Vítor Sousa está ao lado de uma moto4 coberta de lama. Encontra-se na Rua de Santo Sabino, no concelho de Valongo — o ponto limite até onde os jornalistas podem ir. Na mão segura uma mochila e do interior retira uma peça amarela que exibe aos jornalistas. É um destroço do helicóptero do INEM que se despenhou na Serra de Santa Justa, naquele concelho, ao final da tarde de sábado. Vítor garante ao Observador que a encontrou a cerca de 800 metros do local do acidente. Só não diz se a vai devolver.
Vítor falou ao Observador depois de ter percorrido de moto4, com o amigo Paulo Pereira, a zona onde a aeronave se despenhou provocando a morte aos quatro tripulantes: o comandante, o copiloto, um médico e uma enfermeira. É frequente ele e o amigo escolherem aquela zona para andar de moto4 e nem o desastre ali registado os afastou da rotina. Naturais de Alfena, uma cidade do concelho de Valongo, os dois amigos conhecem bem aquela região. Este domingo voltaram lá, como hábito que têm, mas com uma curiosidade acrescida: assistir às operações de resgate que ali decorriam.
Apesar de haver um perímetro de segurança montado, os dois colegas conseguiram aproximar-se. De regresso à Rua de Santo Sabino, contaram que os destroços estão mais ou menos confinados a uma área, embora tivessem encontrado aquele numa zona mais afastada. Descreveram também que a vegetação no local do acidente continua verde, contradizendo assim os relatos do dia anterior que garantem ter ouvido o som do que lhes pareceu ter sido uma explosão. E reforçando a tese, já avançada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF), de que a aeronave possa ter chocado contra uma antena.
Ainda na rua da Santo Sabino, mesmo no início, há uma carrinha da PSP a impedir a passagem. Mas há, mesmo assim, quem consiga passar. E não são só Vítor e Paulo. Várias pessoas atravessam o perímetro de segurança a pé, de bicicleta, de mota ou em jipes. Os jornalistas só passam quando decorrem os pontos de situação da Proteção Civil — o último não teve sequer direito a perguntas por parte da comunicação social. Enquanto no primeiro, pela 1h00 de domingo, a Proteção Civil queixou-se de só ter recebido o alerta quase duas horas depois do último sinal da aeronave do INEM, no radar do Porto. Nesses briefings, os jornalistas sobem até ao local onde está montado o posto de comando, perto de uma igreja. Por lá também vão passando alguns curiosos em busca de informações sobre o acidente.
As operações já foram, entretanto, dadas como concluídas depois de os dois corpos que faltavam terem sido resgatados. Esta manhã de domingo já tinham sido resgatados dois cadáveres. As vítimas mortais são dois pilotos, um médico e uma enfermeira que regressavam do Porto para a base aérea de Macedo de Cavaleiros.
Está ainda por saber se a tal explosão aconteceu ou não. São vários os testemunhos que garantem ter ouvido um barulho semelhante ao de uma explosão, seguindo-se um clarão, logo após esse som. Entretanto, o GPIAAF que está a investigar o acidente em comunicado que o acidente com o helicóptero do INEM em Valongo terá resultado “da colisão com uma antena emissora existente na zona”. De acordo com um comunicado emitido, a “avaliação preliminar dos destroços que foi possível realizar até ao momento, indica que a queda da aeronave aconteceu na sequência da colisão com uma antena emissora existente na zona”. Um desses destroços poderá nunca ser encontrado, a menos que Vítor o entregue.