Rui Pinto recorreu da ordem de extradição recebida esta terça-feira. O tribunal tinha ordenado o julgamento do hacker em Portugal, onde será julgado por roubar emails do Sporting CP e tentar extorquir a agência de investimentos Doyen Sports. O recurso de Rui Pinto tem “efeito suspensivo imediato” da decisão, e o jovem vai aguardar no próprio tribunal uma decisão relativa ao apelo.

O recurso de Rui Pinto baseia-se no argumento de que o Mandato de Detenção Europeu é ilegal por derivar de um “mandado de detenção nacional que não existia e que só veio a ser emitido um mês depois da detenção de Rui Pinto em Budapeste”, segundo avançou o advogado do jovem, Francisco Teixeira da Mota, ao Observador.

À saída do tribunal, em declarações aos jornalistas, afirmou que a extradição, não se deveria dar porque “os alegados factos do mandado foram cometidos em território húngaro”, sublinhando ainda que não recebeu “nenhum valor monetário” pelos possíveis crimes, nem de clubes de futebol nem de grupos interessados. Garante que tudo o que fez foi “pelo interesse público”, pois “era necessário expor e levar as autoridades europeias a aperceberem-se da grandiosidade da criminalidade à volta do futebol”.

Mais, Rui Pinto sublinhou, já depois da decisão que as autoridades portuguesas não agiam por “algumas das informações” divulgadas “conterem alegados crimes cometidos por cidadãos portugueses demasiado poderosos para a realidade portuguesa”. O jovem recusou especificar as acusações feitas. Rui Pinto terá enviado à polícia francesa, com quem diz estar a colaborar, documentos que comprovam uma série de crimes. Já a Polícia Judiciária, acusa Rui Pinto, nunca o contactou apesar de saber ter o “email e morada” do alegado hacker.

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Em tribunal, o pirata informático considerou que o regresso ao país era “uma questão de vida ou de morte”, citado pel’A Bola, e que estava em perigo a segurança pessoal e familiar: “O meu pai foi alvo de um ataque informático intencional. Fomos ameaçados de morte. Sou evidentemente um alvo a abater. Foi-me oferecido um programa de proteção de testemunhas [pela polícia Francesa, segundo o próprio] por estar em risco“.

O hacker esteve esta terça-feira, 5 de março, de 2019, no tribunal de Budapeste, onde reside desde 2015. Em prisão domiciliária desde 18 de janeiro de 2019, Rui Pinto foi detido imediatamente após a audição em tribunal, avança a TSF. Rui Pinto é alvo de um mandato de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal por ter alegadamente acedido aos sistemas informáticos do Sporting CP e do fundo de investimento Doyen Sports.

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O pirata informático terá depois divulgado os documentos confidenciais (incluindo contratos de jogadores do SCP, o contrato do então treinador Jorge Jesus e acordos entre a Doyen Sports e clubes de futebol), colaborando com o Football Leaks. Rui Pinto é acusado de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e ainda um de tentativa de extorsão.

Para o hacker, a justiça não tem sido imparcial em casos relacionados com futebol: “Existem casos de corrupção relacionados com o clube Benfica, mas apesar disso existe apatia e não existe vontade em perseguirem os clubes de futebol e os elementos pertencentes aos clubes. O mesmo posso dizer do fundo Doyen, as revelações do Football Leaks revelaram diversas irregularidades relacionadas com esse fundo, existem provas claríssimas que é gerido pela máfia do Cazaquistão, mas apesar disse as autoridades portuguesas decidiram não investigar o fundo Doyen”.

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Para além dos crimes de que é acusado, Rui Pinto é ainda suspeito de ter sido o responsável pela divulgação de emails internos do SL Benfica. De acordo com o Correio da Manhã, o Rui Pinto diz que o facto de ser tido como o homem que pirateou o Benfica gerou uma condenação pública, tornando-o no alvo de justiça popular por parte de fãs do clube. Em declarações fora do tribunal, à SIC Notícias, Rui Pinto distanciou-se do caso: “Sobre roubo de emails não tenha nada a dizer. A tentativa de colagem do Football Leaks ao roubo dos emails é absolutamente ridícula. Quem roubou os emails? Têm de perguntar ao Francisco J. Marques [Diretor de comunicação do FC Porto], que recebeu os emails

O hacker fez, ainda assim, referência ao Benfica, reforçando os argumentos utilizados em tribunal: “O Benfica é o exemplo em que a Justiça em Portugal é inexistente no que diz respeito ao futebol“.