Os doze melhores alunos de português em França receberam este sábado bolsas de mérito da associação Cap Magellan e da seguradora Império e afirmam que não só o português já ajudou na transição para a universidade, mas como pode ainda abrir portas no futuro.
“O português já me ajudou para entrar no Colégio de Direito da Sorbonne. Para entrar, perguntam a todos os estudantes quantas línguas falam e se têm outras culturas e isso conta no processo de seleção. Portanto, o português já me ajudou e penso que me vai continuar a ajudar na vida”, disse à agência Lusa Eva Crespo, que ambiciona ser juíza, é luso-descendente e foi uma das jovens distinguidas este sábado.
Em casa, Eva falava mais francês com os pais, ambos vindos ainda adolescentes do Norte de Portugal para França, e começou a aprender o português na escola aos oito anos. “Os meus pais sempre me transmitiram a cultura portuguesa e visito Portugal para conhecer e ver a minha família, mas a verdade é que foram os professores que nos fizeram conhecer uma cultura mais larga e ainda a cultura dos países lusófonos”, disse a jovem luso-descendente, acrescentando que receber este prémio foi um “reconhecimento” pelo seu percurso.
A entrega das doze bolsas no valor de 1.600 euros aconteceu este sábado no consulado-geral de Portugal em Paris, na presença de João Alvim, cônsul-geral adjunto, de Diogo Teixeira, diretor-geral delegado da Império, Anna Martins, presidente da associação Cap Magellan, e Adelaide Cristovão, coordenadora do ensino de português junto da Embaixada de Portugal, das famílias dos jovens e 11 dos 12 jovens distinguidos — uma das jovens distinguidas estava em direto de Portugal através das redes sociais, já que após os estudos em França entrou em Medicina na Universidade do Minho.
Embora a maior parte dos jovens que receberam as bolsas tenha pais portugueses, outros descobriram apenas mais tarde as suas raízes. É o caso de Théo Francez, cujo avô nasceu no comboio que trazia os pais de Portugal para França. “Quando era pequeno, descobri que uma parte da minha família era portuguesa e tentei procurar perto de mim uma escola onde pudesse estudar o português”, afirmou este francês de 18 anos que entrou recentemente para Universidade de Rennes onde estuda Ciências e Propriedades da Matéria em declarações à Lusa.
Com a descoberta da língua, veio também a descoberta da família que ainda tem na Covilhã, que visitou há dois anos. A sua ambição é ser astro-físico e a ligação a Portugal pode vir a reforçar-se. “Vejo que é um sector que se desenvolve em Portugal e porque não, mais tarde, gostava de colaborar nesse campo ou até mesmo partir em Erasmus”, afirmou o jovem.
Adelaide Cristovão reconhece que o interesse na língua portuguesa tem vindo a aumentar e é, cada vez mais, um factor de distinção no currículo de quem entra no mundo do trabalho em França. “No mundo globalizado, o conhecimento de línguas é muito importante. No caso de França em que todos fazem inglês, a maior parte faz espanhol e uma percentagem faz alemão, quando aparece um currículo com português é extremamente importante porque não são tantos assim e os pedidos são cada vez não só de empresas francesas, mas multi-nacionais. O português é não só a língua de Portugal, mas do Brasil, de Angola e muitas empresas aqui têm negócios com esses países”, lembrou a coordenadora do ensino de português junto da Embaixada de Portugal à Agência Lusa.
O cerimónia teve ainda um momento mais descontraído com o ator e comediante luso-descendente José Cruz que partilhou a sua história com os jovens e a audiência, mencionando como o português teve uma influência na sua vida e também na sua carreira.