A ministra da Educação timorense disse esta sexta-feira que o Governo continua a contar com Portugal para implementar uma versão reformulada, eventualmente ainda mais centrada na língua portuguesa, de um projeto de formação de professores que terminou este mês.

Dulce Soares referia-se, em declarações à Lusa, a uma nova versão do projeto Formar Mais, que envolveu 26 docentes que desde 2016 estiveram destacados em escolas em todo o território timorense envolvidos na formação de professores locais e no apoio à gestão escolar. “A avaliação [do projeto] foi muito positiva e a vontade é poder continuar o projeto no futuro. A proposta está preparada há três meses, tivemos reuniões com pessoal do [instituto] Camões e falta apenas formalizar”, explicou.

Soares referiu que esse novo projeto está previsto no Programa Estratégico de Cooperação (PEC) — a vigorar entre 2019 e 2022 — que deverá ser assinado em breve entre os dois países. “Para mim deve ser Formar Mais Português, com foco na língua portuguesa”, disse.

“Com a experiência dos formadores e dos formandos vamos tentar melhorar o projeto. Acho que muitas coisas têm que ser melhoradas, mas temos que continuar com o projeto. Do lado de Timor com ainda maior dimensão. Mas depende da negociação com Portugal”, sublinhou.

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Dulce Soares falava à Lusa à margem de um seminário em Díli que serviu para analisar o projeto, em cuja abertura destacou a importância do programa e apelou aos formandos timorenses para que deem continuidade às iniciativas começadas pelos docentes portugueses.

“Estes formadores deixaram espaços construídos e reabilitados que servem para o bem-estar de todos quantos se encontram na escola, como bibliotecas, espaços desportivos e outros”, disse. “A formação que receberam deve continuar todos os dias, para melhorar as práticas pedagógicas e continuar a falar português para não deixar que o nível de proficiência retroceda”, afirmou.

Já a adida para a cooperação da Embaixada de Portugal em Díli, Cristina Faustino, referiu que o projeto mostra o “empenho de Portugal em apoiar os esforços do Governo timorense em difundir a língua portuguesa (…) em permitir acesso à educação de qualidade, à ciência e à cultura”.

Numa análise ao projeto, a adida destacou a descentralização da formação, com os docentes portugueses a estarem destacados junto dos estabelecimentos de ensino nos municípios, permitindo ação pedagógica e de acompanhamento dos professores diariamente.

“Alunos e professores beneficiaram das melhores práticas educativas em língua portuguesa, mas com base no currículo timorense”, disse, notando como “menos positivo” o facto de, a nível do secundário, os formadores permanecerem nas escolas durante períodos curtos.

A responsável portuguesa saudou o esforço e compromisso dos formandos, muitos dos quais se deslocavam por grandes distâncias e com transportes irregulares, para participar na formação e também a “dedicação e sentido de compromisso por parte dos formadores” que trabalharam com “espírito de missão”.

O projeto Formar Mais, uma das principais iniciativas de apoio português à formação contínua de professores timorenses, arrancou em 2016 com 11 professores que desempenharão funções na componente do 3.º Ciclo do Ensino Básico e 15 nas diversas disciplinas do Ensino Secundário Geral timorense. Timor-Leste financiou cerca de 75% do custo do envio dos professores para o país.

Os docentes, que participaram em ações de formação na Universidade de Aveiro, complementadas por sessões realizadas no instituto Camões, trabalharam em Timor-Leste em articulação com o Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais da Educação (Infordepe), onde decorreu o seminário desta sexta-feira.

O Formar Mais é um projeto que resulta de uma parceria entre o Ministério da Educação de Timor-Leste, através do Infordepe, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, através do instituto Camões, e a Universidade de Aveiro.

O coordenador geral do projeto, Raimundo José Neto, destacou a sua importância no processo de formação contínua de professores que pretendeu responder a algumas das lacunas do sistema. Aspetos como carências em termos de formação profissional dos professores no ativo, respostas às exigências da carreira docente quanto a competências essenciais e a necessidade de consolidar o português e de implementar currículos em vigor, foram questões analisadas.