Enquanto jogador, na carreira de quase 20 anos em que 13 foram passados no AC Milan e em San Siro, Gennaro Gattuso nunca foi conhecido pelo feitio fácil. Conflituoso, senhor do seu nariz, agressivo e sempre pronto para uma boa discussão dentro de campo, era um terror para os adversários mas uma mais valia para a equipa: que o diga Andrea Pirlo, que chegou a admitir que só tinha espaço para brilhar enquanto construtor de jogo porque tinha Gattuso ao lado. Agora, no papel de treinador, o antigo internacional italiano continua combativo e com poucas papas na língua – até quando é preciso responder a chefes de Estado.

Este domingo, o AC Milan visitou a Lazio naquele que era o jogo grande da 13.ª jornada da Serie A: as duas equipas estavam separadas por um ponto, em 4.º e 5.º lugar da classificação, com vantagem para o clube de Roma. Uma vitória significava para os rossoneri e para Gattuso a subida à quarta posição, a quatro pontos do terceiro classificado, o Inter Milão, e a cinco do segundo, o Nápoles – e um passo importante nas ambições em relação ao apuramento para a Liga dos Campeões da próxima época. Tudo parecia encaminhado: aos 78 minutos, um autogolo do lateral direito Wallace deu vantagem aos visitantes. Mas ao quarto e último minuto de tempo extra, Joaquin Correa fez o empate, dividiu os pontos pelas duas equipas e deixou tudo na mesma na classificação da liga italiana.

Nas bancadas do Stadio Olimpico de Roma estava um conhecido e reconhecido adepto do AC Milan: Matteo Salvini, ministro do Interior e vice-primeiro-ministro de Itália. O político, que se sentou ao lado do presidente da Lazio, não ficou agradado com o empate da equipa de Gennaro Gattuso e decidiu criticar as opções no treinador ainda nas bancadas do estádio. “Se eu fosse o Gattuso tinha feito algumas substituições, os jogadores estavam cansados, não percebo porque é que não mudou nada na segunda parte”, afirmou Salvini, em referência ao facto de o técnico italiano não ter feito qualquer substituição durante os 90 minutos de jogo.

Na conferência de imprensa após o final do jogo, confrontado com as declarações de Matteo Salvini, Gattuso não se conteve. “O Salvini está a reclamar porque eu não fiz substituições? Ouçam, eu não falo de política porque não percebo nada. Ele que pense em política, que pense em Itália, porque, com todos os problemas que temos no nosso país, se o vice-primeiro-ministro anda a falar de futebol, isso significa que estamos muito mal. E acrescentou, de forma irónica: “Este é um país inacreditável. O Salvini reclama porque eu não fiz substituições? Vamos continuar assim, então”.

Entretanto, já esta segunda-feira, Matteo Salvini reagiu à polémica e, em declarações ao La Gazzetta dello Sport, explicou que falou “enquanto adepto” mas voltou a vincar o erro do treinador ao não ter feito alterações. “O Gattuso é o melhor treinador que o o AC Milan podia ter. Mas digamos que com algumas substituições as coisas poderiam ter acabado de forma diferente. Tenho uma imensa estima pelo Gattuso enquanto jogador e enquanto treinador. Mas quando ontem, a ganhar 1-0 à Lazio, eles fizeram três substituições e colocaram três homens frescos e nós não fizemos nenhuma ainda que eles nos tenham pressionado durante 20 minutos, falei enquanto adepto”, atirou o vice-primeiro-ministro italiano.

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