Paula Margarido – “Destralhe a sua casa”
São várias as maneiras de remover a tralha de casa, o importante é sentir que está na hora de o fazer: quando as divisões desarrumadas ou com excesso de objetos começam a ser um incómodo ou quando, findo o dia, há pouca vontade em regressar a casa. Este é o primeiro conselho de Paula Margarido, arquiteta e formadora de Feng Shui, que anda há mais de 20 anos a trabalhar com pessoas e suas casas. Outra situação descrita pela autora do livro “Destralhe a sua casa” (editora Manuscrito) remete para quando alguém tem, efetivamente, vergonha de que a sua falta de organização caseira seja descoberta por terceiros. Se for o caso, então, está mesmo na hora de arregaçar as mangas e começar a reunir o que já devia ter saído porta fora há muito tempo. Segundo Paula Margarido, o ambiente de desarrumação e de caos contribui para criar confusão mental. “A pessoa vai ficar mais deprimida, começa procrastinar, a perder energia… São situações urgentes, porque nós somos o espelho da casa”, diz ao Observador.
Ao longo de mais de duas décadas de carreira, a arquiteta que ajuda os clientes a arrumar a casa tem vindo a perceber mudanças de paradigma cultural, isto é, hoje há outra consciência tendo em conta o bem-estar e o minimalismo em casa. Um primeiro passo nesse sentido é percebermos o que realmente temos em casa: “As pessoas encontram muitas vezes coisas que não sabiam que tinham em casa, até coisas do ex-marido que ficaram por lá”. Outro conselho bastante importante passa por termos noção da real quantidade de espaço de arrumação — um bom armário faz uma grande diferença, atesta a especialista.
Os diferentes tipos de tralha
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- Tralha comum: objetos e coisas que nunca foram utilizadas, coisas de que não gosta e que ocupam espaço lá em casa;
- Tralha simbólica: objetos que afetam inconscientemente de forma negativa (presentes dos quais nunca gostámos ou objetos que suscitam memórias infelizes);
- Tralha energética: objetos que sugam a nossa energia e que nos desgastam (como fotografias de pessoas que passaram pela nossa vida e que deixaram uma marca menos positiva);
- Tralha mental e emocional: questão emocionais não resolvidas, tarefas por fazer.
“O mais importante é a pessoa só guardar e manter tudo o que realmente gosta, usa e que representa boas recordações”, continua. Ter por ter ou guardar coisas que um dia, quem sabe, vão ser finalmente usadas não entram nessa lista. Mas o dilema é fácil de resolver: tudo o que não for para ficar entre as quatro paredes de um lar pode ser reciclado, vendido ou doado. “É essencial dar espaço ao novo.” “Destralhada” a casa, é importante manter uma lógica de arrumação, algo que só é possível com o contributo de toda a família ou das pessoas com quem possamos estar a dividir a casa. Livrar a casa do que está a mais nem sempre é fácil, sobretudo quando há heranças à mistura. Até aí é preciso ter a certeza de que peças queremos ter realmente em casa e que nos trazem boas memórias. “Destralhar após um divórcio ou após a morte de um avô ou de um dos pais não são situações fáceis. É algo muito emocional, pelo que aconselho que, quando chegar o momento de arrumar a casa, isso seja sempre feito com ajuda, de um amigo ou de uma amiga.”
Destralhar e organizar têm de vir de mãos dadas. Assim sendo, é fundamental, depois de selecionar as coisas que quer manter à sua volta, designar um lugar para cada coisa. Destralhar é a forma mais rápida de transformar a sua vida. Pág. 35
Paula Margarido não concorda com casas-museus, em que crianças não podem brincar livremente, nem com casas totalmente desapegadas de memórias, até porque, no meio da tralha, há peças que contam parte da nossa história.
Não sabe como arrumar a casa? Simples… deite tudo o que não precisa para o lixo
Filipa Brandão Mira – “Cuidar da casa”
Filipa Brandão Mira, habituada a criar e a restaurar peças, mas também a falar sobre como cuidar da casa em televisão, confirma que em voga está a tendência da arrumação, que considera ser altamente necessária. No primeiro livro que escreveu — “Cuidar da Casa” (Esfera dos Livros) — propôs-se a ensinar aos leitores dicas, técnicas e produtos para melhor limpar a casa. Mas é de como arrumar o lar que fala agora ao Observador. Defende que para se ter uma casa bem arrumada é preciso pragmatismo e prefere arrumar as coisas por categoria ao invés de ir divisão a divisão (à semelhança do que faz a japonesa Marie Kondo).
“Para termos uma vida funcional e feliz temos de ter a casa arrumada, caso contrário vai tudo a eito. É tentar simplificar, o que às vezes não é fácil, mas não posso dizer que vou na onda do minimalismo. Crio peças, estou sempre a criar. Para mim, isso faz parte de cuidar a casa”, diz ao Observador. Para Filipa Brandão Mira, que não cede espaço à prática da acumulação, a casa deve estar em movimento tal como as nossas vidas. “Não é preciso estar sempre com as mesmas coisas em casa. Cuidar também é criar coisas novas e não é preciso dinheiro para isso, basta pôr mãos à obra”, atesta, fazendo referência ao segundo livro que está agora a lançar (“Reciclar, Decorar e Organizar”). O conceito de recriar estende-se às roupas: coisas que já não são usadas podem ser doadas ou, então, recicladas. A ideia a reter é a seguinte: cada peça que é feita ou adquirida com amor é capaz de nos fazer felizes e de trazer bom ambiente ao espaço onde vivemos, algo que está interligado com a arrumação.
Tentei arrumar a casa como ensina a Marie Kondo, mas parei nos tupperwares
Paulina Draganja – “Organize a sua casa”
Paulina Draganja não é portuguesa, mas o livro que escreveu, “Organize a sua casa”, chegou ao território luso no verão passado. A ucraniana licenciada em Economia descobriu um outro rumo profissional quando, no final de dezembro de 2015, lançou um projeto de arrumação no blogue que criara: “A Rainha da Arrumação”. Ao longo de um ano, milhares de seguidores executaram as tarefas propostas pela blogger, que passou os textos do universo virtual para o papel. O livro à venda em Portugal deve ser encarado “como uma ferramenta prática para criar uma casa bem organizada em menos de um ano”. A proposta da autora passa por concluir uma tarefa específica por semana, sendo que, ao todo, existem 52. A ideia é criar rotinas ditas sustentáveis para manter, a longo prazo, a casa organizada.
Quando olhamos para a nossa casa com os olhos de alguém que pretende vê-la organizada, descobrimos coisas em que deixámos de pensar por completo, mas que nos incomodam. É por isso que é tão importante ser cuidadoso com o primeiro projeto do livro: adaptar a lista à sua casa”, página 4.
As tarefas propostas por Paulina Draganja, que é conferencista internacional sobre organização e arrumação, começam com a criação de uma lista de prioridades e vão, posteriormente, a todos os cantos da casa: se à terceira semana se está a organizar os tachos, as panelas e as formas da cozinha, na nona está-se de volta do correio, a fazer uma gestão minuciosa da correspondência recebida e por enviar. Na lista estão ainda desafios como “organizar o armários dos produtos de limpeza”, “passar revista ao equipamento desportivo” e “limpar a memória do telemóvel”.