O presidente do conselho de administração do grupo Nissan Renault, Carlos Ghosn, foi detido no âmbito de uma investigação das autoridades japonesas por alegada fraude fiscal, anunciou líder da empresa automóvel, Hiroto Saikawa, em conferência de imprensa. A detenção de Ghosn e de outro executivo da empresa concretizou-se esta segunda-feira, após uma denúncia que levou a empresa a iniciar uma investigação interna há vários meses por suspeita de “más práticas”.

De acordo com vários meios de comunicação japoneses, os procuradores locais já fizeram buscas nos escritórios de Ghosn na sede da empresa em Tóquio e em mais locais. Em causa estará o uso indevido de dinheiro e de rescursos da companhia para fins pessoais e falhas na declaração de rendimentos de Carlos Ghosn ao fisco japonês. De acordo com estimativas avançadas hoje, o valor de rendimentos não declarados soma cerca de 44 milhões de dólares (cerca de 38,5 milhões de euros) desde 2011, mas esses números ainda não foram confirmados oficialmente.

Em conferência de imprensa esta segunda-feira, e já depois de serem divulgadas as primeiras notícias, Hiroto Saikawa voltou a lamentar a situação envolvendo um dos seus principais executivos e admitiu que as más práticas já ocorressem “por um longo período”.

“Sinto-me desiludido, indignado e magoado. E à medida que formos divulgando mais detalhes sobre o caso, estou certo de que as pessoas irão sentir o mesmo que eu”, confessou o presidente-executivo da Nissan.

Na sequência destas investigações, o grupo automóvel pondera a destituição do executivo dos cargos de chairman e da direção executiva da Renault. A própria empresa confirmou entretanto que já estava a investigar as suspeitas de más práticas do seu gestor há alguns meses, depois de uma denúncia ter alertado a empresa e, posteriormente, as autoridades, para a “má conduta” de Carlos Ghosn e de quem trabalhava mais de perto com o executivo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Nissan emitiu logo um comunicado a pedir desculpa por estes incidentes e no qual acusa o executivo e o seu representante, Greg Kelly, de “grave má conduta”. A empresa diz mesmo que os dois homens, durante anos, declararam valores inferiores dos salários recebidos por Ghosn, a que se juntam vários outros atos de má conduta, entre os quais destacam o uso indevido de recursos da companhia para fins pessoais.

De melhor do mundo a suspeito de fraude

Carlos Ghosn, de nacionalidade brasileira, francesa e libanesa, é conhecido no meio empresarial como um gestor carismático, com um estilo feroz e altamente eficiente, em especial na redução de custos, métodos que o ajudaram a dar a volta a um grupo automóvel em queda. Algo que também conseguiu à custa de de milhares de despedimentos e fecho de fábricas no Japão e na Europa.

Apesar de controverso e impopular, esse estilo não só o fez ganhar distinções e títulos de melhor executivo do mundo, como o rotulou como absolutamente “indispensável” na gestão do grupo – conseguiu mesmo o que muitos acharam ser impossível: gerir duas grandes empresas, Nissan e Renault, a partir de dois pontos diferentes do planeta. Quando a aliança das duas marcas automóveis voltou a ter lucro, a reputação de Ghosn ganhou uma nova aura: um em cada nove carros vendidos no mundo inteiro têm o carimbo da empresa, a sexta maior fabricante automóvel do mundo.

Esta investigação, contudo, está a causar ondas de choque e indignação na indústria automóvel mas também a gerar um forte impacto negativo na própria empresa. Desde o início na manhã desta segunda-feira, as ações da Renault já caíram mais de 6%, atingindo o valor mais baixo dos últimos três anos.

A maior preocupação do líder da empresa, conforme referiu Saikawa na mesma conferência de impresa, é tentar “estabilizar a situação e normalizar as operações e o trabalho diário”, tanto para os funcionáros do grupo como para os seus parceiros.

Estado francês quer garantir estabilidade da aliança Renault-Nissan após suspeitas de fraude