A Associação de Pais da Escola Básica Godinho, em Matosinhos, viu-se obrigada a eliminar da rede social Facebook as imagens dos seus filhos e professores disfarçados de “africanos”, com roupas culturais e caras pintadas de negro, depois de uma série de acusações de racismo. O caso aconteceu na sexta-feira, depois de o anúncio do desfile de Carnaval ter sido publicado na página dos pais e partilhado por um grupo de Facebook denominado “Blackface Portugal” — que reporta situações que considera ofensivas e racistas.
Depois da chuva de comentários, a Associação preferiu eliminar a publicação e fazer um comunicado a justificar as suas razões. “A Associação de Pais desta escola entende ser oportuno esclarecer que a abordagem sobre África inseriu-se no tema conjunto do Agrupamento de Matosinhos, sobre as diferentes Culturas do Mundo”, começa por dizer, explicando que no desfile “foram representadas várias culturas: África, China, Brasil, entre outros, com o objetivo de celebrar a diversidade cultural”.
A explicação prosseguiu: “O Agrupamento de Escolas de Matosinhos, juntamente com os professores das escolas, entenderam escolher este tema para que fossem abordados conteúdos em sala de aula que pudessem dar a conhecer aos alunos a riqueza cultural de cada povo. Esse trabalho foi realizado nas semanas anteriores ao desfile”. Assim, “as vestes usadas tentaram representar a riqueza da sua cultura, com os tecidos tradicionais africanos. Lamentando que tenha sido interpretado por alguns como “Blackface”. Não foi essa a intenção, nem nunca esteve subjacente, qualquer comportamento racista. Contudo decidimos eliminar a publicação”, conclui, explicando que vai apagar todos os comentários insultuosos que apareceram na sua página.
O Observador tentou sem sucesso contactar a direção da escola.
Na página de Facebook “Blackface Portugal”, a publicação sobre o anúncio do desfile mantém-se, embora o comunicado tenha sido publicado nos comentários dessa imagem. Aí podem ler-se comentários com opiniões diversas. Há quem considere que “o melhor exercício para a compreensão da diferença e estimulo da empatia” é “vestir a pele do outro nomeadamente num contexto de projeto escolar”. E há quem divirja: “Minha cor não é fantasia de Carnaval”, lê-se.
O Observador contactou o gestor do perfil de Facebook da página Blackface Portugal, que explicou que qualquer questão devia ser comunicada por mensagem, uma vez que “o Blackface Portugal é anónimo, trabalha à base de denúncias com o objetivo de catalogar estas instâncias”. “Nem sempre manteve a neutralidade, mas procura fazê-lo agora”, acrescentava. O Observador perguntou se ao publicar a informação do desfile considerou o caso ofensivo. “A página limitou-se a publicar fotografias divulgadas pela própria escola em questão, que entretanto, graças à polémica, acabou por apagar os posts. É uma atitude correta, mas que não ajuda a que haja uma conversa pública sobre isto”, respondeu o gestor, sem se identificar. “Hoje, na televisão inglesa e norte-americana, é complicado encontrar exemplos disso a acontecer, enquanto em Portugal continua a ser extremamente comum”, prosseguiu. “E é por isso que, mesmo que isto seja com boas intenções e sem qualquer vontade consciente de denegrir quem seja, poderá sempre magoar os negros porque estes não estão a ser incluídos, estão a ser ignorados e a pele deles está a ser usada como fatiota”.