No início desta terça-feira, os adeptos portugueses de futebol tinham a esperança de terminar o dia com duas alegrias: o apuramento da seleção sub-21 para o Campeonato da Europa de 2019 e a vitória da seleção A no último jogo na fase de grupos da Liga das Nações, com o acréscimo de ser a única equipa a terminar esta fase sem qualquer derrota. Tanto num como noutro caso, o adversário era a Polónia.

O golo de Jota na primeira mão do playoff de apuramento trazia confiança e fazia acreditar na possibilidade de o jovem plantel orientado por Rui Jorge carimbar o bilhete de ida o Europeu de Itália e San Marino: afinal, bastava ao empate. Ao intervalo, três golos dos polacos tornavam difícil a qualificação e a segunda parte só trouxe um golo solitário e insuficiente do mesmo Jota que tinha decidido o primeiro jogo da eliminatória. Gedson Fernandes, João Félix, André Horta e Rafael Leão não vão ao Europeu e aos portugueses, no final do jogo, só restava acreditar que a seleção dos crescidos iria vingar os miúdos na partida da Liga das Nações.

Estava tudo decidido. Portugal vai jogar a final four no Porto e em Guimarães em junho de 2019 e a Polónia vai cair para a Liga B da competição. Contudo, o resultado do encontro desta noite poderia ter consequências extra Grupo 3: em caso de empate (ou de vitória dos polacos), a Alemanha deixava de ser cabeça de série para o Euro 2020, em benefício da Polónia, que ficava com os mesmos pontos que os alemães no que à Liga das Nações diz respeito, mas tinha vantagem em relação à diferença de golos.

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Ficha de jogo

Portugal-Polónia, 1-1

6.ª jornada do Grupo 3 da Liga A da Liga das Nações

Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães

Árbitro: Sergei Karasev (Rússia)

Portugal: Beto, João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Kevin Rodrigues, Renato Sanches, Danilo, William Carvalho, Raphael Guerreiro (João Mário, 60′), Rafa (Bruma, 69′), André Silva (Éder, 86′)

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, Cláudio Ramos, Luís Neto, José Fonte, Bruno Fernandes, Gonçalo Guedes, Pizzi, Cédric

Selecionador: Fernando Santos

Polónia: Szczesny, Kedziora, Cionek, Bednarek, Beresznski, Klich (Goralski, 74′), Krychowiak, Grosicki (Kadzior, 77′), Zielinski (Szymanski, 94′), Frankoeski, Milik

Suplentes não utilizados: Skorupski, Fabianski, Pietrzak, Matynia, Piatek, Buksa, Olkowski, Blaszczykowski, Kaminski

Selecionador: Jerzy Brzęczek

Golos: André Silva (34′), Milik (p, 65′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bednarek (26′), a Frankowski (76′), a João Mário (90′), cartão vermelho a Danilo (62′)

Fernando Santos revolucionou o onze e fez sete alterações face à equipa titular que no passado sábado defrontou e empatou com a Itália em San Siro. Só João Cancelo, Rúben Dias, William e André Silva se mantiveram no onze, enquanto que Beto, Pepe, Kévin Rodrigues, Raphael Guerreiro, Danilo, Rafa e Renato Sanches agarravam a titularidade. Raphael Guerreiro, que chegou a estar em dúvida para este duplo compromisso com Itália e Polónia e só treinou já em Milão, tendo feito apenas trabalho condicionado durante a concentração da Seleção Nacional em Lisboa, assumiu uma posição mais avançada do que aquilo que é habitual na seleção (mas que tantas vezes desempenha no Borussia Dortmund) e deixou o lugar na lateral esquerda da defesa para Kévin Rodrigues. Pepe regressou ao eixo da defesa, ao lado de Rúben Dias, depois de ultrapassado o castigo que o afastou do jogo com a seleção italiana; William e Danilo formaram a dupla de meio-campo mais recuada, Rafa jogou mais a descair na direita do ataque e Renato Sanches atuou no apoio direto a André Silva.

