São “eleições de primeira” e são as “primeiras eleições desde o governo das esquerdas unidas”. Por isso, o CDS não vai brincar em serviço. Naquele que foi, nas palavras da speaker, “o dia que marca o arranque da pré-campanha eleitoral do CDS para as europeias”, Assunção Cristas e Nuno Melo definiram as linhas orientadoras do partido para levar mais do que um eurodeputado para Bruxelas. Na convenção europeia organizada em Lisboa, ficaram definidos os alvos a abater: primeiro, a abstenção — “porque a Europa não é uma realidade longínqua, é preciso votar, é preciso levar os amigos a votar, a família a votar, os colegas de trabalho a votar” –, depois, o candidato do PS que ainda não foi formalmente anunciado mas que já aparece na lista negra, Pedro Marques –  Nuno Melo chegou a apelidá-lo de “ministro do desinvestimento”; e, por fim, Paulo Rangel, o candidato já anunciado do PSD, que fez campanha ao lado de Melo em 2014, mas que agora está do outro lado da barricada, a fazer “poucochinho”.

Primeiro, a abstenção. Assunção Cristas quer mobilizar o máximo de gente possível a votar naquelas que são as eleições historicamente com mais altos níveis de abstenção. Para isso, apela aos que estão descontentes com o governo das esquerdas de António Costa, na medida em que as eleições europeias serão a primeira ida às urnas depois das legislativas que deram vida à “geringonça”. E se, como explicou Nuno Melo, em partidos como o PCP, 80% dos que se mostram disponíveis para votar naquele partido nas legislativas também votam nas europeias, o mesmo não acontece em partidos como o CDS, onde essa proporção baixa para 50%. Falando para “aqueles que não se conformam com as esquerdas unidas, que não se reveem em António Costa, que não acham que ele seja um bom primeiro-ministro”, Cristas apelou ao voto no CDS por ser “a alternativa à maioria de esquerda dominante em Portugal”.

Nuno Melo, o cabeça de lista e eurodeputado, antes, já tinha explorado as diferenças entre o CDS e o PS, encostando, pelo caminho, o PSD à visão socialista da Europa. A rejeição dos impostos europeus, a defesa da regra de ouro da unanimidade nas questões fiscais e o anti-federalismo são as bandeiras que os centristas não se vão cansar de erguer daqui até maio para mostrar que só o CDS defende uma visão diferente, e para sublinhar as vezes que forem precisas que PS e PSD estão no mesmo saco. Nem Paulo Rangel, que fez campanha lado a lado com Nuno Melo nas últimas europeias (onde PSD e CDS concorreram coligados), escapou aos ataques dos centristas. Depois de umas primeiras palavras de “saudação” por ter sido nomeado, sem surpresa, cabeça de lista do PSD, Melo definiu qual vai ser a sua linha de ataque ao ex-aliado: primeiro, o PSD sentou-se à mesa com António Costa em matérias como a descentralização ou os fundos comunitários, ao contrário do CDS “que é e sempre foi oposição ao PS”; depois, o PSD, tal como o PS, concorda com o fim da regra da unanimidade em questões fiscais considerando que não se trata de novos impostos europeus, e o CDS garante que “não vende a soberania nacional em Bruxelas a preço de saldos“.

“Nós somos sempre oposição ao PS”, disse, defendendo que “cada vez que criticamos o PS criticamos com este à vontade e esta liberdade de quem nunca deu nada a António Costa a não ser combate político”. O nome do PSD não foi mencionado, mas ficou a ecoar na cabeça de todos. “Se não fosse o CDS haveria muito poucochinha oposição ao PS”, reforçou ainda o eurodeputado centrista, sem dizer novamente o nome do partido que, ainda assim, é o “aliado preferencial” do CDS. A campanha está no ar.

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Se Cristas centrou o seu argumento a pedir um cartão vermelho ao governo de António Costa, o eurodeputado centrista fez tiro a um alvo mais específico: Pedro Marques, “o ministro do desinvestimento”, que ainda não foi formalmente anunciado como o cabeça de lista do PS às europeias mas já tem, mesmo assim, os adversários no seu encalço. Sobre Pedro Marques, Nuno Melo não tinha nenhuma palavra de saudação: era um dos ministros “dos PEC”, dos governos de José Sócrates que, entre 2005 e 2009, “levaram o país à bancarrota”, e é hoje o “ministro do desinvestimento”, com a tutela dos fundos de coesão, que aceitou “sem questionar” um corte de 7% para o próximo ciclo de fundos.

Painéis relâmpago e uma lista entre os “cabelos brancos” e a novidade

A tarde tinha começado com quatro painéis temáticos, compostos por um dos candidatos do CDS e um convidado independente. Cada painel tinha uma duração de 15 minutos, sem atrasos, o que fez com que Isabel Jonet, João Taborda da Gama, Manuel Grave ou Manuel Tarré, os convidados, dessem apenas um “cheirinho” dos temas que o CDS quer discutir aprofundadamente na campanha: a dimensão social da Europa, agricultura ou mar.

Ja no encerramento, Assunção Cristas deixou claro que este será o primeiro de três atos eleitorais levados muito a sério pelo CDS: “As eleições europeias são eleições de primeira linha, são eleições de extraordinária importância: mais de 40% da legislação aprovada cá tem fonte europeia, ou seja, é primeiro discutida lá. Por isso é que temos de estar lá em número e em representação”, disse Cristas este domingo no discurso de encerramento da Convenção Europeia do CDS, que ocupou pouco mais de duas horas no CCB, em Lisboa. Foi aí que a presidente do CDS enunciou os primeiros cinco nomes da lista ao Parlamento Europeu, enaltecendo as valências de cada um, e apelando ao voto no CDS para Nuno Melo levar “companhia” para Bruxelas.

Uma lista que junta “cabelos brancos” com “rejuvenescimento”,  “combina experiência política com competência técnica, que junta antiguidade no partido com juventude e abertura e independência”, disse Cristas.