Os produtos e refeições à venda em supermercados e restaurantes do Reino Unido poderão passar a obedecer a um limite de calorias específico, de acordo com um plano que está a ser elaborado pelo departamento de Saúde e Assistência Social britânico (PHE, em inglês) para combater a obesidade. O objetivo é que até 2024, os produtos vendidos em todas as categorias de alimentos tenham menos 20% das calorias. No entanto, a medida não está a agradar a todos na indústria alimentar.
De acordo com o The Telegraph, que teve acesso às propostas iniciais, refeições como sandwiches e saladas vendidas em supermercados não poderão ultrapassar as 550 calorias. Já os pratos principais em restaurantes podem ter de obedecer a um limite de 951 calorias, enquanto as refeições pré-feitas não deverão passar das 544 calorias.
O plano começou a ser elaborado depois dos avisos que chegaram ao país: nove em cada dez refeições principais que são servidas nos restaurantes têm mais de 600 calorias, com as principais cadeias a venderem dezenas de pratos principais com mais de 1000 calorias. Nas crianças, um estudo realizado pela PHE comprovou que, no Reino Unido, uma em quatro crianças entre os 10 e 11 anos têm excesso de peso ou são obesas. De acordo com as metas estipuladas pelo governo britânico, os homens devem ingerir cerca de 2.500 calorias por dia e as mulheres 2.000.
As restrições que estão planeadas ao número de calorias dos produtos dependem também do local onde as refeições são vendidas. Num supermercado, uma dose de batatas fritas, waffles ou puré de batata não poderá ultrapassar as 302 calorias. Já nos restaurantes, os mesmos produtos podem chegar às 416 calorias. Se o plano seguir em frente tal como está, e caso os hambúrgueres se insiram na categoria de sandwiches, isto significaria, por exemplo, que no McDonald’s do Reino Unido, produtos como o Big Tasty (799 calorias) teriam de ser redefinidos, uma vez que iriam ultrapassar as 550 calorias permitidas em restaurantes.
“Todos nós precisamos de calorias, mas com muitos produtos de uso diário que contém altos níveis de açúcar e gordura saturada é muito fácil comer calorias em demasia”, disse Caroline Cerny, da Aliança para a Saúde da Obesidade. “A indústria de alimentos deve desempenhar o seu papel no combate à obesidade e ao adaptar receitas e reduzir porções excessivas pode tornar muito mais fácil para as famílias fazerem escolhas mais saudáveis”, acrescentou ao jornal britânico.
Os planos desta proposta, que já tem mais de 100 páginas, voltaram a ser trabalhados depois de a indústria alimentar ter revelado as suas preocupações com os limites impostos. No entanto, fabricantes e outros especialistas continuam a não estar satisfeitos com a proposta, tendo em conta que terão de adaptar toda a sua produção a estas restrições. “Os limites de calorias são arbitrários, não científicos e irrealistas. É razoável oferecer conselhos sobre o consumo diário de calorias, mas estabelecer limites nas refeições é de loucos“, referiu ao The Telegraph Chris Snowdon, chefe de economia e lifestyle no Instituto de Assuntos Económicos.
A Federação de Alimentos e Bebidas [FDF, em inglês], e os seus membros receberam bem o programa de redução de calorias quando foi lançado no início do ano. Estamos totalmente empenhados na reformulação, bem como na mudança para porções adequadas. (…) Mas, temos reservas sobre como as metas são atingíveis na realidade. Uma diretriz coletiva de 20% de redução de calorias em todas as categorias de alimentos é inviável, particularmente dada a variedade de tipos de alimentos que esta diretriz cobre”, referiu também Tim Rycroft, diretor de operações da FDF.
E em Portugal, existem limites?
Em Portugal não há um plano de redução de calorias tão específico como o que está a ser preparado no Reino Unido, mas há um conjunto de metas a atingir para o país chegar aos níveis e sal e açúcar estipulados na Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável, cujo despacho foi publicado a 28 de dezembro de 2017. Em julho deste ano, dois estudos realizados pelo Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge concluíram que a grande maioria das marcas de fiambre, queijo, sopas de pacote e tostas terá de cortar em mais de 80% do sal até 2020 para cumprir as metas do Governo e do Serviço Nacional de Saúde.
Isto acontece porque a larga maioria dos produtos analisados estão muito acima dos níveis e sal e açúcar estipulados. No caso dos fiambres – de porco, frango e peru – nenhuma marca cumpria o teor de sal aconselhado: 0,3 gramas por cada 100 gramas. Já nos queijos, apenas dois dos 93 incluídos no estudo cumpriam as metas da Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável.
No caso do açúcar, os números são ainda mais preocupantes, tendo em conta que a maioria dos produtos são ingeridos em larga quantidade por crianças. Apenas 22 iogurtes sólidos dos 167 analisados cumpriam as metas estabelecidas – ao passo que todas as marcas de iogurtes líquidos tinham açúcar a mais. Já nos cereais, só seis marcas (sempre flocos de milho ou cereais integrais) apresentaram o teor de açúcar recomendado. Em ambos os casos — açúcar e cereais –, o nível de açúcar terá de ser reduzido para um quarto ou um quinto do atual até 2020 para cumprir as metas da Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável.
Já em junho deste ano, as cafetarias das unidades de saúde públicas ficaram oficialmente proibidas de venderem salgados, produtos de charcutaria, bolos, refrigerantes com açúcar e sandes com molhos. Os novos contratos a celebrar para concessão de espaços destinados à exploração de bares, cafetarias e bufetts também não podem vender refrigerantes ou refeições rápidas, como hambúrgueres, cachorros quentes, pizzas ou lasanhas.
Produtos com alto teor de açúcar, gordura ou sal proibidos nas unidades do SNS