Dizer que brilhou na passadeira vermelha dos Óscares é uma definição tão redundante quanto frágil. Qualquer corpo vestido de espelho de alto a baixo teria conseguido semelhante proeza, mas Jennifer Lopez, em versão casal-maravilha ao lado do companheiro Alex Rodriguez, tem conseguindo ir além do cliché fácil. E o gerúndio aplica-se como uma luva, ou como um modelo Tom Ford por medida, o designer eleito para o look da cerimónia em questão. A intensidade do brilho ganhou novas proporções este fim-de-semana, quando através das suas redes sociais anunciou ao mundo o noivado com o ex-jogador de beisebol de origem dominicana, com direito a reluzente anel avaliado em um milhão de dólares — na verdade, apenas a materialização do tema que Lopes anda a cantar há vários meses, “El Anillo”. Para Jenny, será nada mais nada menos que o quarto casamento.

Foi no Instagram que a cantora e atriz anunciou ao mundo o sue noivado com Alex Rodriguez. A publicação já atingira os cinco milhões de likes.

Todos evoluímos, mas alguns evoluem melhor do que outros, ou de forma mais flagrante, e o work in progress desta espécie nascida no Bronx tem sabido fazer as coisas, para uma progressão de estilo gradual. A velha J.LO está a poucos meses de celebrar 50 anos (a 24 de julho), e se há não muito tempo escancarávamos a boca de espanto por causa de Jennifer Aniston, que alcançou a mesma fasquia e com uma invejável silhueta, agora é a vez da cantora/atriz de ascendência porto-riquenha arrancar alguma estupefação ao mundo mais desatento. O elixir estará no nome? Se for caso disso, abençoado batismo.

Jenny from the block é hoje pouco mais do que uma breve nostalgia, seja no capítulo dos figurinos, seja na troca de alianças e juras de amor. Depois de algumas escolhas mais recentes na temporada de prémios e nas respetivas red carpets, que cumprem muito mais do que os mínimos olímpicos exigidos, só uma memória paquidérmica teimará em resgatar certas fases da vida de Lopez. Mas é para isso que cá estamos, mais que não seja para frisar que é possível sobreviver àquela desastrosa aparição dos Grammys na aurora do novo milénio, que hoje funcionaria como inspiração perfeita para dançar até cair numa festa Revenge of the 90’s ou algo que o valha. Convenhamos que os anos 90/2000 foram tumultuosos para a generalidade dos mortais, e que a história de Hollywood e arredores também se faz de visuais que merecem permanecer apenas numa elucidativa e pedagógica galeria, como aquela que reunimos para si.

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Uma viagem ao baú devolve-nos várias ligações perigosas, tanto para o estilo como para os afetos. Cris Judd, Ben Affleck e Casper Smart (não necessariamente por esta ordem) engrossam a lista de parceiros ao longo dos últimos anos, para não falar dos tão ou mais mediáticos relacionamentos com Marc Anthony e P Diddy  (então com outro alter ego) — Lopez deambulou com o mesmo desembaraço entre o romântico latino e o rap, para resultados de guarda-roupa poucas vezes bafejados pelo glamour. “Tenho medo de estar sozinha”, admitiu em 2014 à Today, compreendendo-se um pouco melhor a lista que se segue.

1996 — 1998: O primeiro casamento, com Ojani Noa

Antes da música, Jennifer trabalhou como bailarina numa série humorística da TV, “In Living Color”, e talvez não tenha dado por isso, mas o facto é que o cinema chegou antes dos álbuns. Um dos momentos altos de 1996 foi quando o empregado de mesa cubano Ojani Noa pegou no microfone para pedir Jennifer em casamento numa festa de fim de rodagem do filme “Selena”, com o qual se estrearia em 1997. Ninguém ficou indiferente ao anel de noivado e a boda foi celebrada no restaurante de Gloria Estefan. O enlace seria desfeito em janeiro de 1998, ano em que Lopez participou em “Out of Sight” (1998), no qual beijava George Clooney, refira-se.

1999 — 2001: Sean Combs aka Puff Daddy, aka P Diddy

Depois de “A Cela”, os anos 2000 entraram-nos domingo adentro, numa série de fitas levezinhas, como “The Wedding Planner” (2001), “Encontro em Manhattan” (2002), “Vamos dançar?” (2004) e “Uma sogra de fugir” (2005). “Angel Eyes” (ainda em 2001), valeu-lhe mesmo um ALMA Awards pela atuação. O final dos anos 90 deu-nos também conteúdos MTV quanto baste, com tudo o que esta injeção pop implica.

