O jornalista Carlos Veiga Pereira, detentor da carteira profissional com o número 01A, morreu este sábado, aos 91 anos, numa unidade hospitalar de Lisboa, disse à agência Lusa o coronel Manuel Pedroso Marques. Com uma carreira totalmente dedicada ao jornalismo, Carlos Veiga Pereira foi diretor de informação da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e da RTP, membro da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), e trabalhou em vários jornais, nomeadamente o Diário de Lisboa, onde foi chefe de redação, e o Jornal Novo.

Carlos Veiga Pereira nasceu em em março de 1927 em Zumbe (Angola). O pai era funcionário administrativo e um poeta editado; e a mãe era uma professora primária que fundou uma das primeiras escolas primárias privadas em Luanda. O gosto pelo jornalismo perseguiu-o desde cedo, tanto que no liceu já era iretor e redator do “Mefisto”, um jornal editado por alunos do Liceu Nacional de Salvador Correia, em oposição ao órgão da Mocidade Portuguesa. Foi ainda na escola que contactou com Agostinho Neto, Lúcio Lara e Eduardo dos Santos.

Os passos no jornalismo continuaram universidade fora. Foi editor do “Via Latina”, orgão da Associação Académica da Universidade de Coimbra, e diretor do “Meridiano”, da Casa dos Estudantes do Império em Coimbra, a primeira publicação editada em Portugal pelos estudantes das colónias. Já na Faculdade de Ciências de Lisboa, onde teve uma intensa atividade na Associação de Estudantes, distinguiu-se pela promoção da vida artística e organizou conferências e exposições com Mário Dionísio, António Sérgio ou Júlio Pomar.

O percurso de Carlos Veiga Pereira foi pautado pela defesa da liberdade de informação e da liberdade política, mas também pela defesa dos direitos humanos e pelo combate discriminação racial. Em Coimbra salientou-se no movimento de independência de Angola. E até esteve preso em 1951 com Agostinho Neto por terem assinado um documento pela defesa da paz. A seguir foi enviado como soldado para a Companhia Disciplinar de Penamacor.

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Carlos Veiga Pereira foi membro do Centro de Estudos Africanos  e do Club Marítimo Africano (1952-1955), através dos quais apoiava os movimentos de independência das colónias portuguesas. Envolveu-se na campanha eleitoral de Humberto Delgado, esteve ligado ao golpe de Beja de 31 de dezembro 1961 (à conta disso foi preso novamente) e pertenceu à Junta de Ação Patriótica de Lisboa. Quando foi denunciado, exilou-se em França. Mas isso não o travou: foi representante da Frente Patriótica de Libertação Nacional e fundador e dirigente do Movimento de Acção Revolucionaria (MAR).

Após o 25 de abril, Carlos Veiga Pereira começou a afastar-se da vida política para se concentrar na vida jornalística. Foi um dos seis jornalistas eleitos em abril de 1975 para representar a classe no Conselho de Imprensa. Foi também o primeiro presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas e continuou a fazer parte desse órgão até à morte.  E em 1998 foi eleito pelo Sindicato dos Jornalistas para membro da Alta Autoridade para a Comunicação  Social, cargo que desempenhou até à extinção do posto.

Antes do Dia da Liberdade, Veiga Pereira foi conciliado a participação cívica com o jornalismo. Em 1954 entrou na delegação de Lisboa do O Primeiro de Janeiro e tornou-se um dos membros da equipa redatorial fundadora do Diário ilustrado (1956), coordenando o Suplemento Económico e o Suplemento Literário. Demitiu-se depois em protesto contra a demissão por motivos políticos do subchefe de redação Carlos Eurico da Costa.

Entre 1957 e 1958 foi redator do jornal República e relatou a conferência de imprensa de Humberto Delgado no Café Chave de Ouro, em Lisboa, onde o general anunciou a candidatura à Presidência da República. A seguir foi redator no Diário de Lisboa de 1959 a 1961, mas foi despedido após acusações de ter promovido um movimento reivindicativo salarial na redação. Além dele, também José Estêvão Sasportes foi mandado embora. Mas outros colegas, nomeadamente Artur Portela, Vasco Pulido Valente, Renato Boaventura e Uurbano Tavares Rodrigues, despediram-se por solidariedade.

Enquanto esteve exilado em Paris, Carlos Veiga Pereira não abandonou o jornalismo. Já tinha sido colaborador da Agence France- Presse e quando chegou a Paris tirou o curso do Institut Français de Presse. Também trabalhou no Centre de Formation des Journalistes e, depois, no Office de Radiodifusion et Télévision Française. Acabou por ser despedido por passar canções de Zeca Afonso. Entrou então no Le Monde, onde entrou nas bocas do mundo por causa de uma reportagem onde escrevia sobre os bairros de lata de Paris.

De regresso a Portugal, entra para o Diário de Lisboa em 1973 e chega a chefe de redação em plenário da redação por unanimidade, mas demitiu-se em maio de 1975 em reação ao controlo da redacção pelo Partido Comunista. A seguir é nomeado diretor de informação da RTP, mas também se demite em 1976 por pressões políticas do governo PS. Entra então no mundo da assessoria, trabalhando com o Secretário de Estado Social de João Gomes no governo de coligação do PS-CDS, mas volta ao jornalismo em 1979 para ser redator e diretor de informação na ANOP. É lá que fica até 1992, ano em que se reformou.