Paulo Rangel esteve “a um metro” da Venezuela, onde viu “famílias com crianças” a passar a fronteira a pé. Mas foi na “parada”, a primeira paragem para refugiados naquela zona da Colômbia que viu “situações muito difíceis”, que relata ao Observador a partir de Cúcuta. Paulo Rangel conta que os refugiados “instalam-se em canteiros” e “montam tendas que são mais pequenos oleados“. E ali ficam, “quase sem nada”. O eurodeputado viu “pessoas a vender cabelo” e ouviu relatos de que a prostituição aumentou naquela zona, fruto das dificuldades de quem deixou a Venezuela.

Paulo Rangel relata que os refugiados que estão na Colômbia estão “em situação de desespero, mas ao mesmo tempo com muita esperança, mais até do que nós, que temos uma posição mais prudente. Têm um sonho”. Tanto na “parada” como no aeroporto, o eurodeputado e a comitiva, onde segue o também vice-presidente do PPE, Esteban González Pons, foram saudados pelas pessoas que com “emoção e até algum exagero”, os abordaram como “salvadores“. “Que não somos”, completa Rangel.

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Junto à fronteira, Rangel viu um dispositivo muito militarizado e alguma “tensão”, mas não um clima “intimidatório”, comparando o ambiente a uma situação de alerta amarelo em Paris ou em Bruxelas, quando há soldados nas ruas após um atentado.

Na sexta-feira, ao almoço, Rangel encontrou-se com os presidentes do Chile, do Paraguai e da Colômbia, mas o ponto alto do dia foram os encontros com o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. O eurodeputado foi à “fase final do concerto” do Live Aid Venezuela e foi aí que viu pela primeira vez o presidente da Assembleia Nacional Venezuela.

O Guaidó entrou no meio do povo e as pessoas foram ter com ele, como uma espécie de Pop Star, e de forma livre, embora numa zona mais controlada. A emoção foi de tal forma que o Alejandro Sanz e o Juanes, que creio que eram os que estavam no palco, pararam de cantar nesse momento”, relata Paulo Rangel.

Pouco depois, Paulo Rangel tirou a primeira fotografia com Guaidó, o que reconhece ter sido um “momento selfie”, embora com simbolismo, pela mensagem que passa. A conversa ficaria para mais tarde.

Guaidó pediu depois para se encontrar com os eurodeputados e teve mesmo uma conversa à parte, que durou cerca de 10 minutos, com Paulo Rangel. “Disse-me que era importante passar a mensagem para Portugal de que, de facto, a situação na Venezuela é catastrófica, morrem pessoas todos os dias”, conta o eurodeputado português.

Segundo Rangel, Guaidó foi “muito efusivo relativamente à comunidade portuguesa, que disse ser das mais prejudicadas pela atual situação e agradeceu aos portugueses e luso-descendentes, que já saíram ou que ainda lá estão, pelo que estão a fazer na Venezuela“. O venezuelano disse ainda que conta com “os portugueses para reconstruir o país”. “Eles vão contar muito nesse processo de reconstrução“, disse Guaidó a Rangel.

Quanto à personalidade de Guaidó, Rangel teve as melhores impressões:

É muito carismático, muito jovem, muito determinado. Tem 35 anos, mas até aparenta ter menos. Apesar de ser jovem, nunca o vi receoso ou preocupado, esteve sempre muito sereno. Apesar de enfrentar uma situação difícil que vai ser o seu regresso ao país e a entrada da ajuda humanitária, nunca o vi assustado.

Rangel esteve também em zonas em que a ajuda humanitária estava a ser preparada, onde empilhadoras andavam de um lado para o outro. Ao jantar, voltou a encontrar-se com Guaidó, que gravou um vídeo dirigido aos portugueses que Paulo Rangel difundiu no Twitter.

Paulo Rangel também falou com vários ministros dos Negócios Estrangeiros latino-americanos que aguardam com muita expectativa o que vai acontecer este sábado. “Ninguém sabe o que vai acontecer e há aqui dois momentos-chave: a entrada de ajuda humanitária e o regresso de Guaidó ao país. Como vai entrar a ajuda? Como vai ele regressar à Venezuela?” A Paulo Rangel, Guaidó confessou que gostaria de entrar na Venezuela pelas vias normais. Ou seja: pela fronteira terrestre.

Rangel seguirá agora para a ponte internacional Simón Bolívar, a maior ligação terrestre entre a Colômbia e a Venezuela, onde deverá começar a entrar a ajuda humanitária.

Camiões de ajuda humanitária queimados na fronteira da Venezuela. Violência terá provocado pelo menos quatro mortos