Os veículos eléctricos alimentados por bateria têm as suas limitações, mas oferecem várias vantagens, algumas das quais só agora começam a tornar-se evidentes. Uma delas prende-se com a possibilidade de uma empresa, no caso portuguesa, se especializar em incrementar a potência e a autonomia, reduzindo o peso e o tempo de recarga e, simultaneamente, tornando o veículo mais seguro, fácil de utilizar e mais barato de operar.

A capacidade de converter veículos com motor de combustão – ou já eléctricos, mas com baterias menos eficientes de chumbo – em eléctricos alimentados por modernas baterias de iões de lítio, é uma realidade que já começa a dar os primeiros passos. Mas o seu potencial de crescimento é notável. E o céu é verdadeiramente o limite, pois tanto pode pensar em converter para automóvel eléctrico a bateria modelos emblemáticos a gasolina, como os velhos Volkswagen Carocha, Citroën “Arrastadeira” ou um Jaguar E-Type, similar ao que a marca britânica modificou para o casamento do príncipe Harry, como alterar um pequeno tuk-tuk, idêntico aos muitos que pululam por Lisboa e Porto, para não só lhe permitir não poluir, como ainda andar mais e gastar menos.

Que história é esta dos tuk-tuks eléctricos?

Os primeiros tuk-tuks a transportar turistas nas principais cidades portuguesas recorriam a velhos motores a gasolina – alguns também a gasóleo –, poluentes e gastadores, além de exibirem uma tendência para avariar acima da média.

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Por pressão das autoridades camarárias, as frotas destes veículos começaram a substituir os fumarentos motores de combustão por unidades eléctricas, que simultaneamente ofereciam ao operador a vantagem de acarretar menores custos de exploração. Daí que muitos tenham sido electrificados, ainda que recorrendo a baterias menos sofisticadas, de chumbo – mais pesadas, mais sensíveis às baixas temperaturas e com um período de vida útil mais reduzido.

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Este panorama explica o interesse das empresas que exploram este tipo de veículos de transporte público em ter acesso a baterias mais modernas e eficientes e, neste capítulo, as melhores são as que a Tesla utiliza nos seus Model S e X, com a EVolution, do grupo ZEEV, a realizar a transformação.

Qual o ganho e os custos face ao motor de combustão?

Transformar um tuk-tuk com motor de combustão num modelo eléctrico é mais complexo e caro, mas é igualmente a conversão que oferece mais vantagens, ao ser a que assegura um maior ganho nos custos de exploração.

Toda a mecânica a gasolina ou diesel desaparece, para o seu lugar ser ocupado por um motor eléctrico, facilmente mais potente e com maior força, apesar de ser mais pequeno, leve e barato. O depósito de combustível também sai, no que é compensado pela entrada da bateria de iões de lítio, cuja dimensão e capacidade é determinada pela autonomia pretendida.

O custo desta transformação ronda 11.900€ (acrescido de IVA), com a EVolution a fornecer toda a documentação necessária à nova homologação. Se o valor é elevado, no rol das vantagens encontram-se o maior silêncio, os custos de utilização inferiores (com a electricidade a ser substancialmente mais barata do que a gasolina necessária para percorrer o mesmo número de quilómetros) e a possibilidade de aceder, sem limitações, a algumas zonas urbanas.

Quais as vantagens das baterias de lítio face às de chumbo?

As baterias de chumbo montadas em alguns dos tuk-tuks são similares às que se encontram nos automóveis convencionais com motor de combustão, para tratar de problemas como a iluminação e ignição, entre outras. Porém, quando utilizadas em funções de tracção, as baterias de chumbo não podem ser do tipo seladas ou sem manutenção. Razão pela qual o seu manuseamento sistemático, para repor níveis de electrólito, leva a algum derrame de produto altamente corrosivo, que deteriora e desfigura os veículos.

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A transformação é mais fácil e não carece de homologação posterior, pois o tuk-tuk continua a ser eléctrico, o que muda apenas é o tipo de acumuladores, pelo que a EVolution prevê apenas uma semana (contra duas na conversão de um modelo com motor de combustão) e um custo de 5.900€. Enquanto as baterias de chumbo, que duram no máximo ano e meio a dois anos e custam cerca de 2.000€, registam 50% de degradação da capacidade ao fim de 500 ciclos, as baterias de iões de lítio perdem 20% em 2.000 ciclos. Para cúmulo, o chumbo – ao contrário do lítio – não garante uma estabilidade da energia disponível quando se aproxima do final da carga, o que limita ainda mais a autonomia.

