assim se garante alguma ‘tranquilidade’ aos sindicatos dos trabalhadores, que ocupam metade dos assentos do conselho de supervisão – logo podem caucionar os planos da marca – e que estarão preocupados com as paragens que essa unidade produtiva tem vindo a enfrentar, pois é de lá que sai o Passat (berlina e carrinha), cuja procura tem diminuído devido à crescente preferência dos consumidores por SUV. De Emden sairá ainda o I.D. Aero, que será proposto em duas variantes, sedan e carrinha, prevendo-se mais 100 unidades/ano à conta deste “Passat eléctrico”.
Ao mesmo tempo que protege postos de trabalho (na Alemanha), a Volkswagen estará a equacionar rentabilizar ainda mais a plataforma que desenvolveu especificamente para os seus futuros eléctricos, compartilhando-a com a Ford. Foi o próprio Herbert Diess quem admitiu essa possibilidade – o que, a acontecer, baixaria grandemente os custos de produção. Em contrapartida, o Pão de Forma eléctrico antecipado pelo protótipo I.D. Buzz poderá vir a ser produzido na Turquia, numa fábrica da Ford, na versão com motor de combustão, obviamente com gastos inferiores em mão-de-obra.
Para garantir que vai poupar milhares de milhões, a produção vai ser reformulada. Internamente, esse plano dá pelo nome de Polaris e supõe não só uma maior cooperação e sinergias entre as 12 marcas que compõem o conglomerado germânico, como também um corte em tudo o que não interessa – entenda-se, modelos com fraco volume de vendas e opcionais, em termos de cores e acabamentos, cujas margens não compensem o investimento adicional que é necessário fazer para garantir esse extra ao cliente.