O artista britânico Damien Hirst recriou uma “Jornada Milagrosa” no exterior do hospital de Sidra, no Qatar. Ao todo, foram instaladas a céu aberto 14 esculturas de bronze gigantes que representam a viagem desde a conceção até ao nascimento, mostrando, para quem passa no hospital dedicado à saúde da mulher e da criança, esculturas das várias fases da gravidez, desde o feto a crescer no útero até um recém-nascido de 14 metros. No entanto, as esculturas não agradaram a todos pela nudez que incluíam.

Segundo o The Guardian, a obra foi inicialmente apresentada em outubro de 2013, mas manteve-se escondida do público até às últimas semanas. E há duas versões: a versão oficial diz que foi necessário proteger as obras do trabalho de construção que estaria a decorrer no hospital — que custou cerca de oito mil milhões de euros –, mas há também quem afirme que as esculturas foram escondidas depois das várias críticas que se seguiram nas redes sociais.

“Penso que as diferenças culturais são um pouco difíceis. Em Inglaterra não haveria nenhum problema com um bebé nu. Culturalmente, sabemos que é a primeira escultura nua no Médio Oriente”, referiu Damien Hirst ao Doha News, dando resposta também às críticas.

Já Layla Ibrahim Bacha, especialista em arte da Fundação do Qatar — que detém a maior parte das obras de arte no país — afirmou que não se espera que as esculturas sejam aceites por todos: “Não estamos à espera que todos gostem delas. Não estamos à espera que todos as percebam”, afirmou. E acrescentou, citada pelo jornal britânico: “É por isso que elas estão lá, para realmente criar esse elemento de debate, esse elemento de pensamento”.

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O artista britânico Damien Hirst recriou uma “Jornada Milagrosa” à porta do hospital de Sidra, no Qatar.

O conjunto de esculturas faz parte de uma coleção de arte contemporânea que foi instalada no hospital de Sidra, que já conta com 65 peças, incluindo uma instalação de néon chamada “Eu ouço o oceano e tudo o que ouço és tu”, de Tracey Emin, uma das contemporâneos britânicas mais inovadoras.

Na altura da apresentação da “Jornada Milagrosa” — que foi encomendada por Sheikha al Mayassa Hamad bin Khalifa al-Thani, a presidente da Autoridade dos Museus do Qatar –, foi organizada uma leitura do Alcorão sobre a formação da vida, num esforço para controlar as críticas. “Ter algo como isto é menos desafiante do que ter muita nudez”, disse Sheikha al Mayassa Hamad bin Khalifa al-Thani, abordando esse verso do Alcorão: “Não é nada contra a nossa cultura ou religião”. Damien Hirst, por sua vez, considerou que foi “muito corajoso” o facto de Sheikha Mayassa ter “aceite tudo isto”.