O Banco de Portugal cortou as previsões para o crescimento da economia em 2018, passando de 2,3% (que são previstos pelo Governo no Orçamento do Estado) para 2,1%. A principal justificação para a mexida é o crescimento menor das exportações num período que só vai até setembro, ou seja, não reflete ainda as dificuldades recentes relacionadas com a greve dos estivadores. E as novas projeções do Banco de Portugal antecipam um crescimento mais fraco do que as expectativas do Governo não só relativamente a 2018 mas, também, ao ano que está prestes a começar: 2019.
Vêm aí quatro anos consecutivos de desaceleração na economia portuguesa, antecipa o Boletim Económico divulgado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal, que inclui as primeiras previsões para 2021. Além do crescimento de 2,1% em 2018, o relatório aponta para uma expansão da economia em 2019 que não irá além de 1,8% (tal como prevê o FMI). Em contraste, o Orçamento do Estado aprovado para o próximo ano estima um crescimento de 2,2% — e partindo de uma base mais elevada (a previsão mais otimista que o Governo tem também para 2018), o que, caso o Banco de Portugal venha a ter razão, poderá complicar a obtenção das metas do défice previstas no Orçamento.
Depois dos 1,8% de 2019, a economia portuguesa deverá crescer 1,7% em 2020 e 1,6% em 2021, marcando, então, quatro anos consecutivos de abrandamento depois dos 2,8% de 2017. Nas palavras do Banco de Portugal, esta será uma “fase de maturação do ciclo económico” em Portugal: ou seja, vão manter-se taxas de crescimento positivas, mas a níveis progressivamente menores. Um dos fatores que vão levar a esse crescimento mais baixo, explica o Banco de Portugal, é o “contributo progressivamente menor das exportações em termos líquidos de conteúdos importados”, designadamente a exportação daquilo que as refinarias produzem a partir do petróleo que importam.
A boa notícia, porém, é que os economistas do Banco de Portugal consideram que este será um crescimento mais “sustentável” do que dantes, por ser baseado menos no consumo privado e mais no aumento do peso das exportações e do investimento empresarial no Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa do Banco de Portugal é que o investimento empresarial deverá, nos próximos anos, voltar a superar os níveis de antes da crise. Mais do que o investimento público, o investimento empresarial deverá ganhar cada vez mais dinamismo, beneficiando de condições de procura e financiamento favoráveis e, por outro lado, de construção de algumas grandes infraestruturas.
Já no que diz respeito ao investimento público, o Governo previu, em 2017, um aumento de cerca de 40% para 2018 — mas essa previsão acabaria por não ser cumprida, contribuindo para que as previsões macroeconómicas do Banco de Portugal em 2018 não se confirmassem. Desta feita, no primeiro boletim trimestral divulgado pelo Banco de Portugal após a aprovação do Orçamento do Estado para 2019, a instituição liderada por Carlos Costa considera mais realistas as previsões de um aumento na ordem dos 17% no investimento público no próximo ano.
O facto de o Estado ter travado no investimento público em 2018 contribuiu para que o investimento na economia portuguesa, como um todo, tenha derrapado de um crescimento de 9,2% em 2017 para 3,9% em 2018. Como se vê no gráfico acima, elaborado pelo Banco de Portugal, será o investimento das empresas (mais do que o investimento em habitação e o investimento público) a fazer com que esta rubrica volte a acelerar em 2019: para 6,6%.
Por sua vez, nas exportações, depois do desempenho excecional em 2017 (7,8%), a tendência é para um abrandamento para níveis entre 3,5% e 4% nos próximos anos, entre 2018 e 2021. O Banco de Portugal salienta que na segunda metade de 2018 já foi detetável um abrandamento que aproximou o crescimento das exportações daquela que é a taxa de crescimento económico no mundo, o que traduz uma maior dificuldade das empresas portuguesas a ganharem quota de mercado (no turismo, a tendência continua a ser mais positiva). Em 2018, as exportações contribuem com 0,9 pontos percentuais para o crescimento (de 2,1%) previsto, ou seja, quase metade da criação de riqueza.
