Depois de o El Español ter avançado ao final da manhã desta quarta-feira que teria sido localizado o corpo de Julen Jimenez, o bebé de dois anos procurado desde domingo num poço com 107 metros de comprimento e 25 centímetros de diâmetro em Málaga, as autoridades, o Governo e o pai da criança já vieram desmentir a notícia. Ao ABC, fonte do Governo e indicou que as buscas para encontrar a criança continuam. “Estão a ser divulgadas informações falsas que fazem sofrer a família”, informou a Guardia Civil ao mesmo jornal. A qualquer momento as equipas de resgate podem iniciar a construção do túnel diagonal para chegar à criança.
Entretanto, o jornal espanhol que começou por avançar a notícia, corrigiu o artigo depois dos desmentidos, referindo agora que foi “localizado um tecido de Julen” dentro do poço onde a criança caiu. Esse tecido, acrescenta, era um cabelo do pequeno Julen que a Guardia Civil encontrou no domingo e confirmou esta quarta-feira que pertencia à criança.
No Twitter da Associação Espanhola de Guardas Civis, foi publicada uma mensagem a desmentir a notícia de que o corpo de Julen já tinha sido encontrado: “Continuam os trabalhos de busca no poço de Totalán”, informou a associação. Já os serviços de emergência de Andaluzia também utilizaram o Twitter para deixar a uma mensagem, ainda que não indique diretamente que se trata do caso de Julen. “Não difundas notícias falsas, confia apenas nas fontes oficiais e não difundas rumores ou informações não confirmadas”, escreveram.
Desmienten la noticia publicada por @elespanolcom sobre la localización de Yulen.
Continúan las labores de búsqueda en el pozo de Totalán.— AEGC Guardia Civil (@AEGCnacional) January 16, 2019
Toda esta informação surge no dia em que a Guardia Civil admitiu ter provas mais concretas de que o bebé está no interior do poço em Totalán. As análises genéticas feitas a “vestígios biológicos” que foram encontrados na noite de domingo “correspondem a Julen”, confirmou esta quarta-feira a subdelegada do Governo em Málaga, María Gámez. “Os vestígios foram analisados e comparados com o ADN dos pais e [o ADN] do menor extraído do seu biberão”, disse em declarações aos jornalistas. As operações de busca duram há 72 horas.
[Veja no vídeo como são complexas as três vias para resgatar Julen]
Estas provas vêm enfraquecer a teoria de que Julen Jimenez não estaria no buraco em Málaga. Um deles era o presidente do Ilustre Colegio Oficial de Geólogos — uma corporação de geólogos e engenheiros em Espanha. Em declarações à Europa Press noticiadas pelo El Español, Manuel Regueiro insistiu que “um menino desta idade não cabe neste poço até ao fim”. Portanto, se as autoridades não o encontraram nos primeiros 70 metros da perfuração, é improvável que esteja mesmo lá, teorizou o especialista.
Mais de 60 empresas ofereceram-se para ajudar nas operações
Segundo o comandante da Guardia Civil em Málaga, ao longo das 72 horas de operações, foram mais de 60 as empresas de todo o mundo que se ofereceram para participar nas tarefas de regaste do pequeno Julen, avança o La Vanguardia. Jesús Esteban indicou ainda que ainda não se procedeu à geolocalização da criança, tendo em conta que atualmente estão a trabalhar na plataforma que vai permitir a entrada no túnel lateral.
No que diz respeito ao dispositivo que está no local, o comandante detalhou que há atualmente 12 equipas na zona, entre empresas de extração e técnicos que estão a trabalhar na construção dos túneis. As equipas de resgate poderão começar nas próximas horas a construir o túnel diagonal, suspendendo temporariamente a succção do tampão de terra molhada, assegurou Angel García, responsável do Colégio de Engenheiros dos Caminhos de Málaga. A última parte do túnel diagonal será escavada à mão por uma equipa de resgate mineiro que veio das Astúrias.
Sendo o poço tão estreito para as equipas o atravessarem, o resgate da criança tornou-se numa operação de extrema complexidade. A dificultar ainda mais a tarefa está o facto de existir perigo de deslizamentos de terra, uma vez que as paredes não têm qualquer tipo de cobertura. Para isso, os operacionais que estão no local vão tentar colocar um tubo dentro do poço, de forma a impedir mais algum deslizamento.
A subdelegada do Governo de Málaga informou que o início dos trabalhos já podem ser iniciados, uma vez que já existem provas de que Julen está no poço. “Seguimos com os trabalhos porque sabemos que pode estar perto, uma vez que encontramos vestígios biológicos”, referiu.
https://twitter.com/Maria2Gamez/status/1085571120491884545
“Tem calma, o pai está aqui e o teu irmãozinho vai ajudar-nos”
Enquanto as operações de resgate prosseguem, José Rosello, o pai do pequeno Julen, deu uma entrevista ao Diario Sur, onde conta tudo o que aconteceu no dia em que perdeu o seu filho de vista e acabou em frente a um poço à espera de o encontrar com vida.
Tudo aconteceu no domingo, quando a família de José Rosello, de 29 anos, preparava-se para se reunir junto à Tumba del Moro, em Málaga, onde o pai de Julen ia começar a construir uma casa. Enquanto Vicky Jimenez, a mulher, avisava a casa de hambúrgueres La Cala que não ia trabalhar nesse dia, José tinha duas funções: acender a fogueira para cozinhar a paella e manter debaixo de olho Julen, o filho de dois anos que brincava com uma prima da mesma idade a quatro ou cinco metros dali. Bastaram uns meros segundos de distração para Julen começar a correr enquanto o pai recolhia uns galhos. Quando José voltou a procurar o filho, Julen já estava a entre 10 e 15 metros dele. Depois, a terra engoliu-o.
O primeiro alerta veio da prima de José Rosello, mãe da rapariga com quem Jullen brincava na altura em que caiu dentro de um poço de prospeção de água com 110 metros de profundidade e 25 centímetros de largura. “O menino! O menino!”, gritou ela quando Julen corria para junto de uns pedregulhos atrás dos arbustos. Era a pessoa que estava mais próxima das crianças, mas não conseguiu alcançar o rapaz antes de tropeçar para dentro do buraco.
O pai de Julen chegou logo a seguir. Arrastou as pedras para mais longe — as mesmas pedras que tapavam o buraco — e enfiou o braço dentro do poço até ao ombro na esperança de encontrar o filho. Tinha o rosto pregado ao solo rochoso, poeirento e húmido “para tentar chegar a ele” porque não sabia a profundidade do poço. Não o encontrou, mas conseguia ouvi-lo chorar. “Tem calma, o pai está aqui e o teu irmãozinho vai ajudar-nos”, disse ele a chorar.
Entretanto, o pai de Julen falou aos jornalistas e disse manter a esperança na sobrevivência do filho. “Não vamos desistir. Temos esperança que não esteja morto”, disse José Rosello.