Qualquer jogo de futebol é decidido no detalhe. No pormenor. Mas os jogos da Champions têm outro fator determinante que, de uma forma ou outra, anda sempre de mão dada com os restantes – o timing. Tanto ou mais do que ter bola ou saber o que fazer com ela, interessa o quando ter, quando esperar, quando atacar, quando controlar. E foi esse o segredo do Tottenham na primeira mão dos oitavos frente ao B. Dortmund, em Wembley: entrar forte na segunda parte para passar para a frente, gerir a reação dos alemães, dar a estocada final (em dose dupla) nos últimos minutos perante a maior anarquia tática do adversário. O 3-0 trazido em Inglaterra era uma vantagem demasiado confortável para o conjunto londrino não passar aos quartos.

Son conseguiu fugir à tropa e passou a liderar um exército no Tottenham (mesmo sem o general Kane)

Os germânicos, com Marco Reus sempre a dar o exemplo, espreitaram a história com alguns remates perigosos à baliza de Hugo Lloris mas acabaram por agudizar a crise que chegou depois da habitual paragem de inverno na Bundesliga. Ainda houve dois triunfos, com Borussia Mönchengladbach e RB Leipzig, que confirmaram a liderança no Campeonato, seguindo-se um autêntico descalabro que motivou a saída da Taça da Alemanha e o recuperar do Bayern para os mesmos 54 pontos nesta fase, depois de ter feito apenas seis pontos nos últimos cinco jogos (uma vitória, três empates, uma derrota). Pelo meio, houve ainda o desaire em Wembley, com a eliminação confirmada agora com nova derrota, pela margem mínima.

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Do lado do Tottenham, e de forma incontornável, o destaque foi para o avançado e capitão Harry Kane. Depois da melhor fase da temporada, onde marcou sete golos noutros tantos jogos até ficar de fora por lesão após a receção ao Manchester United, o número 9 esteve ausente quase um mês e meio antes de voltar com dois golos em três jogos, diante de Burnley, Chelsea e Arsenal, no último fim de semana. Coletivamente, e a seguir a um período em que os comandados de Pocchetino ainda deram ideia de poder rivalizar pelo título com Manchester City e Liverpool, as atenções passaram a centrar-se mais na Liga dos Campeões, face ao atraso em relação aos dois primeiros. E, pela primeira vez desde 2010/11, a equipa chegou aos quartos.

Agora,o internacional inglês apontou o único golo em Dortmund mas alcançou outro feito paralelo que fica na história dos spurs: fez o 24.º golo em competições europeias pelo clube, tornando-se assim o maior goleador de sempre do Tottenham em termos internacionais, com mais um do que Jermaine Defoe e mais dois do que Martin Chivers. No total da temporada, aquele que foi considerado pela France Football o décimo melhor do mundo em 2018 leva 23 golos em 35 jogos, numa média que aumenta e muito olhando apenas para os encontros na Champions: cinco golos em sete partidas realizadas.

O feito surge numa altura em que a continuidade do capitão no Tottenham para a próxima temporada é cada vez mais incerta. De acordo com uma notícia do The Telegraph esta semana, Kane poderá estar a pensar pela primeira vez de forma real deixar o conjunto de Londres por ter a ambição de lutar com maior regularidade por títulos, sobretudo na sequência de uma frase deixada por Mauricio Pocchetino após a eliminação da Taça da Liga quando disse que “os troféus servem apenas para alimentar egos e o mais importante é garantir um lugar na Liga dos Campeões”. Na semana passada, também o sueco Zlatan Ibrahimovic tinha deixado um conselho ao internacional para mudar de ares. “Quando o vi em Inglaterra, pensei que era um bom avançado e ainda a crescer. Tem feito boas coisas mas jogar num grande clube é diferente, com todo o respeito pelo Tottenham, do que jogar num clube normal. Já vi jogadores que nesse tipo de clubes são bons, mas quando vão para grandes clubes é diferente. Agora, acredito que ele pode ter sucesso, mas precisa de dar o salto”, comentou.