António Costa respondia a questões dos jornalistas no final de uma visita ao Hospital de São José, em Lisboa, depois de interrogado sobre como vai o Governo reagir à greve decretada pelo Sindepor (Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal) entre o2 e 30 de abril.

Tendo ao seu lado a ministra da Saúde, Marta Temido, o líder do executivo começou por desdramatizar e alegou que o direito à greve “é obviamente legítimo e cada um exerce-o nos termos que pretende exercer”.

“Até agora não houve uma única greve que tenha resultado de qualquer medida adotada por este Governo. As greves têm existido em diversos setores, mas resultam de decisões tomadas por governos anteriores”, sustentou.

De acordo com o primeiro-ministro, na presente legislatura, as greves têm em comum a “ambição legítima que as pessoas têm de poderem ir mais depressa e mais longe”.

“Compreendo essas ambições, mas nós vamos ao ritmo que nos propusemos, fazendo aquilo com que nos comprometemos fazer e que iremos continuar a fazer. Temos de fazer aquilo que prometemos e não aquilo que não prometemos. Quando assumimos os compromissos medimos tudo bem para saber o que podíamos fazer e não fazer”, argumentou o líder do executivo.

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Ainda sobre a questão das greves, António Costa contou que reage a elas com “um sentimento misto, porque ainda há três anos consideravam-se irrealistas os compromissos assumidos pelo Governo”.

“Agora, três anos depois, muitos acham que afinal podíamos ir mais longe do que os compromissos que assumimos. Cá por mim, prefiro manter-me na confiança de cumprir tudo aquilo que o Governo se comprometeu e não dar nenhum passo que coloque em causa a irreversibilidade do que já foi alcançado”, advertiu.

Perante os jornalistas, António Costa procurou passar uma mensagem política clara: “A função de um primeiro-ministro não é atenuar efeitos de uma greve, mas, antes, governar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) com os recursos que tem”.

“Relativamente a todos os profissionais, fizemos tudo aquilo que estava no programa do Governo e até fomos um bocadinho mais longe”, advogou, antes de citar como exemplos “a reposição dos vencimentos, do horário [de 35 horas semanais] e do subsídio para enfermeiro especialista”.

“Já anunciámos que iremos restaurar uma carreira que, além da categoria de enfermeiro, tenha a de enfermeiro especialista e de enfermeiro gestor e já está um novo concurso aberto para a contratação de mais 500 enfermeiros para o SNS. Mas, não me compete governar os sindicatos. Os sindicatos têm a avaliação deles e a estratégia deles”, alegou.

Neste contexto, o primeiro-ministro insistiu num dos princípios políticos do seu executivo: “A função de um Governo não é impedir greves, mas assegurar que o SNS está cada vez em melhores condições de cumprir a sua função”.

Nas suas declarações, António Costa quis ainda passar a ideia de que o dinheiro do Estado não pode apenas ser investido nas melhorias salariais dos profissionais dentro do sistema e aproveitou para revelar que, ao longo da visita ao Hospital de São José, “não houve um único diretor de serviço que não dissesse que precisa de mais recursos humanos”.

“Portanto, temos de continuar a aumentar o número de recursos humanos”, completou em estilo de conclusão, já depois de ter defendido a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde tem agora mais profissionais.

“Mas, também ainda temos de ter mais equipamentos e melhores instalações. Com os recursos que temos disponíveis – os recursos não se inventam -, temos de conseguir gerir da forma mais harmoniosa o conjunto destas necessidades” no sistema de saúde, acrescentou o primeiro-ministro.

Em relação ao Hospital de São José, António Costa prometeu que “o longo calvário” da sua reinstalação no novo Hospital de Lisboa Oriental “está a aproximar-se do momento crucial”.

“O processo de apresentação de propostas está concluído. Esperamos que nos próximos meses o júri conclua a apreciação dessas propostas e nos permite arrancar definitivamente com uma obra tão aguardada. Em dezembro de 2007, um dos primeiros atos que tive como presidente da Câmara de Lisboa foi assinar o contrato de compra e venda do terreno para a construção do hospital”, disse.