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Lage foi a melhor base para aparecer o quinto elemento – João Félix (a crónica do Benfica-Rio Ave)

Este artigo tem mais de 5 anos

A expetativa virou pesadelo, o pesadelo acabou em noite de sonho: Benfica conseguiu pela primeira vez virar uma desvantagem de dois golos na Luz e ganhou ao Rio Ave (4-2) em estreia com cunho de Lage.

João Félix foi a surpresa de Bruno Lage no onze e apontou dois golos, tantos como o parceiro de ataque Seferovic
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João Félix foi a surpresa de Bruno Lage no onze e apontou dois golos, tantos como o parceiro de ataque Seferovic

PEDRO_ROCHA

João Félix foi a surpresa de Bruno Lage no onze e apontou dois golos, tantos como o parceiro de ataque Seferovic

PEDRO_ROCHA

O comunicado para a CMVM dando conta de um princípio de acordo entre Benfica e Rui Vitória para a rescisão de contrato tinha apenas duas ou três horas quando Luís Bernardo, diretor de comunicação dos encarnados, explicava em direto a alguns canais que todos os nomes que tinham surgido naquele curto lapso de tempo não passavam de mera especulação e que o processo para a escolha do novo treinador teria início apenas na segunda-feira. Pode ter sido mesmo assim à risca, pode entretanto ter havido alguns contactos exploratórios de forma direta ou indireta (que provavelmente aconteceram, o que é normal), mas aquela frase procura sobretudo um outro objetivo – ganhar tempo. Ganhar tempo para consolidar o perfil do sucessor, ganhar tempo para aferir também das reações ao que surgia em público, ganhar tempo para perceber quem podia ir ou não a jogo. Entretanto, e tendo apenas duas sessões de trabalho com o novo plantel, foi também isso que Bruno Lage tentou ganhar: tempo.

As notícias nos últimos dois dias foram dando conta de uma receção positiva dos jogadores às interpelações da solução interina encontrada para suprir este hiato entre a saída de Vitória e a entrada do futuro técnico. Lage é conhecido como um treinador que aposta muito não só no treino mas também, ou sobretudo, na “felicidade” do grupo. Entende o futebol como um fenómeno nobre onde grande parte do segredo entronca no treino e na predisposição dos atletas. Faltando tempo, o antigo timoneiro da equipa B apostou tudo numa ideia – “soltar” os novos elementos no seu comando. Porque toda essa nobreza radica sempre na alegria da equipa em desfrutar o jogo e fazer bem aquilo que muitos sonham mas só alguns conseguem alcançar (ainda para mais num clube como o Benfica): jogar. Jogar solto, jogar com vontade, jogar de forma pressionante, jogar com bola.

Bruno Lage regressou este ano ao Seixal, depois de cinco anos entre o Dubai e Inglaterra onde teve a oportunidade de trabalhar na Premier League como adjunto de Carlos Carvalhal. Pelo meio, escreveu dois livros. É um metódico, um perfecionista, alguém com vontade constante de acrescentar um novo capítulo à forma como se pensa o jogo. Mas também é alguém que conhece bem o Benfica, que partilhou o balneário técnico com figuras como Chalana, Nené, Bento ou Bastos Lopes, que tem como referência na vida e nos encarnados o Magriço Jaime Graça. Com um contrato de longo prazo, sabe que o seu papel no projeto do clube está sempre assegurado, por mais ou menos jogos que faça agora como interino; por isso, e percebendo o que era necessário para o Benfica nesta altura, tentou aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível.

