A construção de quatro navios para o grupo do empresário Mário Ferreira “lotou” a capacidade dos estaleiros da WestSea, em Viana do Castelo, que passaram a recrutar fora para fazer face à falta de mão-de-obra na cidade.

“Hoje, se aparecessem 150 trabalhadores nós abríamos-lhes as portas (…). Precisamos de carpinteiros, eletricistas, picheleiros e não conseguimos”, referiu esta sexta-feira à agência Lusa o empresário do Porto.

Aquelas quatro construções e a reparação de outros três navios químicos de armadores internacionais ocupam, diariamente, 1.300 trabalhadores de mais de 15 nacionalidades diferentes.

Daqueles, 700 estão envolvidos nos acabamentos do ‘MS World Explorer’, o primeiro de três paquetes que a Mystic Invest encomendou até 2021.

O recrutamento de trabalhadores no estrangeiro veio criar outro “problema”: “Não se consegue alugar um quarto ou um apartamento em Viana do Castelo, porque os que existiam estão praticamente tomados por trabalhadores que estamos a trazer de todo o lado”, afirmou.

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“É muita produção nova num estaleiro desta dimensão, mas dá gosto ver estas 1.300 pessoas aqui”, confessou, olhando a azáfama dos trabalhadores que circulam no cais dos estaleiros da capital do Alto Minho.

Para o empresário, muito se falou “no passado dos trabalhadores que iam ficar sem emprego”, mas “a construção naval está ao rubro e continuará assim por muitos anos”.

Dos quatro navios que encomendou à WestSea, três são navios-hotel para o Douro: o ‘Viking Helgrim’ já “saiu” para o destino, o ‘Amadour’ zarpa de Viana do Castelo no sábado e o ‘Arosa’ dentro de duas semanas.

Já o primeiro navio oceânico “integralmente concebido e fabricado” em Portugal — ‘MS World Explorer’ – partirá em maio.

Ao impulso que apontou no setor da construção naval, Mário Ferreira juntou o “conhecimento” adquirido com os “desafios” que se colocaram com o projeto do primeiro paquete e aos quais os estaleiros “souberam responder”.

A tecnologia “inovadora” implicou “a procura de parceiros que ajudassem a desenvolver um produto complexo, com regras ambientais muito apertadas”, frisou.

O empresário considera que “este protótipo irá marcar uma nova era de navios cruzeiro em todo o mundo”, apontando como exemplo o sistema de tratamento de águas residuais ou dos lixos produzidos a bordo.

O sistema híbrido de propulsão do navio, “amigo do ambiente”, foi concebido numa parceria com a Rolls-Royce para “reduzir drasticamente os consumos”, como o “sistema dinâmico de posicionamento que evita o recurso a âncoras, protegendo o solo marítimo”.

O navio ‘MS World Explorer‘, com capacidade para 200 passageiros e 110 tripulantes, representa um investimento de 70 milhões de euros, parte financiada pela banca portuguesa. Os outros dois da mesma série, um dos quais já em construção, estão orçados em 165 milhões de euros, e são financiados pelo ICBC Leasing, Banco Industrial e Comercial da China.

O batismo deste navio oceânico vai decorrer no dia 6 de abril, nos estaleiros navais da subconcessionária dos extintos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), começando a operar a 2 de maio, com um cruzeiro entre a cidade do Porto e Palma de Maiorca, em Espanha.

“Vai ser uma festa à altura da ambição deste projeto [de cruzeiros e expedições]”, adiantou.

O ‘MS World Explorer’ está preparado para navegar em águas polares com até um metro de espessura de gelo e irá realizar cruzeiros e expedições de luxo nos quatro cantos do mundo, em destinos tão remotos como a Antártida e o Ártico.

“A ocupação desde navio está totalmente esgotada em 2019, 2020 e 2021”, concluiu.