Após reunião com a ministra da Saúde, os sindicatos de enfermeiros informaram que vão manter a greve de 45 dias prevista para janeiro. As estruturas sindicais reuniram esta sexta-feira e, apesar de a ministra da Saúde acreditar que vai chegar a um consenso com os sindicados já no próximo mês, a greve marcada é para manter.
“Esta reunião foi para avaliação do ponto de situação sobre o estado da profissão de enfermagem e não uma negociação de carreiras e a expectativa é que, no início do novo ano, haja condições para aprofundar esta negociação”, disse a ministra da Saúde, citada pela TVI 24.
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Em declarações aos jornalistas, também à saída do encontro, Lúcia Leite, da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros — um dos dois sindicatos que convocou a greve nos blocos operatórios de cinco centros hospitalares — disse que, neste momento, “não há nenhuma ação para resolver o problema”. Reiterou ainda que “as palavras não nos chegam neste momento, nós exigimos que haja um compromisso escrito, assinado pela senhora ministra da Saúde e pelo senhor ministro das Finanças”.
A ministra da Saúde disse acreditar que vai chegar a consenso com os sindicatos dos enfermeiros em janeiro depois da reunião desta sexta-feira com sindicalistas que, no entanto, afirmaram manter a greve no próximo mês.
“Esta reunião foi para avaliação do ponto de situação sobre o estado da profissão de enfermagem e não uma negociação de carreiras e a expectativa é que, no início do novo ano, haja condições para aprofundar esta negociação”, disse a ministra da Saúde no final do encontro.
Marta Temido explicou que, neste momento, não estão convocadas greves para os primeiros dias do ano, por parte das estruturas sindicais e, portanto, o objetivo do Governo será aproximar-se das reivindicações dos profissionais, acrescentando que “os portugueses não perdoariam” que o Governo não fizesse escolhas para “evitar que sejam colocados de novo em situações que têm acontecido”.
“Temos que dar passos no sentido de nos aproximar, é isso que vamos fazer em janeiro, mas têm de ser passos com algumas linhas vermelhas e toda a sociedade tem de perceber por que é que elas existem”, sublinhou.
Marta Temido disse querer acreditar que “esses passos sejam suficientes para um consenso com os sindicatos, porque as várias profissões aqui envolvidas e as outras profissões da saúde, a administração pública e os trabalhadores do setor privado terão muita dificuldade em perceber que haja uma reivindicação de passar um salário base que é de 1.200 euros para 1.600 euros ou uma remuneração de especialista para 2.700 euros.”
“Compreendo as expectativas, mas são caminhos que temos de percorrer em conjunto e não vamos conseguir percorrê-los se estivermos de costas voltadas. Foi por isso que esta reunião hoje existiu”, vincou Marta Temido.
Contudo, nem todos os sindicatos acreditam poder chegar a acordo em janeiro.
No final da reunião, Lúcia Leite, da Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE), um dos dois sindicatos que convocou a greve nos blocos operatórios de cinco centros hospitalares do país, disse que a greve de 45 dias prevista para janeiro se vai manter.
Segundo Lúcia Leite, o encontro desta sexta-feira foi “uma tentativa de sensibilização dos sindicatos para pararem a greve”, mas, afirmou: “Não vamos parar”.
“O Ministério manteve exatamente as posições que tem tido até agora, fez um jogo de propostas e contrapropostas (…) e nós entendemos que a contraproposta que o Governo apresenta não responde às reivindicações dos dois sindicatos”, que não aceitam “uma carreira que não tenha a categoria de especialista”.
Por isso, “mantemos a greve em janeiro”, disse Lúcia Leite, adiantando que, entretanto, há um “período de tempo sem greve que permitirá ao Governo negociar” com os dois sindicatos, estando a próxima reunião negocial marcada para 02 de janeiro.
“Esperamos que a posição deixe de ser uma posição irredutível e que haja uma reunião onde possamos efetivamente esgrimir os argumentos de ambas as partes”, frisou.
Lúcia Leite contou que o secretário de Estado adjunto da Saúde, Francisco Ramos, lançou “um repto” no sentido dos dois sindicatos (ASPE e Sindepor – Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal) suspenderem a greve para se poder reunir na próxima semana.
“Isso não vai acontecer até porque nos comprometemos com os enfermeiros em greve que só o faríamos com um compromisso assinado pela ministra da Saúde e pelo ministro das Finanças”, disse, rematando: “Precisamos de um compromisso sério, porque de promessas estamos todos fartos”.
Ulisses Rolim, vice-presidente do Sindepor, acrescentou que na reunião “não se passou nada de novo”.
“Assistimos a um discurso de preocupação por parte da senhora ministra e do senhor secretário de Estado a querer passar o ónus de tudo isto para os enfermeiros, mas de facto não apresenta nenhuma novidade em relação àquilo que foi dito ultimamente”, disse Ulisses Rolim, considerando que “foi um discurso de barreira, intransigência” que quis “passar que estão a fazer o melhor, com grande esforço, mas que depois não se traduz em realidade nenhuma”.
Questionado se a população vai entender mais 45 dias de luta, o dirigente sindical disse que “a população está a compreender é que os enfermeiros estão a fazer tudo e em todos os hospitais e que foram para além do que estava decretado no acórdão do tribunal arbitral.
Carlos Martins, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), disse, por seu turno, que “o Governo continua sem criar condições para que a CNESE [comissão constituída pelo SEP e pelo Sindicato dos Enfermeiros da Madeira] continue no processo negocial” e, por isso, tem uma greve anunciada em janeiro.
“O Governo hoje [sexta-feira, 21] não trouxe nada de novo relativamente a decisões sobre matérias que são condição para estarmos presentes na próxima ronda negocial. Portanto, se nada acontecer avaliaremos a manutenção de não estarmos presentes”, disse Carlos Martins.
José Azevedo, porta-voz da Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE), que suspendeu a greve marcada para os dias 26, 27 e 28 de dezembro, foi o único a sair satisfeito do encontro.
A ida da FENSE, que agrega o Sindicato dos Enfermeiros e o Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem, à reunião foi uma “ida de cortesia”, uma vez que nenhum aspeto de negociação com o Governo está bloqueado.
“Para nós as coisas estão a correr normalmente”, disse José Azevedo.
Para Lúcia Leite, a posição da FENSE “é muito incompreensível”. “Aliás, parece que estivemos em cenários diferentes, com interpretações diferentes desta reunião”.
“Eu não sei o que a FENSE negociou, mas sei que na base também tinha a categoria de especialista e, portanto, não consigo perceber esse discurso, nem do discurso da senhora ministra ficou a ideia de que houvesse qualquer acordo relativamente à categoria de especialista com a FENSE”, frisou.
“Não sei do que estão a falar mas tenho dúvidas que hajam esses acordos nesse sentido”, disse Lúcia Leite.