Bruno Lage, o aprendiz de Carvalhal que tem Jaime Graça como referência e a formação como principal fonte

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Logo à cabeça, Lage mexeu no onze inicial. E não se pode entrar no raciocínio do “é da formação, logo apostou na formação” – para a entrada de João Félix, em parceria com Seferovic na frente para fazer esquecer o castigado Jonas, o técnico prescindiu de um médio e esse foi Gedson Fernandes, outro miúdo feito no Seixal. Mais do que nomes, mexeu na forma de atacar da equipa. Quis colocar mais um elemento de desequilíbrios na frente, alguém capaz de desposicionar a defesa contrária, de dar outro tipo de movimentos mais verticais, de mexer no jogo entre linhas. O mais fácil para o estreante com apenas dois treinos era uma espécie de “deixa andar”, sem mexer em jogadores, táticas ou movimentos. Ninguém lhe poderia apontar o dedo a nada, qualquer que fosse o resultado. Preferiu chegar ao sucesso pelo risco, mesmo que esse risco não trouxesse o sucesso.

Ficha de jogo

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Benfica-Rio Ave, 4-2

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Jardel, Rúben Dias, Grimaldo; Fejsa, Pizzi; Salvio (Krovinovic, 87′), Cervi (Zivkovic, 61′), João Félix (Ferreyra, 72′) e Seferovic

Suplentes não utilizados: Svilar, Samaris, Gedson Fernandes e Castillo

Treinador: Bruno Lage

Rio Ave: Leo Jardim; Nadjack, Buatu, Nelson Monte, Matheus Reis (Afonso Figueiredo, 86′); Jambor (Vitó, 83′), João Schmidt; Gabrielzinho, Galeno; Bruno Moreira e Carlos Vinicius

Suplentes não utilizados: Paulo Vítor, Miguel Rodrigues, Junio Rocha, Leandrinho e Furtado

Treinador: Daniel Ramos

Golos: Gabrielzinho (17′), Bruno Moreira (20′), Seferovic (27′ e 70′) e João Félix (31′ e 64′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Félix (30′), Nadjack (30′), Bruno Moreira (36′), André Almeida (48′), Matheus Reis (57′) e Fejsa (88′)

Trouxe. Não foi uma exibição perfeita e as dificuldades nas transições defensivas foram demasiado evidentes perante uma equipa do Rio Ave que tem qualidade e gosta de se balancear na frente com muitas unidades (em especial Galeno, um craque que já deve ter carta de regresso ao Dragão a breve prazo). No entanto, em termos ofensivos, o Benfica deu um salto enorme. Não só pelos golos e oportunidades mas pela alegria e vontade que revelou em chegar ao golo. E foi Lage que deu a base para aparecer o quinto elemento. Seferovic, pela entrega e voluntarismo, foi um dos destaques dos encarnados mas João Félix tornou-se a figura basilar para a mudança radical que se viu. Logo ele, o quinto elemento. Porque quando se fala de alas, os nomes que aparecem são Salvio, Rafa, Cervi e Zivkovic – e a seguir João Félix. Porque quando se fala de avançados, os nomes que aparecem são Jonas, Seferovic, Castillo e Ferreyra – e a seguir João Félix. João Félix foi “o” elemento. E dificilmente terá sido só hoje.

Houve duas “alterações” que se conseguiram perceber nos primeiros 15 minutos de jogo. Não que tenham propriamente feito muita diferença no plano ofensivo do Benfica mas mostraram bem aquilo que Lage queria para o encontro: por um lado, maior capacidade de saída e de construção por parte dos centrais, sobretudo Rúben Dias; por outro, os movimentos mais interiores dos dois alas, Salvio e Cervi, para criar desequilíbrios no corredor central abrindo espaço para as entradas dos laterais. Entre muitas aproximações, houve apenas duas oportunidades: Seferovic isolou Cervi com um grande passe picado por cima da defesa dos vila-condenses mas Leo Jardim fez bem a “mancha” (8′); João Félix surgiu bem ao segundo poste num lance de estratégia mas o cabeceamento acabou por sair à figura do guarda-redes brasileiro dos visitantes (15′).

