Pedro Henriques, o homem suspeito de matar a filha de dois anos e a sogra no Seixal, terá entregado a chave do carro onde deixou o corpo da criança a um taxista, segundo apurou o Observador junto do mesmo. O suspeito apanhou um táxi em Pombal, no distrito de Leiria, que o levou até Castanheira de Pera onde viria a encontrado morto esta terça-feira.
Horas antes, esta manhã de terça-feira, as autoridades encontraram Lara, a criança de dois anos, dentro do porta-bagagens de um carro junto ao McDonald’s de Corroios, no Seixal. Ao Observador, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Setúbal confirmou a ocorrência e acrescentou que o alerta foi dado por volta das 8h30. Segundo o Correio da Manhã, a criança pode ter morrido por asfixia. O suspeito, segundo o mesmo jornal, deixou uma carta no tablier do carro dirigida à ex-mulher e à família, onde lhes atribui a responsabilidade pela tragédia.
Fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) disse à agência Lusa ter recebido uma chamada pelas 8h25 do “presumível pai” da criança a dar a localização da viatura onde a filha foi encontrada. Enquanto o suspeito esteve em fuga, a mãe e o avô de Lara foram colocadas sob proteção policial.
Pedro pediu a taxista que o deixasse num pinhal e disse que voltava para seguirem para Ansião
O alegado homicídio da filha terá acontecido muito antes. Na noite de segunda-feira, já o suspeito se encontrava em Pombal, onde chegou de comboio, segundo apurou o Observador no local. No dia seguinte, apanhou um táxi na praça junto à estação de comboios e pediu ao condutor que o levasse até Castanheira de Pera. Não se sabe, para já onde é que o suspeito pernoitou.
Chegados ao destino, Pedro Henriques pediu ao condutor que o deixasse junto a um pinhal — onde viria a ser encontrado morto horas depois — e esperasse por ele ali, recordou o taxista, Marco Martins, em declarações ao Observador. Explicou-lhe que precisava de ir a uma casa ali perto mas que voltava pois queria que o taxista ainda o levasse a Ansião, uma vila não muito longe dali. Colocou a chave do carro, onde tinha deixado o corpo da filha, no tablier do táxi, como prova de que voltaria. Mas não voltou.
O individuo é suspeito de ter assassinado a sogra, de 60 anos, à facada, no interior da residência em Cruz de Pau, no concelho do Seixal, tendo de seguida fugido com a filha. A mulher apresentou ferimentos na zona do peito e do pescoço e as autoridades foram alertadas por moradores do prédio, na Rua do Minho, para um caso de violência doméstica, que terminou com o esfaqueamento da vítima. A vítima era proprietária de uma pastelaria no Seixal, onde a vizinhança está a depositar flores em homenagem à mulher e à criança.
Apesar de ainda não terem sido confirmados os motivos que levaram ao duplo homicídio, sabe-se que o Tribunal de Família e Menores do Seixal tinha marcado para esta segunda-feira uma audiência para regular as responsabilidades parentais, uma vez que não existia um entendimento entre os pais em relação ao tempo que a filha deveria passar com cada um.
Suspeito foi investigado por violência, mas ex-mulher desistiu da queixa
A ex-mulher de Pedro Henriques chegou a apresentar queixa por coação e ameaça contra o pai da criança, mas acabou por desistir da queixa, avançou o jornal Público e confirmou o Observador junto da Procuradoria-Geral da República. Segundo o Ministério Público (MP), “foi localizado um inquérito em que se investigou um crime de coação e ameaça” no Tribunal do Seixal”, mas “o mesmo foi arquivado por desistência de queixa da ofendida” e não estava classificado como violência doméstica.
Segundo o jornal Expresso, quando Sandra Cabrita fez queixa na PSP de Setúbal de alegadas agressões do ex-marido, a polícia considerou ser um caso de “violência doméstica de risco elevado“. No entanto, o processo foi tratado pelo MP do Seixal como um crime de coação e ameaça.
Depois de saber o que aconteceu, a mãe da menina de dois anos recusou esta manhã sair de uma dependência bancária na Quinta do Conde, em Sesimbra, por medo de ser perseguida pelo ex-marido, diz o Jornal de Notícias. A GNR teve de ser chamada ao local e terá sido nesse momento que Sandra Cabrita soube que o ex-marido foi encontrado morto.
“Ele não tinha trabalho, não tinha casa, não tinha onde estar”
Bárbara Teixeira, de 21 anos, vive no mesmo prédio onde morava Helena Cabrita, no Seixal, com a filha e o marido. Esta segunda-feira acordou, entre as 7h30 e as 8h da manhã, com “um estrondo”, como contou ao Observador: “Estávamos todos a dormir, acordámos com um estrondo a bater. Entretanto ouvi um grito, abri a porta e fui ver às escadas o que se passava”. A mãe da jovem explicou também que viu o suspeito do crime a sair do prédio: “Estávamos nas escadas, ele saiu, deu um safanão e veio pelas escadas abaixo.” E foi aí que chamaram o INEM. “Ele tinha sangue nos sapatos quando saiu, e vimos que havia sangue dentro de casa.”
A jovem contou ainda que quando se dirigiu à janela conseguiu ver o homem já dentro do carro com o bebé de dois anos. “A criança estava no banco ao lado do condutor. Estava apoiada com a cabeça na porta, mas não estava sentada muito direita, parecia desmaiada.”
Bárbara Teixeira e a mãe explicam que nunca ouviam discussões, apenas dando conta de choros do bebé “de vez em quando”. Viam com frequência a avó descer as escadas do prédio com a neta. Quanto a Sandra, “saía muito cedo para ir trabalhar para Lisboa”. Segundo as duas testemunhas, Sandra Cabrita vivia com os pais naquele prédio do Seixal há dois anos. “Acho que as divergências entre o casal aconteciam por causa da custódia da miúda. Ele não tinha trabalho, não tinha casa, não tinha onde estar”, diz Bárbara.
Os percursos e as distâncias percorridas pelo suspeito
Pedro Henriques começou por dirigir-se na segunda-feira à residência da sogra junto à igreja de Cruz de Pau, na Rua do Minho, no Seixal, onde terá cometido o primeiro assassinato. De seguida, e para chegar ao local onde deixou o carro com a filha morta no porta-bagagens, o homem terá percorrido uma distância de cerca de quatro quilómetros até à zona do McDonald’s de Corroios, onde a criança foi encontrada esta terça-feira.
De seguida, e ainda sem haver confirmações de como chegou lá, Pedro Henriques foi encontrado morto em Castanheira de Pera, no distrito de Leiria. O suspeito teve de percorrer uma distância de 250 quilómetros até ao local. De carro, este percurso demora cerca de 2h30.
(Em atualização)