A incursão de Rui Tomás ao universo do design não começou da maneira mais expectável. Aos 42 anos, é, para todos os efeitos, um recém-licenciado. Depois da publicidade e dos desenhos técnicos para hotelaria e restauração, foi um aluno exemplar da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Embora o design lhe estivesse mais ou menos destinado, podemos dizer que se entreteve a fazer outras coisas. “Fui para Artes, desenhava bastante e até acabei por fazer o logótipo da escola. Mas não me estava a seduzir. Comecei a fazer plantas e projetos para ajudar o meu pai e, aos 18 anos, abri a minha própria empresa”, conta.
Empreendedor precoce, por um lado, late bloomer, por outro. Aos 34 anos, Rui entrou no curso de Design e descobriu um admirável mundo novo. “Abriu-me os horizontes, até porque comecei a ter uma cultura de design que não tinha”, acrescenta. Na sala de aula, estava em vantagem. Já tinha posto as mãos na massa, conhecia os materiais e já tinha experimentado várias técnicas de transformação. Resultado: conseguiu duas bolsas de mérito, terminou o curso com média de 18 e, no último ano, da licenciatura foi convidado a desenhar o projeto de um novo espaço na Avenida da República, em Lisboa, o Choupana Caffe. Como resume hoje, foi repensar a cafetaria tradicional e fazê-la parecer-se mais com uma ourivesaria.
O mesmo engenho levou-o a Xangai, já em 2018, mas aí com uma visão bem mais artística. Dragon Scales foi a peça selecionada para representar Portugal num festival de design da cidade, uma estrutura vermelha, composta por um material termomoldado, que ganhava movimento através de uma aplicação. Nessa altura, projetar cafés e escritórios já tinha deixado de ser suficiente. Primeiro no papel, depois num entusiasmante processo de prototipagem, o nome Rui Tomás começou a estar associados a pequenas peças de mobiliário. Vieram as cadeiras Los Angles, primeiro em madeira e só depois numa versão em metal, mais colorida, os bancos Mula e os Have a Seat, bancos empilháveis que misturam madeira e burel.
“Dá-me um gozo especial materializar estas ideias e, como não tenho coleções, acabo por fazer o que me apetece e como me apetece”, explica. Horse foi uma das mais recentes peças desenhadas por Rui Tomás. Um cavalo de baloiço em corian e madeira, cujo traço o designer pediu emprestado a uma peça feita para proteger uma imagem em digressão no centenário das aparições de Fátima. O exercício é sempre o mesmo: a depuração das formas até atingir peças no limite da simplicidade visual. Se por um lado, é disso que gosta, por outro, a tarefa de construir uma peça simples e intemporal é quase sempre a mais árdua.
“É muito simples pegar numa peça e ir acrescentando coisas. Reduzi-la ao mínimo é sempre mais complicado. Neste caso, os primeiros esboços foram rápidos, mas até ter a versão final foram uns oito meses”, conta. Rui apresentou o seu cavalo baloiço ao júri do German Design Award que decidiu distinguir a peça na categoria “Excellent Product Design”. O prémio não trouxe nenhuma quantia choruda, mas deu visibilidade ao trabalho de Rui Tomás. “Uma das razões para me ter lançado nesta aventura foi conseguir chegar às grandes marcas. Algumas, sobretudo nacionais, continuam a ter algum receio de contratar designers”, admite.
Por estes dias, Rui espera que um dos seus últimos projetos abra portas, o novo Choupana Caffe no Terminal de Cruzeiros de Lisboa. Até 28 de fevereiro, as suas peças estão numa loja temporária em Campo de Ourique, Lisboa. O espaço Produtos de Design Português (Rua Ferreira Borges, 123) reúne ainda criações de Miguel Soeiro, da Inpput e da &blanc.
Nome: Rui Tomás
Data: 2012
Pontos de venda: loja pop-up Produtos de Design Português
Preços: entre 100 e 800 euros
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.