“Não, jamais em tempo algum. Teria de ser uma pessoa desequilibrada, esse desequilíbrio teria que estar registado nos meus 46 anos de vida e penso que os meus 46 anos de vida não deixam dúvidas para ninguém que sou uma pessoa equilibrada”, defende Bruno de Carvalho no interrogatório judicial no caso das agressões da Academia, de acordo com a investigação do Sexta às 9 da RTP que passou alguns excertos das mais de duas horas de esclarecimentos que prestou ao juiz Carlos Delca.
Nas partes conhecidas esta sexta-feira, o antigo presidente do Sporting, destituído em Assembleia Geral no dia 23 de junho, diz que foram os jornalistas a pedir para que o funcionário da entrada não fechasse as portas e destacou que algumas medidas de segurança que tinha implementado na Academia (e que pretendia alargar a outros locais do universo verde e branco, como o Multidesportivo de Alvalade e o piso 3 da SAD) tinham sido alterados a pedido do próprio Jorge Jesus.
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“O portão não é fechado porque os senhores jornalistas pediram por amor de Deus ao senhor para não fechar para eles passarem para dentro. Moral da história: quando o senhor queria fechar, já não dava para fechar”, começou por referir.“Havia duas medidas de segurança que foram desativadas no início da época sem minha autorização e sem autorização da Comissão Executiva. As tais duas portas de vidro que se vê nos frames e que tínhamos de passar um cartão para elas abrirem. A pedido de Jorge Jesus, no início da época que findou, não retirando o aparelho, desconectaram-no. Só me apercebi quando isso aconteceu e explico porquê: por norma, era o meu motorista que saía, abria a porta e entrava. Não me apercebi nunca até isto acontecer que as medidas de segurança tinham sido retiradas”, acrescentou mais tarde.
Depois, Bruno de Carvalho fez também outras revelações. Disse no interrogatório, por exemplo, que Rui Patrício e William Carvalho tinham encontros regulares à mesa com elementos da claque Juventude Leonina. Acrescentou que, na única vez em que a claque tinha ido à Academia na sua vigência como presidente, foi Jorge Jesus que autorizou a entrada. Mais importante, e numa das perguntas repetidamente feitas ao longo do processo, atribuiu ao treinador a mudança da hora do treino.
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“Para eles [presos de forma preventiva] é uma medalha, para mim foi a destruição da minha vida. O que aconteceu não faz lógica nenhuma e, sobretudo, deixe-me dizer, partir a cabeça ao goleador do Sporting quando estávamos na véspera de um jogo… O que acontecia de facto é que o Rui Patrício e o William queriam sair há muito tempo. Tenho de vos dizer que tinham almoços e jantares regulares com a Juventude Leonina. Regulares, com elementos da Juventude Leonina. Portanto, não eram nenhuns santos e inclusivamente houve uma vez que, não sei se foram ou não, que o próprio Jorge Jesus quis ir jantar com a própria Juventude Leonina. Olhe, eu tirando as festas de Natal ou aniversários das claques, nunca fui jantar com claque nenhuma. A única vez que uma claque entrou dentro da Academia foi o Jorge que os deixou entrar porque disse imediatamente que não, que não autorizava a entrada deles. E disse: ‘Jorge, você aqui não manda nada'”, disse, completando: “Dissemos que íamos fazer uma reunião de manhã com os nossos advogados para decidir aquilo que iríamos fazer. Ele quando sai da reunião está convencido de que está despedido. Quis passar o treino para a tarde porque achava que já não o ia fazer”.
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“Disse aí que o Jorge Jesus levou uma vergastada, eu estive dentro do balneário dos treinadores e digo-lhe que deve ter sido uma vergastada muito, muito levezinha porque não vi o Jorge Jesus com mazela nenhuma. Falou também da camisola do Mário Monteiro porque recebeu com uma tocha no peito. Não pode ter recebido com uma tocha no peito, nem um furinho tinha na camisola. Tirando o Bas Dost, algum foi ao hospital mostrar alguma coisa? Eu continuo a achar tudo estranho porque continuo a dizer: estava o Jorge Jesus e o William Carvalho a conversar com o Fernando Mendes e mais cinco, que são os tais que saem depois pelo BMW, o GNR estava lá dentro”, abordou ainda, a propósito das lesões provocadas pelo ataque.
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Por fim, o antigo líder verde e branco falou também de três pontos em específico em relação à ligação que mantinha com as claques do Sporting. “O tema da conversa foi 90% o ataque que eu fiz – segundo a cabeça deles – ao Fernando Barata [Fernando Mendes, antigo líder da Juve Leo]. E há uma pessoa que se lembra das tarjas… A verdade é que tinha de acabar a reunião e disse ‘Eh pá, relativamente às tarjas, façam o que quiserem’. E sabia que o ‘façam o que quiserem’ era inócuo”, disse sobre o encontro que manteve na sede da Juventude Leonina. “A única coisa que eu queria era fazer uma homenagem a um adepto que foi morto porque fazia parte da combinação para eles se acalmarem e eles fizeram aquilo. Fiquei espantado porque achei, de todo, que era apenas mera parvoíce”, explicou sobre a conversa meia hora antes do dérbi, em maio, com elementos das claques atrás na baliza do topo Sul. “Ele era isto, muito zangado… Oiça, estava completamente embriagado… Eu acho que queria muito mais ser ouvido porque o ofenderam… Continuo a dizer-lhe: acho Alcochete muito estranho. Talvez os seis telefonemas a intenção fosse só mesmo ficar registado. Se vir quem é que no final das contas quem se prejudicou…”, comentou sobre as seis chamadas feitas para si por Fernando Mendes, antigo líder da Juve Leo, na madrugada após a derrota com o Marítimo.