No início da carreira, acabado de chegar à NFL e aos New England Patriots, Rob Gronkowski foi questionado por uma jornalista se iria festejar a vitória que tinha conquistado instantes antes dentro de campo. O jogador de futebol americano, com o entusiasmo e a jovialidade natural de quem acabou de ser o responsável pela vitória da própria equipa com apenas 20 anos, sorriu e atirou: “Yo soy fiesta!”. A exclamação, agora com quase 10 dez anos, viria a tornar-se o eixo sobre o qual girou a carreira de Gronkowski. Este domingo, depois de nove temporadas na NFL e três Super Bowl no palmarés, anunciou que vai deixar de jogar. A menos de dois meses de completar 30 anos, o norte-americano dos subúrbios de Buffalo despede-se do futebol americano, dos Patriots e de (quase) tudo aquilo que o tornou um dos atletas mais populares dos Estados Unidos.

Um olhar mais aproximado permite perceber que Gronkowski decidiu reformar-se depois de apenas nove anos de carreira: o que, comparado com os 19 anos de atividade do companheiro de equipa Tom Brady, se torna ligeiramente estranho. Mas a estranheza transforma-se em compreensão quando dada a devida atenção às declarações do atleta antes do último Super Bowl, que os Patriots acabaram por vencer ao bater os LA Rams. Com um pouco habitual semblante carregado, Gronkowski falou pela primeira vez sobre o lado negativo da profissão e abriu espaço para os rumores de fim de carreira, que acabaram por ser confirmados este domingo.

“Tanto podes estar em cima como podes estar em baixo. Podemos mesmo ser atingidos a sério. Para dizer a verdade: tentem imaginar o que é ser atingidos a toda a hora e tentar estar sempre onde querem estar, todos os dias da vossa vida. É difícil, é duro. Ser atingido nas coxas, ser atingido na cabeça. O vosso cérebro não quer que o vosso corpo seja abusado. Quando o vosso corpo é abusado, isso atira o vosso espírito para baixo. É preciso lidar com isso ao longo da temporada. É preciso lidar com isso nos jogos”, disse o norte-americano aos jornalistas. Depois de uma temporada castigada por lesões mas que terminou com a conquista do terceiro Super Bowl com a equipa de sempre, o rapaz rebelde que os Estados Unidos adoram criticar decidiu aproveitar a fiesta enquanto ainda tem forças para isso.

O “spike”, a celebração que se tornou uma imagem de marca de Gronkowski

Gronk, como é normalmente chamado pelos colegas e pela comunicação social, despede-se da NFL enquanto melhor tight end de todos os tempos. À enorme reputação dentro de campo, o atleta acrescentou a fama de party boy, de homem adulto que continuava com a mentalidade de um rapaz de uma fraternidade universitária. As fotografias com estrelas da indústria pornográfica, as histórias de noites de discotecas e bebida, o sorriso e a gargalhada com que se apresentava sem qualquer ressalva, tornaram-no uma celebridade: não só um atleta, mas uma celebridade. O facto de nunca deixar que a persona high profile que vivia nas horas livres afetasse a prestação ao serviço dos Patriots fez dele o favorito dos fãs, uma espécie de Tom Brady mais novo, solteiro e com mais histórias para contar.

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Reinventou o spike — a celebração depois de um touchdown em que o jogador que recebe a bola a atira contra o chão — e rebatizou-o como Gronk Spike, tornando novamente aceitável algo que tinha ficado fora de moda. Com 1,98 metros e 122 quilos, apresentava uma destreza que foi comparada frequentemente à de Shaquille O’Neal na NBA: num texto publicado em dezembro de 2016 no The Players’ Tribune, Von Miller, jogador dos Denver Broncos, elegia Gronkoswki como o melhor tight end que já tinha enfrentado e garantia que “a NFL nunca tinha visto algo assim, com esta combinação de tamanho, velocidade e mãos”. Gronk foi durante nove anos a segunda metade de um casamento perfeito com Tom Brady que garantiu três Super Bowl e era normalmente apelidado de “o outro GOAT”, em referência ao acrónimo greatest of all time, o melhor de todos os tempos, rótulo habitualmente dado ao quarterback de 41 anos.

Gronkowski formou uma parceria de sucesso com Tom Brady ao longo de nove anos nos Patriots

No Instagram, onde anunciou que iria terminar a carreira, Rob Gronkowski agradeceu aos New England Patriots a decisão de contratar a sua “tolice” em 2010 e deixou claro que ainda não sabe qual será o próximo passo. “As minhas experiências ao longo dos últimos nove anos têm sido fantásticas tanto dentro como fora de campo. As pessoas que conheci, as relações que construí, os Campeonatos de que fiz parte […] Obrigada a toda a gente por aceitarem quem eu sou e a dedicação que coloquei no meu trabalho para me tornar o melhor jogador que poderia ser. Mas agora é tempo de seguir em frente com um grande sorriso […] Um brinde a todos aqueles que foram parte desta viagem, um brinde ao passado pelas memórias inacreditáveis e um ENORME brinde à incerteza do que vem a seguir”, acrescentou o atleta, que tem sido frequentemente ligado a um contrato com a WWE, a empresa que gere as competições de wrestling nos Estados Unidos, por ser amigo próximo de vários lutadores e já ter aparecido em episódios da franquia.

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Gronk despede-se da NFL com 521 passes, 7.861 jardas e 79 touchdowns em 115 jogos de 2010 a 2019. Mais do que isso, o tight end dos Patriots despede-se do futebol americano enquanto um dos melhores de sempre na sua posição e uma figura que a história do clube não mais esquecerá. O futuro, esse, estará assegurado entre o wrestling, as séries e os filmes em que já foi fazendo participações especiais nos últimos anos e os milhões que amealhou ao longo dos anos, já que garantiu há uns meses que o dinheiro que gasta no dia-a-dia vem dos contratos publicitários e nunca tocou nos salários do futebol americano. Aos 29 anos, Gronk está livre para continuar a ser fiesta.