Fazer um Tesla em ponto pequeno

A EVolution não se limita a adquirir módulos de baterias da Tesla no mercado e a associá-los a motores eléctricos. Algum do trabalho que realiza faz recordar o que a Tesla faz com os seus próprios veículos, permitindo uma comunicação constante do tuk-tuk com a empresa que executou a conversão, o que lhe permite antecipar a avaria, ou detectá-la mais rapidamente, para que o veículo reduza ao mínimo a interrupção do seu serviço regular.

Além de incluir a capacidade de comunicação, os técnicos da EVolution constroem o seu próprio sistema de gestão da bateria (Battery Management System, BMS), o que lhes permite controlar desde a potência do motor à forma como acelera ou regenera, passando até pelos limites de segurança da bateria. O objectivo é tornar o tuk-tuk mais seguro e menos sujeito à degradação por má utilização, ou menos cuidada.

O tuk-tuk passa a ser alimentado por três módulos de um pack de baterias de um Model S (um P100D tem 16 módulos), o suficiente para garantir uma autonomia de 100 km, que excede o necessário para a operação diária deste tipo de veículos

Apesar de muito mais pequenos, os motores eléctricos facilmente fornecem mais potência e, sobretudo, mais força do que os seus congéneres a gasolina, pelo que é necessário modular a sua capacidade de aceleração, não só para proteger os diferenciais e as transmissões, como para evitar perdas de tracção, que poderiam ser divertidas para o condutor, mas não certamente para os turistas que vão lá atrás. E é este tipo de controlo sobre a mecânica dos veículos eléctricos que torna tão interessante o trabalho das empresas que se dedicam à conversão, e que recorrem a tecnologia própria para optimizar os BMS dos veículos que produzem.

O que dizem os clientes?

A primeira conversão de baterias de chumbo para baterias de iões de lítio foi realizada num minibus de 12 lugares, que opera na zona de Sintra. Neste projecto, a EVolution ainda usou um BMS standard, com ligeiras modificações para adaptá-lo à função. A primeira conversão de um tuk-tuk de combustão para eléctrico veio a seguir, já com um BMS próprio, concebido à custa de tecnologia portuguesa e de forma a gerir um maior número de parâmetros e a permitir o mencionado controlo à distância.

Um dos maiores clientes para este tipo de transformações é a empresa Tejo Turismo, cujos tuk-tuks já foram utilizados pelo Observador, aquando da entrevista a Paddy Cosgrave na última Web Summit. O responsável pelos Tuk Tuk Tejo, Bruno Perry Gouveia, informou-nos que encomendou a transformação de 11 destes pequenos veículos de transporte de turistas, de forma a trocar as baterias de chumbo por outras de lítio. E não tem dúvidas:

A alteração mais visível será a autonomia, pois passamos dos actuais 65 km para 100 km. Mas este está longe de ser o principal ganho.”

Segundo o responsável pela empresa de transportes, “as 12 baterias de chumbo, com 28 kg cada, representam 336 kg, um esforço muito elevado que obriga a limitar a cinco o número de passageiros, em vez dos seis que são permitidos”. A troca pelas baterias de iões de lítio, que pesam apenas 80 kg, permite ganhos consideráveis, com Bruno Gouveia a admitir que não só vai “passar a admitir mais um passageiro, como retomar os passeios até Cascais pela Marginal (70 km), agora que a autonomia já vai permitir ir e voltar”.

Recordando que a Tuk Tuk Tejo trabalha muito com os passageiros dos barcos de cruzeiro que visitam a capital, Gouveia está igualmente confiante que as novas baterias de lítio “não vão ter perdas de rendimento entre 35% e 40% quando o tempo está mais frio – das 6 a 7 horas de Verão, cai para 4 horas de Inverno –, como acusam os acumuladores de chumbo”, e nem sequer pensa em explorar a capacidade de recarregar as baterias mais depressa, uma vez que, segundo ele, os veículos da empresa “nunca excedem, por dia, os 100 km da autonomia”.

A Tuk Tuk Tejo reconhece que a redução dos custos da operação contribuiu decisivamente para a adopção das baterias de lítio. “Espero que estas nos permitam funcionar durante 10 anos, em vez dos apenas dois anos das de chumbo, que tinham de ser substituídas com um custo entre os 2.250€ e os 2.500€”, remata Bruno Perry Gouveia.