Na primeira vez que estiveram juntos no Village Underground Lisboa (VUL), em Alcântara, os jovens inseridos no projeto social Acorde Maior — na sua maioria carenciados, menores de idade e residentes em bairros lisboetas como o Zambujal, Cova da Moura e Serafina — contaram ao Observador como foi a experiência de aprender com formadores habituados a ensinar através da música e do som.

Mingo, o mais velho, disse que ficava “um pouco mais animado e mais aliviado com algumas coisas”. Mayra, de 20 anos, disse que estava satisfeita por ter encontrado “pessoas angolanas e pessoal que dança” no grupo e mostrou-se fascinada com uma pequena máquina chamada loopstation, muitas vezes utilizada no hip-hop que gosta de ouvir e dançar. João, de oito anos, camisola do Benfica vestida, pegou numa bola assim que chegava a hora de fazer um intervalo, aproveitando para explorar o espaço (grande e visualmente rico), para felicidade dos formadores Duarte Cardoso, Joana Araújo e Teresa Campos.

Durante cinco dias, em abril, quase três dezenas de jovens tiveram aulas informais para estimular a criação de palavras, sons e movimentos e para fortalecer dinâmicas relacionais de grupo. Depois dessas férias da Páscoa diferentes, voltaram a juntar-se em junho, nas férias de verão, para aprendizagens novas.

Este mês juntaram-se de novo: além de cinco dias no Village Underground Lisboa, vão encerrar a terceira edição (última deste ano e última para este grupo de jovens) do projeto de cariz social do espaço de coworking lisboeta com uma performance natalícia e coletiva, aberta ao público e agendada para a próxima sexta-feira, 21 de dezembro, às 18h. A atuação acontecerá na Casa do Impacto, localizada na Travessa de São Pedro (perto do miradouro de São Pedro de Alcântara), em Lisboa. Os agora 30 jovens estarão acompanhados por cinco elementos da Orquestra Geração, que tenta combater o insucesso e abandono escolar através do ensino de música.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://www.facebook.com/villageundergroundlisboa/videos/750980125108509/

O objetivo é criar arte que represente os jovens inseridos no projeto Acorde Maior, com que eles se identifiquem. Ou, como formulou em abril a professora Joana Araújo, que as crianças, adolescentes e jovens adultos que tiveram aulas num espaço a que “se calhar nunca teriam vindo” de outro modo (palavra da criadora do VUL, Mariana Duarte Silva) “sintam que o que construíram aqui veio deles, diz-lhes alguma coisa”.

Além dos formadores, os jovens contactaram com artistas (de várias disciplinas, da música à representação e trabalho audiovisual) residentes no Village Underground Lisboa, como Pedro Coquenão (Batida), Vera Machaz (OFFicina), Manuela Paulo (dança e representação ) e a equipa Flawless Dreams.

Se tudo tiver corrido como os formadores esperavam em abril, terá sido possível “estimular-lhes a criatividade para serem pessoas atentas e despertas, curiosas, que são capazes de olhar para uma pedra e ver a forma, a cor, a textura, o som. Abrir-lhes os olhos e os ouvidos e misturá-los, porque queremos que eles se conheçam uns aos outros”. A comprovar já na próxima sexta-feira, junto ao miradouro de São Pedro de Alcântara.

[A reportagem fotográfica da primeira edição deste projeto de cariz social, no Village Underground, em Lisboa:]

14 fotos