Em setembro, no arranque de mais uma fase de grupos da Liga dos Campeões, Iker Casillas estava na antecâmara de mais um registo histórico na competição, ao tornar-se o primeiro jogador a participar em 20 anos consecutivos na competição. No entanto, o início não seria propriamente fácil, com uma deslocação tradicionalmente complicada à Alemanha para defrontar o Schalke 04 de Naldo, Bentaleb, Embolo ou Konoplyanka. Na baliza contrária estaria Ralf Fahrmann. Internacional em todas as categorias jovens germânicas, capitão de equipa e jogador com mais épocas nos mineiros. “Ele é um modelo para muita gente e também para mim, é um guarda-redes que moldou o futebol. Estou ansioso por vê-lo novamente e de certeza que vou trocar de camisola com ele”, referiu na conferência da véspera do jogo. Ele, claro está, era Iker Casillas.

Eu milito, tu militas, ele Militão. Militam todos mais uma vez, pela 17.ª vez (a crónica do Desp. Aves-FC Porto)

El Santo, como também é conhecido o número 1 nascido em Móstoles, passou 25 anos no Real Madrid, dos mais pequeninos da formação aos seniores como capitão. Um quarto de século onde ganhou três Ligas dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, um Mundial de Clubes, duas Supertaças Europeias, cinco Campeonatos, duas Taças de Rei e quatro Supertaças, tendo ainda pelo meio liderado a maior geração de sempre espanhola na conquista de dois Europeus e um Mundial consecutivos. Em 2015, saiu. Foi quase como se tivesse terminado uma vida ativa no desporto, restando a reforma ou uma passagem em final de carreira. A despedida do Bernabéu, em lágrimas, trouxe no entanto uma versão 2.0 daquele que é considerado um dos melhores de sempre na sua posição. Casillas soube reinventar-se, tornou-se um líder sem braçadeira e entrou como referência na história do FC Porto. Primeiro com exibições, depois com títulos, sempre com uma atitude de quase adepto. Esta noite, na Vila das Aves, o guarda-redes alcançou mais uma marca: 100 jogos com a camisola dos azuis e brancos na Primeira Liga, depois de ter cumprido o centenário nos dragões em todas as provas em fevereiro deste ano.

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“Passamos o ano pela quarta vez no Porto e fazemo-lo precisamente num dos primeiros sítios que pisámos ao chegar a esta maravilhosa cidade. Foi a primeira ‘vista geral’ que tivemos, quando tudo era uma ilusão mas também incerteza e um pouco de medo que nem a beleza desta paisagem conseguia deter os nervos. Uma paisagem que hoje voltamos a olhar com outros olhos, com olhos de quem se sente em casa, que as mudanças fazem parte das nossas vidas e que podem ser a ocasião perfeita para nos reinventarmos, para nos conhecermos melhor e abraçar sem medo o que está para chegar”, escreveu nas redes sociais Sara Carbonero, mulher do espanhol, no início do ano, acompanhado de uma imagem com Casillas e os dois filhos do casal (curiosamente Martín, o mais velho, fez esta quinta-feira cinco anos). Uma descrição que encaixa que nem uma luva no número 1, ou não fosse ele o guarda-redes inquestionável dos dragões.

O último mês mostrou bem naquilo que Casillas se tornou no universo azul e branco. Nas gravações do vídeo de Natal do clube, Danilo surge nas redes sociais a dizer que o guarda-redes parece uma criança pela forma como canta a música “Azul e branco é o coração”. Mas também houve um like numa publicação do Twitter do FC Porto Media sobre alegadas grandes penalidades que ficaram por marcar no recente Desp. Aves-Benfica para a Taça da Liga, os parabéns na sua conta oficial a Pinto da Costa pelo 81.º aniversário ou a forma como muitas vezes mais parecia também um treinador no banco de suplentes nos encontros a contar para a Taça de Portugal (Belenenses, no Jamor) e para a Taça da Liga (Moreirense, no Dragão). Futebol à parte, onde continua a ser uma referência entre os postes, o espanhol veste a camisola do clube em todas as ocasiões. Também por reconhecimento disso mesmo, o líder dos dragões acompanhou o jogador a Madrid quando recebeu o prémio “Jogo Limpo” do jornal Marca.

Estou muito agradecido por este prémio, é um motivo para nunca se baixar os braços e esforçar-me mais do que antes. Também quero agradecer aos meus companheiros, este prémio é de todos”, comentou depois de receber o prémio de melhor guarda-redes do Campeonato em novembro.

Depois dos 32 jogos em 2015/16 e dos 33 em 2016/17, Casillas enfrentou pela primeira vez com Sérgio Conceição, na última época, a condição de suplente perante José Sá, um “obstáculo” como o próprio assumiria mais tarde que foi colocado a meio de outubro e que acabou por ser torneado a meio de fevereiro para um ano de 2018 onde alcançou as primeiras duas (e únicas até ao momento) conquistas desde que chegou aos azuis e brancos: o Campeonato e a Supertaça. No total, o espanhol soma em 100 jogos na Primeira Liga 73 vitórias, 15 empates e 12 derrotas, tendo sofrido um total de 64 golos.

Regressando ao início deste texto, o espanhol tornou-se esta temporada ao serviço do FC Porto o primeiro jogador a alinhar em 20 anos consecutivos na Liga dos Campeões e, na Turquia, o segundo a alcançar o 100.º triunfo na Champions, feito que tinha sido apenas alcançado por Cristiano Ronaldo (além de ter participado em vários recordes dos azuis e brancos, como os 88 pontos no Campeonato de 2017/18; os 16 pontos na fase de grupos da Liga milionária; as cinco vitórias consecutivas nessa competição; ou os 17 triunfos seguidos que os dragões levam atualmente). Ainda assim, e como a UEFA recordou esta semana, existem ainda recordes que pertencem ao guarda-redes, como o número de jogos em provas da UEFA (184).

Iker Casillas nunca é um homem 100 objetivos. “Bom, bonito, mas deixa-me um pouco triste”, ironizou