Cristiano Ronaldo lesionou-se há menos de um mês, durante o Portugal-Sérvia que acabou empatado a uma bola. De lá para cá, o avançado da Juventus não voltou a entrar em campo e falhou os jogos com o Empoli, o Cagliari e o AC Milan. Cristiano só regressou aos treinos de forma integral esta terça-feira, na véspera da visita da equipa italiana a Amesterdão, mas Massimiliano Allegri garantiu logo na antevisão que, “até prova em contrário”, o português seria titular. Cerca de uma hora antes do apito inicial, as redes sociais da Juventus confirmavam que a prova em contrário não existiu e que Cristiano iria estar no onze inicial.

Afinal, Cristiano Ronaldo voltava esta quarta-feira à noite ao seu habitat natural: a competição onde se sente bem, a competição onde soma recordes atrás de recordes e a competição onde normalmente acaba os jogos com a alcunha de extraterrestre, marciano ou qualquer outro ser que não pertence a este mundo. A primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, na Holanda com o Ajax, seguia-se à noite perfeita de Turim em que Cristiano assinou um hat-trick, deu a volta a eliminatória com o Atl. Madrid praticamente sozinho e colocou a Juventus na ronda seguinte. Mais do que isso, a primeira mão dos quartos da presente edição da Champions acontecia no dia em que se assinalam 12 anos desde que a história do futebol europeu começou a ser reescrita.

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Ficha de jogo

Ajax-Juventus, 1-1

Primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões

Johan Cruyff Arena, em Amesterdão, Holanda

Árbitro: Carlos del Cerro Grande (Espanha)

Ajax: Onana, Veltman, De Ligt, Blind, Tagliafico, Schone (Ekkelenkamp, 76′), De Jong, Ziyech, Van de Beek, Neres, Tadic

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Nissen, Sinkgraven, Magallán, Huntelaar, Dolberg

Treinador: Erik ten Hag

Juventus: Szczesny, Cancelo, Rugani, Bonucci, AlexSandro, Bentancur, Pjanic, Matuidi (Dybala, 75′), Bernardeschi (Khedira, 90′), Cristiano Ronaldo, Mandzukic (Douglas Costa, 60′)

Suplentes não utilizados: Mattia Perin, De Sciglio, Spinazzola, Moise Kean

Treinador: Massimiliano Allegri

Golos: Cristiano Ronaldo (45′), Neres (46′), Schone (71′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tagliafico (41′), De Jong (55′), Pjanic (84′), Ekkelenkamp (90′)

A 10 de abril de 2007, o Manchester United recebia a Roma na segunda mão dos quartos da Liga dos Campeões. Os red devils tinham empatado a uma bola no Stadio Olimpico e golearam de forma surpreendente e quase escandalosa em Old Trafford: a equipa de Alex Ferguson venceu a de Luciano Spalletti por 7-1 e seguiu para as meias-finais, onde acabaria por cair com o AC Milan de Kaká e companhia que conquistou a Champions dessa temporada. Mas nesse dia da goleada imposta à Roma, Cristiano Ronaldo estreou-se a marcar na Liga dos Campeões. Com um remate de fora de área a um minuto do intervalo, o avançado de 22 anos marcou pela primeira vez na liga milionária e bisou logo nos primeiros instantes da segunda parte. 12 anos depois, Cristiano tem cinco Champions, é o segundo jogador com mais jogos na competição (164) e o melhor marcador da história da Liga dos Campeões (125 golos).

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Voltando a esta noite, Massimiliano Allegri não tinha Chiellini, que está lesionado, e lançava Rugani ao lado de Bonucci no eixo da defesa. João Cancelo era titular na direita, Alex Sandro na esquerda, Matuidi, Pjanic e Bentancur faziam a linha do meio-campo (Khedira ainda não está totalmente recuperado e começava no banco) e Cristiano Ronaldo juntava-se a Mandzukic e Bernardeschi no trio ofensivo. Do outro lado, a principal baixa era Mazraoui, que estava castigado e era substituído por Veltman.

O Ajax, que entrava em campo com um onze cuja média de idades não passa dos 24, controlou a primeira meia-hora do encontro e podia ter ficado em vantagem diversas vezes. A equipa holandesa, que é provavelmente o conjunto europeu que atualmente tem os níveis mais elevados no que toca à eficácia da pressão ao adversário, entrou com a clara intenção de marcar cedo e tornar difícil a missão da Juventus. O Ajax reduziu o espaço útil da Juventus e encostou a defesa italiana à própria área, tornando quase impossível para a equipa de Cristiano sair de forma apoiada e com passe curto. Os holandeses estiveram perto de marcar através de Ziyech, que durante o primeiro quarto de hora foi mesmo o melhor elemento do Ajax, e de Van de Beek, que rematou de fora de área e falhou o alvo por centímetros.

