“Saltou a tampa da panela de pressão”, avisa o secretário-geral da CGTP em entrevista ao jornal Público esta quinta-feira, admitindo que o Governo deu prioridade à aprovação dos orçamentos enquanto subestimou a resposta aos problemas dos portugueses, enquanto deu uma “prenda” de milhões aos patrões do setor privado. Arménio Carlos deixa assim um alerta para 2019: “Assim, é evidente que a conflitualidade vai aumentar”.

“O Governo priorizou a aprovação dos orçamentos e subestimou a resposta a outros problemas. Tem problemas na administração pública. No quadro em que o país está – melhor economicamente -, constata-se que não há atualização dos salários dos trabalhadores da administração pública. É inadmissível. Há problemas de carreiras e progressões em que o Governo teve dois ou três anos para discutir e negociar e sistematicamente foi protelando a resolução dos problemas. Agora, saltou a tampa da panela de pressão”, diz.

Arménio Carlos não esconde que “há um problema de fundo e de conflito aberto entre a CGTP e o Governo” e não poupa nas palavras para criticar o facto de, à mesma hora que o Governo assumia na concertação social que o salário mínimo nacional para 2019 não iria além dos 600 euros (como estava previsto no programa de Governo), o Ministério das Finanças assumia que iria aplicar aos funcionários públicos um salário mínimo de 635 euros. “Assim, é evidente que a conflitualidade vai aumentar”, disse, considerando que, em vez de dar um tratamento idêntico para as duas partes, público e privado, o Governo deu “uma prenda de 371 milhões euros” aos patrões “por não ter passado o salário mínimo nacional para os 635 euros no setor privado”.

Sobre a fraca adesão ao protesto dos coletes amarelos, Arménio Carlos diz que isso só “provou que não basta fazer apelos pelas redes sociais. É preciso envolver as pessoas e fazê-las sentir que o que está a ser proposto é perspectivável de ser concretizado”. Além de que o falhanço daquela manifestação “confirma que o povo português está preocupado com qualquer tentativa de aproveitamento por parte da extrema-direita”.

Para 2019, Arménio Carlos diz que não está prevista a hipótese de uma greve geral, mas ressalva que nada está descartado à partida. “Não discutimos ainda essa hipótese de greve geral mas, com a experiência, aprendemos que há uma palavra que não deve ser utilizada: o nunca. Uma coisa é certa: a dinâmica reivindicativa da CGTP vai ainda acentuar mais a sua intervenção nos locais de trabalho. Estamos a preparar uma série de lutas no sector privado e no sector público para os próximos meses de janeiro, fevereiro e março. Vamos ter aí muita coisa a mexer, muitas lutas a fervilhar”, garantiu, deixando avisos para o ano que vem. “Não vamos só ter muitas lutas em empresas, na função pública, vamos ter convergência dessas lutas com expressão de rua, ou seja, greves e manifestações. Isto vai avançar”.

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