O período de recuperação que se seguiu a 2013 caracterizou-se pela continuação do aumento do peso das exportações no PIB. O peso do consumo privado no PIB manteve-se relativamente inalterado neste período. As atuais projeções têm subjacente a continuação destas tendências, consistentes com um perfil de crescimento sustentável da economia portuguesa”, afirma o Banco de Portugal.
Mas é aqui que entram os riscos, sobretudo de natureza externa, que o Banco de Portugal elenca nas suas previsões. O principal risco está ligado ao protecionismo e às medidas que penalizam o comércio internacional. “O aumento das tarifas sobre as importações dos EUA, em particular sobre as oriundas da China, e respetivas medidas de retaliação, estarão a afetar negativamente os fluxos de comércio entre estes dois países”, refere o Banco de Portugal. Para já, “as medidas aplicadas apenas cobrem uma parte pouco significativa do comércio mundial” e “os efeitos na confiança dos agentes económicos foram contidos”. Mas “a incerteza quanto ao enquadramento futuro do comércio internacional, associada a um potencial aumento do protecionismo e também à saída do Reino Unido da UE, poderá traduzir-se num adiamento de decisões de investimento com implicações adicionais no comércio dada a relação próxima entre estes dois fluxos”, avisa o organismo.
Turismo vai continuar a suportar a economia. Mas há riscos
Esse é um dos riscos para o turismo, um fator que o Banco de Portugal decidiu destacar neste boletim económico, desde logo porque a previsão da instituição é que o peso das exportações em turismo no PIB supere os 9% (em 2017 já era de 7%). A expansão tem sido acompanhada por uma “distribuição geográfica mais abrangente”, destaca o Banco de Portugal: cada vez menos o turismo depende da sazonalidade do “sol e praia” e passa a incluir um turismo urbano não só em Lisboa mas, também, no norte.
Regiões como o Algarve e a Madeira têm vindo a perder importância relativa, nos últimos anos, beneficiando não só a área metropolitana de Lisboa como, também, a zona norte. O Banco de Portugal defende que, para reduzir ainda mais a sazonalidade deve haver uma aposta no turismo de negócios — que representava cerca de 8% do total do turismo em 2016 (por comparação com 15% na média mundial). “Eventos desta natureza (congressos, feiras, reuniões, etc.) tendem a concentrar-se nos meses de primavera e outono” e, além disso, a despesa média diária neste tipo de turismo tende a ser mais elevada”, sublinha o Banco de Portugal.
O Banco de Portugal antecipa uma “manutenção de um crescimento relativamente forte das exportações de turismo nos próximos anos – superior ao projetado para o total das exportações de bens e serviços e para o PIB – mas inferior ao registado em 2017”.
Estas perspetivas positivas estão, no entanto, sujeitas a incerteza e riscos. Por um lado, a atividade turística tem uma elevada sensibilidade ao ciclo económico global, pelo que uma deterioração das perspetivas de crescimento mundial terá certamente impacto neste setor. Por outro lado, a recuperação da atividade turística em destinos concorrentes, que competem essencialmente na vertente preço, também poderá afetar negativamente as exportações portuguesas de turismo”, afirma o Banco de Portugal.
Este é um mercado mundial marcado pela concorrência elevada, pelo que é “fundamental continuar a apostar em fatores de atratividade turística não centrados na competitividade-preço, nomeadamente num aumento da qualidade e valor acrescentado dos serviços oferecidos que contribuam para fidelizar os visitantes e para um aumento da receita média por turista”, defende o Banco de Portugal.
Por outro lado, apesar das “óbvias vantagens para a economia do país”, o turismo “coloca também alguns desafios, nomeadamente riscos de hostilidade por parte dos habitantes locais, a deterioração da experiência turística e a degradação do património natural, cultural e histórico”.