A Organização Mundial de Saúde (OMS) vai criar um grupo de trabalho sobre manipulação genética, indicou esta segunda-feira o diretor-geral, depois de um cientista chinês ter anunciado o nascimento dos primeiros bebés do mundo com ADN alterado.
Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que falou segunda-feira à imprensa em Genebra, na Suíça, a modificação de genes em humanos “não pode ocorrer sem diretrizes claras”.
Tedros Adhanom Ghebreyesus disse que a OMS reúne especialistas que irão trabalhar com os Estados-Membros da organização para “discutir os critérios e diretrizes que possam responder aos problemas éticos e de segurança no seio da sociedade”.
O grupo de trabalho da OMS sobre manipulação genética inclui académicos, peritos da organização e médicos, precisou, sem apontar a iniciativa como uma resposta direta à experiência chinesa.
“Temos de ser muito prudentes (…). Não nos devemos comprometer com a manipulação genética sem ter em conta as consequências não desejadas”, sublinhou o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde.
O cientista chinês He Jiankui anunciou, num vídeo difundido na semana passada no YouTube, o nascimento de duas gémeas cujo material genético foi modificado, na fase embrionária, para as tornar resistentes ao vírus da sida. O pai das bebés estava infetado com o VIH.
A experiência, cujos resultados não foram confirmados por pares nem publicados em revistas científicas, foi condenada pela comunidade científica chinesa e internacional.
O Governo chinês e a universidade onde trabalha o investigador anunciaram a abertura de uma investigação ao caso, condenado, numa posição esta segunda-feira divulgada, pelo Conselho de Ética para as Ciências da Vida de Portugal, que classificou a experiência como eticamente inaceitável, moralmente irresponsável e que implica riscos imprevisíveis.
As manipulações do genoma (informação genética) humano do género da anunciada pelo cientista chinês estão proibidas nos países que subscreveram em 2010 a Convenção Nacional dos Direitos do Homem e da Biomedicina do Conselho da Europa, entre os quais Portugal.
O Conselho de Ética português considera que, ainda assim, deve “reforçar-se a necessidade de se desenvolverem esforços adicionais de regulação científica e bioética” a nível internacional para “salvaguardar situações similares” no futuro.