Nicolás Maduro deu uma longa entrevista ao programa Salvados, do canal de televisão La Sexta, e que foi transmitida este domingo. Esta foi a primeira entrevista de Nicolás Maduro a um órgão de comunicação social independente desde a autoproclamação de Juan Guaidó como Presidente interino — já tinha falado à Sputnik News e à RIA Novosti, ambas controladas pelo Kremlin.

Nas próximas linhas, deixamos as principais frases de Nicolás Maduro, numa entrevista onde falou de tudo um pouco: dos EUA às sanções, passando pela fé e por como reza ainda mais agora do que antes.

Sobre o que tem a dizer a Donald Trump

Pára! Pára, Donald Trump. Pára aí. Estás a cometer erros que te vão manchar as mãos de sangue (…). Vais repetir um Vietname na América Latina.”

Sobre as sanções e os ativos congelados no estrangeiro (inclusive em Portugal)

Eles dirigem uma guerra económica para asfixiar a nossa economia. Deram golpes duros. Temos sequestrados no Euroclear, um sistema de pagamentos 1400 milhões de dólares há vários meses, por ordem do governo dos EUA. Com isto, estávamos a pagar medicamentos, alimentos. Mesmo agora, em Portugal, sequestraram-nos uns 30 milhões de euros, com os quais estávamos a pagar um sistema de autocarros que tínhamos comprado para o sistema público. Todos os dias roubam-nos, congelam-nos, sequestram-nos. Mas não vou poder connosco. Juro pelos meus antepassados.”

Sobre o que quer dos EUA e o que entende que os EUA querem da Venezuela

Que venha a sociedade norte-americana, os investidores que queiram vir investir em petróleo, em gás, em petroquímica, em ouro, em diamantes, em alumínio, em ferro, em turismo e tecnologia. Temos de oferecer o que qualquer país deve oferecer para ter relações de século XXI. Mas os EUA querem voltar ao século XX.”

“Eles, no final de contas, querem que voltemos ao século XX, de golpes de estado militares e de governos-fantoche subordinados ao seu comando e de roubo dos nosso recursos naturais. E isso é inviável. O século XXI já vai avançado.”

Sobre a liberdade de imprensa e detenções de jornalistas estrangeiros nos últimos dias

Aqui não há detenções de jornalistas, não houve. Fizeram montagens e provocações. Montagens para apresentar uma notícia e que depois é reproduzida pelo Twitter e redes sociais. Na Venezuela há pleno exercício da liberdade. Eu faço conferências de imprensa quase todos os meses com todos os correspondentes.”

“No exercício pleno da liberdade de expressão, [mas] há uma grande manipulação sobre a Venezuela de todas as agências de notícias internacionais e de todos os meios de comunicação internacionais.”

Sobre como o “Ocidente” quer destruir a Venezuela como a Líbia

Faça o que eu fizer, mal ou bem, o Ocidente já decidiu destruir-nos. Somos um monstro. Somos o inimigo para destruir. O Ocidente já decidiu isto. Atrás do Donald Trump, está praticamente toda a Europa, e atrás de uma campanha muito perigosa, parecida com o que fizeram na Líbia.”

Sobre a fé que tem e o “milagre” da Venezuela

Eu rezo sempre (…) Talvez [agora] reze com mais concentração e mais profundidade. Rezo sempre porque acredito em Deus e na sua força. E creio que o que está acontecer na Venezuela é um milagre. [É um milagre] ser submetido à pressão, às ameaças do poder ocidental e estar em paz dentro da Venezuela, estar em batalha dentro da Venezuela, e estar a dar passos em frente para o que vai ser uma grande vitória da verdade da Venezuela.”

Sobre a possibilidade de uma guerra civil na Venezuela

O povo já se está armando do ponto de vista profissional, do ponto de vista institucional, do ponto de vista constitucional. no caso de um conflito local, regional o nacional, o povo sabe onde ir, sabe o que fazer e sabe como defender-se.”

Sobre o ultimato europeu, de convocar eleições presidenciais

Não aceitamos ultimatos de ninguém. É como se eu dissesse à União Europeia que lhes dava 7 dias para reconhecer a república da Catalunha ou, caso contrário, vamos tomar medidas. Não. Na política internacional, não nos podemos basear em ultimatos. Isso era na época dos impérios e das colónias.”

“Eu não me nego a convocar eleições. Há eleições presidenciais em 2024, que é quando temos de convocá-las (…). Não nos importa nada o que a Europa diga da Venezuela, a Europa que se preocupe com os seus problemas: o desemprego, do crescimento económico, a migração. E que não se meta nos assuntos da Venezuela.”

“O mundo é maior do que Donald Trump. Se Donald Trump impôs ao Ocidente uma política errada, pôs-se num beco sem saída. Na Venezuela, não nos vamos submeter a esse “mundo”. O mundo é muito maior.”

Sobre Juan Guaidó, autoproclamado Presidente interno da Venezuela

Na Venezuela só há um Presidente em exercício, que tem a faculdade dos poderes económicos, institucionais, governamentais, militares, policiais. Eu exerço o governo todos os dias. Se faço um decreto de economia, cumprem-no todos os setores empresariais e a banca. Se faço um decreto social sobre a proteção do salário ou das pensões, cumprem-se. Se dou um mandato às Forças Armadas para que haja exercícios de defesa da soberania, as Forças Armadas ativam-se completamente. Só há um Presidente. Em todo o caso, tentaram gerar uma impressão de governo paralelo. E essa ideia de governo paralelo fracassou desde o primeiro dia. Não existe na Venezuela, existe nos meios de comunicação internacionais e nos ministérios dos negócios estrangeiros que o reconheceram. Mas não existe na realidade.”

“Esta pessoa não está facultada de nenhum artigo [da Constituição]. E se estivesse, seria impossível a máxima investidura no país ser numa praça pública. É uma palhaçada autoproclamar-se. Não tem nenhuma base constitucional, legal, protocolar, formal.”

Sobre o seu governo (e uma auto-crítica)

Eu creio que a minha administração não é [eficaz]. Ainda não é. Creio que há muitos erros na eficácia do governo. Creio que falhamos sobretudo em chegar [às pessoas]. Às vezes criamos o projeto, a missão, temos os recursos, que é o mais difícil, e muitas vezes o governo não chega à profundidade onde vivem as pessoas, onde as pessoas passam mal e precisam de atenção. Mas isso é um dos desafios que temos. Eu lancei três linhas estratégias. E terceira linha tem que ver com a luta contra  indolência e a burocracia. E eu estou concentrado nisso.”

No fim de semana, Maduro e Guaidó mediram forças com manifestações em Caracas.

No dia em que o povo venezuelano saiu todo à rua, os dois presidentes entrincheiraram-se e chamaram pelos militares

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