A certa altura da transmissão da BTV, o narrador Hélder Conduto deixava uma espécie de confidência em conversa com Rogério Matias, o comentador. “Como diz um amigo nosso, o Jonas de 19 anos”, atirava, falando de João Félix. Há ali parecenças, sempre com as devidas distâncias próprias de década e meia de diferença no Cartão do Cidadão; ainda assim, aquilo que se percebe é que o miúdo formado no Seixal tem condições para, daqui a 15 anos, poder ouvir outros dizerem que o novo miúdo da moda é o João Félix de 19 anos. Seferovic, com dois golos, uma assistência e talvez o melhor jogo da temporada, foi o MVP do triunfo do Benfica frente ao Rio Ave mas o internacional Sub-21 acabou por transformar-se na chave da viragem do jogo.

Lage foi a melhor base para aparecer o quinto elemento – João Félix (a crónica do Benfica-Rio Ave)

Em março de 2018, ao serviço da Seleção Sub-21, o jogador nascido em Viseu admitia que o primeiro grande ídolo foi Kaká (“Mas depois foi para os Estados Unidos e deixei de seguir tanto”) mas que agora olhava com especial atenção para Neymar. “Mas não me identifico, gosto apenas de ver jogar”, destacou. “Como me defino como jogador? Inteligente, imprevisível, que gosta de ter sempre contacto com a bola, isolar, passar… A minha posição preferida sempre foi a de médio ofensivo, depois se o treinador me colocar numa outra posição tenho de fazer o que ele diz e cumprir. Consigo adaptar-me bem a qualquer posição que seja, tanto a ponta-de-lança como a extremo esquerdo ou direito, a que já joguei”, acrescentou. Quase um ano depois, foi assim que fez a diferença na estreia de Bruno Lage, antigo técnico da equipa B, pelo conjunto principal.

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“Opções de Seferovic e João Félix? Foi algo que pensei quando assumi o cargo, tentar aproveitar o facto de termos vários pontas de lança, mas vale o que vale. Se fosse assim todos usavam esse sistema, foi uma opção. Já jogámos em 4x4x2. Conseguimos coisas boas nesse sistema, já conseguimos coisas boas em 4x3x3. Os jogadores têm essa capacidade, acabámos em 4x4x2 em Portimão com atitude e posicionamento muito positivos e trouxe isso para este jogo”, explicaria mais tarde, na conferência de imprensa, Bruno Lage, técnico que rendeu (para já, de forma interina) Rui Vitória no comando das águias.

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As duas novidades no onze (a troca de Salvio por Zivkovic acabou por ser natural face à preponderância do argentino, que esteve ausente da equipa algumas semanas por lesão) acabaram por bisar e apontar os golos do Benfica no triunfo por 4-2 frente ao Rio Ave. No caso de João Félix, o encontro permitiu obter uma série de novos registos pessoais enquanto sénior.

Titular pela sexta vez pelo Benfica, Félix marcou pelo terceiro jogo, mais uma vez na Luz. Depois, ao fazer aquele que foi o seu primeiro bis nos seniores, conseguiu outro feito histórico: tornou-se o mais novo de sempre a bisar no novo estádio inaugurado em 2003, sendo preciso recuar a 1998 e a Hugo Leal para ver dois golos de alguém ainda mais novo.

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Em paralelo, João Félix entrou no top 5 dos melhores marcadores dos encarnados no Campeonato, com quatro golos que ficam apenas atrás de Jonas, Seferovic (ambos com seis), Rafa e Pizzi (os dois com cinco).

Dados do Playmakerstats à parte, há um outro indicativo relevante apurado pelo Goalpoint: o jovem de 19 anos tem uma média redonda de 50 minutos para marcar ou fazer uma assistência na Primeira Liga, um registo que é quase metade em relação à grande figura do ataque do Benfica, Jonas, que cumpriu esta noite castigo mas que estará de regresso já na próxima jornada, quando os encarnados de deslocarem aos Açores para defrontarem o Santa Clara.