Lá à frente, Mandzukic, Cristiano e Bernardeschi estavam muito longe do meio-campo e permaneciam algo isolados do resto da equipa. De Jong era dono da linha intermédia do Ajax e controlava por completo a transição da defesa para o ataque, tornando difícil para Matuidi, Bentancur e Pjanic o último passe para os homens mais adiantados ou o desequilíbrio através dos corredores. A Juventus só acordou ao passar da meia-hora, quando percebeu que a solução para sair da pressão holandesa estava em deixar de tentar avançar de forma apoiada e com passes curtos e optar pelo passe mais longo, com Mandzukic enquanto referência. Mas acordar à meia-hora chega perfeitamente para quem é o melhor marcador da história da Liga dos Campeões.

Cristiano Ronaldo mal tocou na bola na primeira parte, rematou pela primeira vez aos 29 minutos e até parecia algo lento, ainda a ressentir-se da lesão muscular que o afastou dos relvados nas últimas três semanas. Porém, quando recebeu a bola na faixa central aos 45 minutos e soltou para o corredor direito para avançar em velocidade rumo à baliza, tudo isso desapareceu. Largou para João Cancelo, que cruzou para o coração da grande área, onde apareceu novamente Cristiano, totalmente sozinho, a cabecear para o primeiro do jogo e para a vantagem da Juventus.

A Juventus ia para o intervalo com um golo totalmente português e sem merecer propriamente a vantagem, já que o Ajax controlou por completo a primeira parte e foi superior em todos os setores. Ainda assim, não marcou. E por isso, pela eficácia, os italianos desciam para o balneário com a vantagem na partida. O Ajax, por outro lado, guardou a eficácia e o acerto desperdiçados durante o primeiro tempo para o minuto inicial do segundo. Na primeira jogada depois do intervalo, a equipa de Erik ten Hag circulou a bola até Onana e passou por vários jogadores até chegar a David Neres no corredor esquerdo: o brasileiro arrancou, passou por dois adversários, enganou outro já na grande área e atirou para um grande golo que não deu hipótese a Szczesny. 46 minutos, uma parte inteira para jogar e o Ajax já tinha o empate reposto no marcador.

Allegri tirou Mandzukic, que passou algo ao lado do jogo, sempre pouco interventivo, e lançou Douglas Costa logo aos 60 minutos, passando Cristiano Ronaldo a ser a principal referência no ataque. E se a Juventus foi engolida pelo Ajax na primeira parte, totalmente encostada às cordas até à meia-hora, as coisas conseguiram piorar na segunda. De Jong — que até passou a estar sob mais pressão, principalmente através de Matuidi e Pjanic — continuava imperial no meio-campo, Tadic é o eixo sobre o qual todo o futebol ofensivo dos holandeses gira e o marroquino Ziyech estava particularmente inspirado e foi, a par de David Neres, o principal obreiro das oportunidades da equipa de Amesterdão.

A Juventus voltava à estaca zero, ainda que com um golo marcado no reduto do adversário, e chegava aos 75 minutos sem que o guarda-redes Onana tivesse feito uma única defesa na segunda parte. Os italianos estavam novamente presos atrás, sem conseguir aproveitar o espaço que o Ajax deixa entre os setores e a tentar, de todas as maneiras, impedir o golo que colocaria os holandeses em vantagem no jogo e na eliminatória. O encontro pedia a velocidade e a criatividade de Dybala e Allegri acedeu, lançando o argentino para o lugar de Matuidi. Com o ataque refrescado e o Ajax a sentir o desgaste de um jogo inteiro em pressão alta e em correrias de trás para a frente, a Juventus conseguiu segurar o empate até ao final e arrastar o resultado até ao apito final — ficando até muito perto do segundo golo, através de um remate de Douglas Costa que bateu com estrondo no poste.

O Ajax foi sempre superior à Juventus mas revelou pouca eficácia e só concretizou uma das inúmeras ocasiões de golo que criou. Do outro lado, Cristiano Ronaldo marcou tal como fez em Old Trafford há 12 anos e cumpriu aquilo por que a Juventus o contratou — na única grande oportunidade de que beneficiou, não falhou e garantiu a vantagem dos italianos para a segunda mão em Turim. Para a semana, em casa, a Juventus só tem de não sofrer golos para seguir para as meias-finais da Liga dos Campeões.