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Numa primeira parte que demorou a arrancar, Renato Sanches foi o principal desequilibrador e apareceu na esquerda, na direita e em todo o lado. O médio do Bayern Munique, que se encontra em clara recuperação de forma depois do período menos bom que atravessa desde que saiu do Benfica, mostrou vontade de mexer no jogo, de criar transições e, acima de tudo, de marcar golos. Renato, que foi obrigado a crescer rápido depois de ser campeão da Europa e trocar Lisboa por Munique, continua a pensar mais com o coração do que com a razão e a embrenhar-se por caminhos mais obscuros e complicados porque só consegue ver a baliza – e não os companheiros de equipa desmarcados. Ainda assim, o médio foi o melhor elemento de Portugal nos primeiros 45 minutos e foi dos seus pés que saiu o pontapé de canto que culminaria no golo de André Silva.

Na marcação de um canto que ele próprio tinha conquistado, Renato colocou a bola tensa, apertada e próxima da linha final. André Silva, num movimento belíssimo e digno de integrar os livros de teoria do futebol, antecipou-se à defensiva polaca ao primeiro poste e cabeceou para dar a vantagem Seleção Nacional. Numa primeira parte de pouca inspiração dos dois lados, Renato Sanches e André Silva desbloquearam o resultado e deram uma vantagem justificada a Portugal que, apesar de estar a fazer pouco, estava a fazer mais do que a Polónia. Ainda antes da ida para o intervalo, o lateral Kedziora acertou na barra da baliza de Beto e Frankowski ficou na cara do guarda-redes, para uma grande defesa do guardião do Goztepe.

Portugal entrou para a segunda parte com a clara intenção de controlar o resultado e trocar a bola até os segundos 45 minutos passarem. Fernando Santos colocou João Mário no lugar de Raphael Guerreiro – numa tentativa de replicar o efeito que o médio do Inter teve no jogo com Itália – mas foi surpreendido por uma rara falha defensiva de William que mudou o curso do encontro. O médio dos espanhóis do Bétis esteve algo desconcentrado esta noite, falhou muitos passes (seis à meia hora, três deles no meio-campo defensivo português) e abordou mal um lance que deixou Milik isolado na cara de Beto. Danilo fez a dobra, derrubou o avançado polaco dentro da grande área, fez grande penalidade e viu cartão vermelho direto. Na conversão, o próprio Milik não perdeu a oportunidade.

O selecionador nacional quis mostrar que a intenção não era defender o resultado e colocou Bruma e Éder em campo para tirar Rafa e André Silva. A Polónia, com um elemento a mais, controlou e ficou por cima do jogo desde o empate e trocou a bola a seu bel prazer: Portugal, apesar das alterações de caráter teoricamente ofensivo, baixou o bloco, recuou a primeira linha de pressão e praticamente limitou-se a defender. Renato ainda tentou desequilibrar mas raramente tinha apoio, Bruma e Éder mal tocaram na bola e João Mário esteve mais preocupado em ocupar o lugar ao lado de William que era de Danilo do que em lançar-se em aventuras. Um grande remate de Zielinski de fora de área, após um bom lance de arrasto, ainda causou calafrios no banco técnico português mas Beto respondeu com (mais) uma grande defesa.

Portugal voltou a não ser brilhante tal como não tinha sido em Milão e voltou a empatar tal como tinha empatado em Milão. A Seleção Nacional foi a única equipa a terminar a fase de grupos da divisão A da Liga das Nações sem qualquer derrota mas Fernando Santos não conseguiu bater o recorde de vitórias de Luiz Felipe Scolari (os treinadores estão empatados com 25 resultados positivos em jogos oficiais). Mas, mais importante do que tudo isso, a seleção dos crescidos não conseguiu vingar a seleção dos miúdos.