app do Revolut está com problemas desde o início da manhã desta sexta-feira, com utilizadores em todo o mundo a sentirem dificuldades com carregamentos (top ups) e outras operações. A Revolut já confirmou os “problemas técnicos”, garantindo que os técnicos estão a “trabalhar arduamente” para corrigir o problema e que este estará resolvido “dentro de momentos”.

Vários utilizadores recorreram ao Twitter para se queixarem das dificuldades técnicas.

Um utilizador diz que acabou de aterrar em Londres e está em apuros porque não tem mais dinheiro consigo, além do que está na conta do Revolut.

Esta está a ser uma semana difícil para a fintech que quer revolucionar a banca e que anunciou há poucos dias a intenção de abrir um call center no Porto. Na quinta-feira, o jornal britânico The Telegraph noticiou que milhares de transferências ilegais podem ter passado pelo sistema bancário digital da Revolut durante três meses, entre julho e setembro de 2018.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Revolut vai abrir “call center” no Porto e está a contratar 70 pessoas. Para já

O jornal britânico teve acesso a documentos que mostram que, durante esse tempo, a startup inglesa desligou um sistema automático que foi projetado para impedir transferências de dinheiro duvidosas, bem como a criação de contas bancárias com esse intuito. A própria empresa admitiu que o sistema esteve mesmo desligado, tendo mesmo aberto uma investigação interna no final de 2018, depois de uma denúncia sobre o sistema de triagem.

Contactada pelo Observador, fonte oficial da Revolut explicou que “o artigo [do The Telegraph] refere-se a um projeto de melhoria de sistemas que estava a ser instalado, em paralelo com os sistemas existentes”. Mas, a dada altura, a empresa considerou que “os novos sistemas não estavam calibrados a um padrão de qualidade que nós esperaríamos, portanto regressámos aos nossos processos existentes até que essa calibração estivesse concluída”.

“Em momento algum, durante este período, achamos que tenhamos incumprido com as nossas obrigações legais ou regulatórias”, garante a Revolut.

Revolut desligou durante três meses o sistema que impedia lavagens de dinheiro

A fintech que foi fundada há quatro anos e se define como a Amazon dos bancos, por querer revolucionar o sistema financeiro da mesma forma que a Amazon revolucionou o retalho, atingiu já quatro milhões de utilizadores em todo o mundo, apenas três meses depois de chegar aos três milhões. Em Portugal, apenas um mês depois de chegar aos 100 mil utilizadores, já existem 120 mil pessoas a usar a aplicação que começou por ganhar popularidade entre as pessoas que viajam muito, já que é possível converter moedas sem custos e fazer levantamentos em caixas automáticas no estrangeiro, também sem custos (até um limite).

Cerca de 600 pessoas por dia instalam a app da Revolut, em Portugal, o que já tornou o país o sétimo maior mercado europeu para a empresa. Essa importância crescente do mercado português, bem como de outros países de língua portuguesa, como o Brasil, fez que que a fintech vá passar a disponibilizar em português a app de smartphone (que é o principal meio de interação entre o utilizador e a sua conta bancária na Revolut). E, em breve, essa conta bancária irá passar a ser uma conta bancária como qualquer outra, já que a Revolut obteve recentemente uma licença bancária que lhe permite, por exemplo, receber depósitos e conceder crédito.

Até agora, os fundos que os clientes carregam para a sua “conta” no Revolut são depositados numa conta bancária de um grande banco britânico, porque a Revolut não tinha uma licença bancária que lhe permitisse, por exemplo, recolher depósitos de clientes. No fundo, até ao momento, o cartão tem funcionado como um pré-pago, que os clientes carregam através de transferência bancária, por pagamento via cartão de débito ou de crédito ou usando Apple Pay ou Google Pay, por exemplo. Mas a empresa já recebeu autorização para passar a ter uma plataforma bancária própria.

A Revolut é muito usada, sobretudo, por quem viaja muito, já que a aplicação funciona com pré-carregamento (top up) e permite, depois, a conversão instantânea e gratuita de uma moeda para outra, entre 24 moedas mundiais, com a taxa real daquele momento, sem “acréscimos” ou comissões. Com o cartão Revolut é, também, possível levantar até 200 euros por mês nos caixas automáticos (ATM) dos vários países, sem custos.

A ambição da fintech é, cada vez mais, converter “os clientes leais que usam o Revolut para as viagens” em clientes que “usam o cartão para as suas despesas diárias”. Todavia, em Portugal, o cartão só é aceite em caixas automáticos e terminais de pagamento que tenham disponível a rede Mastercard ou Visa. Isto quer dizer que os titulares do cartão Revolut não conseguem usá-lo num comerciante nacional que aceite apenas cartões da rede Multibanco. Um pagamento pela rede Multibanco pode custar menos de metade aos comerciantes nacionais do que um pagamento pela rede Mastercard ou Visa.

“Até ao final deste ano, os clientes portugueses vão começar a poder depositar [na Revolut] os seus salários”, garantiu no mês passado a Revolut.

Como em qualquer outra conta bancária na Europa, os depósitos na Revolut vão estar protegidos pelos sistemas de garantia de depósitos até 100 mil euros (por conta, por titular). A empresa sugere que as pessoas podem passar a receber os ordenados na sua conta Revolut, prescindindo de ter conta nos bancos tradicionais. Além de fazer depósitos, a conta passa a poder ter contas a descoberto, empréstimos pessoais e empresariais em poucos minutos e “a taxas muito competitivas em relação aos bancos tradicionais”.

Embora queiram ser a solução para a maioria das pessoas, a Revolut tem penetrado essencialmente na geração dos 18 aos 23 anos, “que nunca interagiram com um banco e que querem uma experiência superfácil, como no WhatsApp e no Instagram”, explicou em entrevista ao Observador, em março, o diretor-geral da companhia para a Península Ibérica. A app também é muito utilizada pelos viajantes, que movimentam dinheiro em diversas divisas, e consumidores com estilos de vida internacionais.

A empresa garante que a Revolut não aplica qualquer margem na conversão cambial, ao contrário do que faz a maioria dos bancos. “A maioria do dinheiro que ganhamos é na subscrição Premium e na taxa de serviço aos comerciantes”, que é partilhada com a Visa e a Mastercard. Além disso, a empresa também obteve uma receita substancial com a negociação de criptodivisas.

A Revolut também fatura com as comissões cobradas quando os levantamentos excedem o máximo gratuito e com outros itens como uma fração das vendas de seguros de saúde internacionais que são oferecidos na conta Premium.