No ano 2000, a MTV reuniu uma série de estrelas dos Grammy num “Total Request Live” com uma sessão de fotos de David LaChapelle. Sean “Puffy” Combs, Joey Fatone, e Jennifer Lopez, na foto, juntaram-se a outras referências do começo do novo milénio: Britney Spears, Limp Bizkit, Christina Aguilera, Lenny Kravitz, Tyrese, Destiny’s Child e Goo Goo Dolls. © Getty Images

Mas vamos à música. Parecendo que não, o álbum de estreia da miúda da porta do lado cumpre este ano duas décadas. “On the 6” (1999), uma alusão à linha de metro que a cantora chegou a usar, abriria caminho para uma explosão hispânica, coadjuvada por nomes como Ricky Martin. Quem não abanou a anca ao som de “Waiting for Tonight”, um dos hits do disco, que se acuse. No ano seguinte, destacava-se na corrida a melhor disco de dança mas para a história dos Grammys ficou um vestido verde com um profundíssimo decote — se duvida do impacto, garantimos que a Internet nunca mais foi a mesma depois desta aparição de J.Lo ao lado do seu então companheiro, Puff Daddy. O namoro durou dois anos e meio e foi interrompido de forma abrupta quando o rapper se viu envolvido num caso de posse de arma depois de um tiroteio numa discoteca.

Como o vestido de Jennifer Lopez criou o Google Images

2001 — 2002 – A segunda troca de votos, agora com Chris Judd

É raro vê-la desacompanhada e o certo é que pouco tempo depois do afastamento de Sean Combs, Jennifer daria o nó com um dos seus bailarinos. Graças ao segundo álbum, “J.Lo” (2001), estreara-se na primeira posição da Billboard 200, com o single “Love Don’t Cost A Thing”, mas a verdade é que custou e bastante — basta pensar no acordo milionário que fez com Judd, de quem se divorciaria no ano seguinte. Em 2002, ainda se lembrou se abrir um restaurante cubano, Madre’s, e de pôr ao leme da casa o ex-marido Ojani Noa, mas o caldo acabaria por entornar e a cantora despediu-o. O espaço fechou de vez em 2008, um intervalo de tempo que consegue ser superior a este parágrafo.

2002 — 2004: O fracasso “Gigli”, e o anel de 3,5 milhões de Ben Affleck

Depois de um volume de remixes, Jenny seguia prego a fundo com “This Is Me… Then” (2002), com o célebre hino de tributo às origens “Jenny from the Block”, que chegou ao terceiro lugar na Hot 100. E assim entramos na saudosa fase “Bennifer” (bem anterior à badalada chancela “Brangelina”), a junção quase perfeita de Jennifer com Ben, Affleck de apelido. O romance durou praticamente dois anos. A dupla contracenou no mal amado “Gigli”, figurou no famoso videoclip aqui em baixo, e já os convites para o casamento andariam pela rua quando o par acusou a fadiga da exposição mediática e pôs termo à relação antes de setembro, mês agendado para o casório. Pelo caminho ficou mais um anel de noivado, desta feita estimado em 3,5 milhões de dólares.

2004 — 2011: À terceira ainda não foi de vez, com Marc Anthony

Rei morto, rei posto. Dois meses depois do cancelamento do noivado, Jennifer começou a ser vista com o cantor e compositor Marc Anthony, com quem haveria de manter uma das relações mais duradouras. Casaram-se numa cerimónia restrita, sem grandes alaridos, e da união latina nasceriam, em 2008, os gémeos Emme e Max. Lopez continuou a ver de perto os lugares cimeiros das tabelas com o seu quarto álbum de estúdio, “Rebirth” (2005), e dois anos depois lançava dois álbuns quase de um só fôlego, incluindo o seu primeiro disco totalmente em espanhol, “Como Ama una Mujer”, com produção de Anthony, e seu quinto álbum de estúdio em inglês, “Brave”. Em 2009, o defunto ex-marido Ojani saiu do seu túmulo para assombra Jennifer, ameaçando revelar conteúdos íntimos. Em 2011, a cantora e Marc Anthony separavam-se, de forma pacífica. De resto, continuam a manter uma relação bastante amigável.