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O Benfica entrava no momento que queria: a controlar, com posse, a tentar aproximações que pudessem ser oportunidades. No entanto, havia uma carta na mão do Rio Ave que podia ser jogada em qualquer altura. Uma espécie de ás de trunfo que lhe daria sempre o triunfo na rodada. Ou, neste caso, dois. A jogar sobre brasas, sem a estabilidade emocional desejável sobretudo no setor defensivo depois do que acontecera em Portimão, qualquer transição rápida do conjunto de Daniel Ramos poderia fazer a diferença, como fez: primeiro foi Gabrielzinho a aproveitar uma assistência de Galeno após um remate que virou passe de Carlos Vinicius e a encostar sozinho na área (17′); depois foi Bruno Moreira, a surpresa do onze dos visitantes, a surgir nas costas de Rúben Dias ao segundo poste para desviar da melhor forma um cruzamento de Matheus Reis da esquerda (20′).

Os encarnados não viviam no melhor mundo mas o céu caiu-lhes em cima num par de minutos e naquelas que foram as duas primeiras abordagens ofensivas com critério do Rio Ave, de novo por erros anormais em termos defensivos de elementos em claro subrendimento nesta fase da temporada. Mas também eles tinham qualquer coisa divina a empurrá-los para um domingo menos negro do que os dos últimos fins de semana. Neste caso, a novidade preparada por Lage para este encontro, que viria a trocar as marcações na zona central dos visitantes em lances onde precisão de passe e velocidade andavam juntos: Seferovic, numa jogada de envolvimento que passou pelos pés de Cervi e Grimaldo antes da simulação de João Félix na área, recebeu nem na área, rodou e atirou para o 2-1 aos 27′; quatro minutos depois, o suíço avançou pela direita como uma autêntica locomotiva em ritmo TGV, foi insistindo perante a aproximação dos adversários e assistiu João Félix para o 2-2 aos 31′.

O jogo entrou depois numa fase atribulada, com faltas duras e algumas quezílias sem necessidade que de vez em quando foram punidas com cartões. O Rio Ave marcara por duas vezes em três minutos, o Benfica marcara por duas vezes em quatro minutos e as bancadas viviam todas as emoções sem tempo sequer para perceberem o que as mesmas representavam. No meio de um jogo de loucos, os encarnados, que conseguiram sobreviver aos erros próprios, tinham 45 minutos para entrarem num novo estado de vida. Que coincidiria com um marco histórico – nunca a equipa tinha conseguido ganhar na nova Luz depois de estar a perder por dois golos. E esse era o grande desafio para a segunda parte do encontro.

O segundo tempo começou praticamente com um momento Maradona, quando Grimaldo foi lá à frente passar por cinco (!) adversários num curto espaço de terreno antes de tocar rasteiro ao poste quando Leo Jardim saiu da baliza para fechar o ângulo (48′). O Benfica ficava muito perto da reviravolta mas o encontro foi partindo com o passar dos minutos, com bola-ca-bola-lá, e o Rio Ave a ter abordagens perigosas à baliza de Vlachodimos por Galeno (57′) e João Schmidt (60′). No minuto seguinte, Cervi foi substituído por Zivkovic, que tinha sido titular nos últimos encontros com rendimento interessante – e foi dos pés do sérvio que saiu o cruzamento rasteiro para o desvio de rompante de João Félix para o poste contrário, a fazer o 3-2 (64′).

Por anacrónico que possa parecer, estava a ser um daqueles jogos em que quem estava na frente merecia mas quem passara para a posição de desvantagem enfrentava um castigo demasiado duro para o que tinha produzido até ao momento. Mas esta era mesmo a noite de Lage, que além de acertar na forma ofensiva com que começou a partida e na primeira substituição operada, teve também a “estrelinha” do jogo no minuto 70: o Rio Ave teve uma grande oportunidade onde faltou apenas o toque final para chegar ao empate e, no seguimento do lance em contra-ataque, Seferovic conseguiu concluir da melhor forma uma jogada digna dos melhores compêndios de como sair bem, rápido e simples tendo o foco na baliza contrária. Estava escrita a noite de sonho de Bruno Lage, que mais não fez do que dar a oportunidade para João Félix ter a sua noite de sonho.

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