A diocese de Hamilton, no Canadá, acolheu a decisão do bispo de Vila Real e decidiu também suspender o padre Heitor Antunes das funções que mantinha naquela diocese desde 2016. O padre está a ser investigado pelas autoridades eclesiásticas de Vila Real, depois de o Observador ter noticiado que a relação com a mulher de 24 anos com quem teve uma filha começara quando ela era ainda menor e que, por isso, era suspeito de abuso sexual ou de ato sexual com adolescente.
O decreto cautelar no qual o bispo D. Amândio Tomás pedia ao padre Heitor Antunes para regressar a Portugal foi feito ainda no início de março, logo após o Observador enviar uma série de questões sobre o sacerdote que esteve à frente da paróquia de Nogueira, em Vila Real, desde 2001 até 2015. O padre tinha já sido investigado pela PJ num processo-crime aberto naquele ano de 2015 por causa de irregularidades com um outro padre do concelho. Na altura, a mãe da criança ainda foi ouvida nesse inquérito e chegou a dizer aos inspetores que a relação com o sacerdote começara quando ela era ainda menor. Mas o processo acabou arquivado em relação aos alegados abusos sexuais ou atos sexuais com adolescente, porque os crimes tinham já prescrito. Na altura, apesar de D. Amândio Tomás também ter prestado declarações à PJ sobre o padre Heitor, a Igreja não decidiu abrir qualquer investigação para perceber o que se passava.
Quase quatro anos depois, após as perguntas do Observador, as autoridades eclesiásticas decidiram, então, avançar com uma investigação e mandar o padre Heitor regressar do Canadá, proibindo-o de celebrar missas ou sacramentos até à conclusão do processo. Ao que o Observador apurou, o bispo garante que naquela altura só soube que o padre Heitor tinha sido pai e não tinha a informação de que a relação tinha começado quando a rapariga era menor — mesmo constando essa informação no processo que está no Ministério Público e mesmo tendo a vítima e uma familiar conversado com ele pessoalmente. Por isso, só agora avançou com a investigação.
Padre de Vila Real teve um filho de uma catequista. Ela era menor quando a relação começou
São também estes os argumentos da diocese de Hamilton, no Canadá, que segundo o jornal The Hamilton Spectator decidiram suspender o padre a 4 de março, mal souberam da decisão do bispo português. Uma informação obtida pelo jornalista daquele jornal na última sexta-feira, quando decidiu deslocar-se à Igreja de Santa Maria para falar com Heitor Antunes e lhe disseram que tinha sido suspenso e que, quatro dias depois, teria mesmo abandonado a residência onde vivia. Neste momento ninguém confirma se já está em Portugal.
De acordo com aquele jornal, Heitor Antunes, 49 anos e padre desde 1995, foi nomeado pastor da igreja de Santa Maria em junho de 2016. O vigário-geral de Hamilton, que assume as funções de porta-voz da diocese, explicou ao The Hamilton Spectator que soube das suspeitas relativas ao padre a 2 de março, um sábado, dois dias depois da notícia do Observador. “Na manhã de segunda-feira telefonámos ao padre e chamámos-lhe a atenção para isso”, disse Murray Kroetsch. O padre Heitor confirmou que já tinha visto o artigo e o vigário-geral anunciou-lhe que o iria suspender imediatamente do sacerdócio naquela diocese. “Demos-lhes uma solução: vais para Portugal e resolves isto”. O vigário-geral disse-lhe, no entanto, que depois logo se via o que acontecia se ele fosse absolvido e o seu “nome ficasse limpo”.
“Não fizemos promessas nem assumimos qualquer compromisso porque não conhecemos os factos”, disse.
Kroetsch assumiu que sabia que quando o padre português chegou à diocese que tinha sido pai, mas não fazia ideia de que a relação teria começado quando a jovem era ainda menor. E explicou que ter um criança não é algo que afaste um padre do sacerdócio. “É uma falha moral sim, é um pecado, mas é perdoável. Não é um crime”, disse.
Já depois do afastamento do padre, o próprio Kroetsh presidiu a algumas missas na igreja de Santa Maria e leu uma declaração informando que o sacerdote tina sido afastado “depois de suspeitas de abuso sexual de menores há muitos anos em Portugal”. “Porque a igreja leva estas alegações a sério, ambos os bispos da diocese de Vila Real [Amândio Tomás] e Douglas Crosby decidiram suspender o padre Heitor de todo o ministério até ao resultado da investigação que corre contra ele”.
O padre Heitor Antunes foi para o Canadá em 2016, pouco mais de um ano depois de ter assumido a filha de uma ex-catequista da paróquia onde fora colocado em 1999 e pela qual ficou responsável em 2001. Fonte próxima da vítima disse ao Observador que ela tinha 14 anos quando aconteceu o primeiro contacto físico. E que os dois mantiveram uma relação que começou com mensagens trocadas tinha ela 12 anos, e que se prolongou até à idade adulta, com alguns períodos de afastamento.
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Ao Observador o padre Heitor assumiu ter tido uma filha de uma mulher de 24 anos. Quando lhe perguntaram que idade tinha essa mulher quando a relação começou, o padre remeteu-se ao silêncio. Também ao The Hamilton Spectator não prestou qualquer declaração.
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O padre Heitor Antunes está, desde 2016, na paróquia de Santa Maria, uma comunidade de emigrantes portugueses que faz parte da diocese de Hamilton, em Ontário, no Canadá. O Observador constatou que, ao contrário dos outros sacerdotes portugueses que exercem funções no estrangeiro, seja por estarem destacados para funções no Vaticano ou para acompanharem comunidades de emigrantes portugueses noutros países, Heitor Antunes não aparece registado dessa forma no Anuário Católico Português, lista de todos os portugueses vinculados às dioceses portuguesas. Além disso, o processo de transferência para o Canadá também não passou pela Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), o departamento da Conferência Episcopal Portuguesa responsável pelos sacerdotes portugueses que acompanham os emigrantes portugueses no estrangeiro.
“O que pode ter ocorrido é esta transferência ter sido tratada entre os bispos das respetivas dioceses”, explica a diretora deste organismo, Eugénia Quaresma, que está dependente da Comissão para a Pastoral Social e Mobilidade Humana. Ao jornal canadiano, o porta-voz da diocese de Hamilton disse não se recordar especificamente como é que o padre ali foi colocado. Mas que se recorda que aquela data precisava de um padre que falasse português. “A dada altura recebemos uma carta do bispo a indicar que o iria deixar vir para a nossa diocese para servir a nossa comunidade portugesa”, refere. E refere que as suspeitas de abuso sexual o supreenderam por ser um “bom padre”, que trouxe “novas energias para a paróquia” e que nunca teve qualquer razão para suspeitar dele. Até porque nunca recebeu qualquer queixa contra o sacerdote português.