2011 — 2014: Mais um ensaio relâmpago, agora com Casper Smart

No rescaldo do casamento com Anthony, Jennifer voltava a apostar as fichas num bailarino, desta vez Casper Smart. A história terminou em junho de 2014 e não faltaram rumores de que a cantora e atriz se envolveu logo de seguida com o dançarino Maksim Chmerkovskiy, da versão norte-americana do programa “Dança com as Estrelas”. No ano anterior, o maior dos feitos chegava com a inclusão do seu nome no célebre e concorrido Hollywood Walk of Fame. Seguiram-se alguns anos em que as temperaturas subiram em flecha nos palcos, enquanto J.LO se mantinha solteira, ou pelo menos sem assumir nenhum candidato evidente ao lugar de novo marido, já que o diz-que-disse a associou a diferentes nomes, incluindo o de Drake, com quem surgia numa foto cúmplice no Instagram em 2016

Concerto de Jennifer Lopez sob investigação por ser muito sexy

2017 — ?: J.Lo e A-Rod, a poderosa dupla de abreviaturas (de novo) a caminho do “sim”?

Entre a língua inglesa e a castelhana, Lopez tem somado colaborações com nomes como Pittbull, Cardi B, Dj Khaled, Iggy Azalea, Lil Wayne ou Gente de la Zona, os campeões das ondas hertzianas contemporâneas, onde de resto tem estado mais presente. No cinema, o título mais recente data de 2018, “Segundo Ato”, mais uma comédia romântica, com Vanessa Hudgens. Nesse mesmo ano, a propósito da estreia, a Vanity Fair recuperava a bem sucedida carreira “híbrida” de J.LO., a estrela pop que hoje vive na sua mansão de Bel Air, e cujo valor líquido ronda os 300 milhões de dólares.”Fazer papéis como este permite-me voltar às minhas raízes”, definiu a atriz, que revelou ainda como se sentiu perdida depois do divórcio de Marc Anthony e de como essa fase representou um momento de viragem na sua vida.

Quanto a Alex Rodriguez, o antigo jogador dos Yankees que também é pai de duas raparigas, fruto de um anterior casamento, foi no talk show de Ellen em 2017 que Jenny recordou como o conheceu o seu futuro marido. “Foi muito simples. Estava a almoçar num restaurante e vi-o. Ele passou por mim. Quando saí, senti alguém a tocar-me no ombro e a dizer ‘Olá’”, explicou. Se quiser reconstituir a timeline da relação na íntegra, nada como espreitar a Cosmopolitan.

Jennifer e Alex, agora com o visual alternativo que levaram à after party dos Oscars, em fevereiro de 2019 © Instagram

Convém notar que podemos tirar Jenny do bairro, mas não podemos tirar o bairro de Jenny — de resto, ela sempre nos preveniu que manteria a humildade dos primórdios a circular abundantemente pela sua corrente sanguínea. Serve isto para admitir que os deslizes continuam a pontuar o seu guia de estilo aqui e ali, aquilo a que na gíria é conhecido por: “de vez em quando lá lhe foge o pé para…”, nada a que nossa condescendência não feche os olhos — caramba, há que reconhecer o esforço (e as matinés domingueiras bem passadas) desta eterna “working girl”, seja no cinema ou na vida real. Para mais porque nos títulos aparentemente menos comprometidos escondem-se tópicos bem relevantes.

À Vogue, ainda a propósito de “Segundo Ato”, e a poucas horas de envergar um Giambattista Valli para a grande noite de estreia, Lopez elaborava sobre as suas opções atuais ao nível do grande ecrã, partindo da personagem “Maya”, a empregada na casa dos 40 que se desunha a trabalhar e que acaba ultrapassada numa promoção por um homem mais jovem que frequentou uma boa escola. “Os filmes que tenho feito agora são muito específicos. Estou muito perto dos 50. Estas coisas são bem reais e presentes na minha vida, e como artista tenho que desempenhar aquilo que conheço. É tudo aquilo que posso fazer”.

Entretanto, talvez tenha estranhado o ponto de interrogação que usamos no antetítulo. Bom, é que entre o arranque deste texto e a sua conclusão, e apesar do enorme coro de celebridades a darem os parabéns pelo noivado, surgiu Jose Canseco, também ele ex-jogador de beisebol, que jura a pés juntos, pelo menos no Twitter, que Rodriguez anda a trair J.LO com a ex-mulher de Canseco. Não estranhe se atualizarmos este artigo em breve.