Armando Vara, ex-secretário de Estado da Administração Interna e ex-ministro da Juventude e Desporto, acusou o juiz Carlos Alexandre de lhe ter pedido ajuda para chegar à direção do SIS (Serviços de Informação de Segurança). Como negou está a ser vítima de “vingança” no âmbito do processo Face Oculta: “Como é que teria sido a minha vida durante estes 10 anos se não tivesse aceitado uma ajuda que o juiz Carlos Alexandre tinha solicitado?“, disse o ex-ministro socialista condenado a cinco anos de prisão efetiva.

Em entrevista à TVI, Armando Vara, sugeriu que Carlos Alexandre lhe pediu ajuda a ele a Miguel Macedo — ex-ministro da Administração Interna — para chegar à direção do SIS, os serviços secretos portugueses. O ex-ministro, considerado um homem próximo de José Sócrates, não indicou em que qualidade é que essa ajuda lhe foi solicitada, mas afirmou não ter acedido ao pedido. “O processo Vistos Gold e o processo Marquês têm a ver com isso”, afirmou.

Armando Vara. “Ando a cumprir pena há anos. Estou pronto para me apresentar quando quiserem”

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Questionado pelo jornalista sobre de que natureza seria o pedido do juiz, Armando Vara só acrescentou: “Eu lembro-me uma vez aqui na TVI, ainda o Professor Marcelo era comentador e a sua colega Judite estava no seu lugar, o programa começar com a Judite a perguntar ao Professor: ‘Diga-me lá, não acha estranho o que agora andam aí a dizer, de que o governo se anda a preparar para nomear o juiz Carlos Alexandre como diretor do SIS?’. Fale com ela para saber porque é que fez essa pergunta“.

Armando Vara diz que se vai apresentar às autoridades “voluntariamente”

O ex-ministro, que foi condenado por três crimes de tráfico de influência — uma decisão que transita em julgado na terça-feira –, diz que se vai apresentar às autoridades voluntariamente: “Amanhã transita em julgado a decisão e deixa de haver possibilidade de recurso. A partir de amanhã ainda há um processo até ao momento em que se decide a sentença. Vai descer à Relação, vai descer à Primeira Instância e eu vou voluntariamente. Não precisam de me ir buscar. Basta que me digam que tenho até dia tal para me apresentar e eu vou lá“.

A defesa de Armando Vara confirmou ao Observador que não vai colocar um incidente processual que impeça o trânsito em julgado da decisão, agendada para esta terça-feira. O advogado Tiago Rodrigues Bastos declarou: “O meu cliente teve a hombridade de não me pedir que praticasse qualquer ato processual dilatório ou em que não acreditasse. Melhor, proibiu-me de o fazer”.

Contactado pelo Observador, o ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo não fez qualquer comentários às declarações de Armando Vara à TVI, afirmando que ainda não viu a entrevista. Também não quis responder à pergunta sobre se Carlos Alexandre lhe pediu ou não ajuda para chegar ao cargo de diretor do SIS.

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Ex-ministro insiste que está inocente

Armando Vara sublinhou que a acusação foi “absurda”: “A opinião publicada sempre me condenou. Aquela ideia de que a justiça tem de ser exemplar é uma ideia peregrina porque a justiça tem é que ser justa. Isto foi sempre uma perseguição a que se juntou o juiz Carlos Alexandre, no caso Face Oculta. E manteve-se, a meu ver, no processo Marquês. Estou hoje convencido que a forma como o juiz Carlos Alexandre chamou a si os dois processos — Marquês e Vistos Gold — tem a ver com essa lógica de vingança”.

O ex-ministro afirmou que foi “condenado sem provas, uma aberração, provas zero”: “Não há uma prova que recebi 25 mil euros e prendas. A polícia foi a minha casa e não encontrou nada em lado nenhum”. “Há um parecer do Tribunal Constitucional, assinado pelo atual presidente do Tribunal Constitucional, que diz que mesmo que eu tivesse praticado todos os atos de que tinha vindo a ser acusado, nenhum era crime. Não estamos a falar de um jurista qualquer. Estamos a falar de um dos mais ilustres do país, hoje presidente do Tribunal Constitucional”, sublinhou.

Vara acusou os juízes do processo de se “deixaram influenciar pela máquina de propaganda do Ministério Público e por toda a pressão dos órgãos de comunicação social”, e de ter seguido “uma agenda política que, no limite, põe em causa a democracia”.E insistiu que a filha, que também esteve envolvida no processo, também está inocente: “Ela não tem culpa nenhuma do que se passou. Limitou-se a confiar no pai. Ela só foi usada porque isso representava uma enorme chantagem e uma enorme pressão sobre mim”. Questionado sobre de onde vinha essa pressão, Armando Vara esclareceu: “Do Ministério Público. E do senhor juíz”.