A implementação da taxa turística do Porto deveria ser “progressiva” para os hostels, porque está a afastar jovens com “orçamento apertado”, grupos de escolas e universidades para outros municípios, alertou esta segunda-feira a Associação de Hostels de Portugal.
Em entrevista à agência Lusa o presidente da Associação de Hostels de Portugal, José Nuno Guerra, conta que os seus associados e as agências de viagens referem que há realmente uma perda de alguns grupos de turistas jovens, principalmente de escolas e universidades na cidade do Porto, devido à nova taxa implementada dia 01 de março do ano passado.
Uma pessoa que venha dez dias a Portugal, cinco dias ao Porto, e quatro dias a Lisboa, por exemplo, no final paga mais 20 euros. Ora este valor acaba por ser “mais uma noite de estadia ou eventualmente dois ou três almoços e tem um impacto muito forte para quem vem com um orçamento controlado e bastante limitado” como acontece com o público de alojamento local como os hostels, explica José Nuno Guerra,
Para o responsável, a criação de uma “taxa progressiva e diferenciadora” é “muito importante”, porque o público do hostel também “gasta dinheiro” e é um “bom utilizador da cidade”, estimulando a restauração e pondo a funcionar a economia.
A fuga de alguns turistas nota-se principalmente em clientes que ficariam durante “períodos maiores na cidade” e que optam por ficar em Vila Nova de Gaia, Espinho, Aveiro ou outros municípios vizinhos.
José Nuno Guerra defende que, para o bem da proporcionalidade entre os custos das estadias entre hostels e hotéis de luxo, se implemente uma “taxa turística progressiva”, como as que existem em Barcelona e Ilhas Baleares (Espanha) ou em Roma, Florença e Veneza (Itália), onde um hotel de cinco estrelas paga uma taxa superior e um hostel paga uma taxa inferior, que poderia ir desde os 35 cêntimos por noite até a um euro.
A taxa turística progressiva parece “mais razoável” e mais “justa”, principalmente para o público dos hostels, que é mais jovem, e, normalmente, tem com um orçamento mais apertado, mas que quer fazer o máximo de coisas, argumentou ainda o presidente da Associação de Hostels de Portugal.
Se um turista ficar uma semana, a taxa poderá, neste momento, ser o equivalente a mais de um dia de estadia. Isto porque os preços dos hostels por norma custam 20 euros por noite, e tal significa que o turista vai pagar “10% da estadia” — enquanto que num hotel de quatro ou cinco estrelas, uma noite pode ser 200 euros, o que corresponde a 1%.
José Nuno Guerra frisa que uma medida como a taxa turística progressiva é uma forma de proteger o regresso dos jovens turistas entre os 18 e os 32 anos de idade a Portugal, que, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT) daqui a cinco ou dez anos querem regressar, mas já com a família.
“Este público é realmente o que, segundo a OMT, vai ter maior desenvolvimento nos próximos anos. Estamos a falar da idade entre os 18 e os 32 anos”, acrescenta.
Sobre o anúncio que a Câmara do Porto fez recentemente, através do seu vereador da Economia, Ricardo Valente, onde indicava que a autarquia havia angariado 10,4 milhões de euros em 2018 com a taxa turística, o presidente da Associação de Hostels de Portugal prevê que a verba poderá aumentar para o dobro no futuro.
“A taxa começou em março, por isso não apanhou o mês de janeiro nem o mês de fevereiro, e também não apanhou todas as reservas que tinham sido feitas até ao mês de março de 2017. Daí, concluímos rapidamente que o valor [da taxa municipal do Porto] poderá chegar aos 12, 13 ou 14 milhões de euros, por isso duplica o valor que a Câmara Municipal do Porto estaria a programar”. A primeira previsão da autarquia era angariar seis milhões de euros no primeiro ano de taxa.
A fiscalização da cobrança das taxas compete à câmara municipal, que periodicamente recebe, por parte dos hotéis, uma declaração com informação relativa à sua aplicação.