A procuradora Cândida Vilar está a ser alvo de um inquérito-crime com “origem numa certidão extraída do processo de Tancos”, noticia este sábado o Diário de Notícias. O Ministério Público (MP) instaurou o processo contra Cândida Vilar por esta ter alegadamente aconselhado o major Vasco Brazão, oficial da Polícia Judiciária Militar, a não dar informações ao MP e à PJ durante a investigação ao desaparecimento de armas e equipamento militar dos paióis de Tancos.

O processo, cuja existência foi confirmada ao Diário de Notícias pela Procuradoria-Geral da República, está a ser conduzido pelo Ministério Público do Tribunal da Relação de Lisboa e não tem arguidos constituídos. Já a procuradora diz desconhecer a existência deste inquérito, afirmando não ter sido “notificada de nada”.

O inquérito teve origem numa certidão extraída do processo de Tancos, no qual Cândida Vilar não tem qualquer intervenção formal. De acordo com o Diário de Notícias, a origem deste processo está numa escuta a uma chamada entre Vasco Brazão (o major que liderou a investigação da PJ Militar ao desaparecimento do material militar) e a procuradora, durante a qual, no entender do Ministério Público, Cândida Vilar motivou Brazão a não dar informações ao DCIAP e à PJ.

Poderão estar em causa crimes contra a realização da justiça, como denegação de justiça, prevaricação e favorecimento pessoal, sublinha o Diário de Notícias. Além disso, estão também em causa violações dos deveres dos magistrados do Ministério Público.

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Vasco Brazão tinha o telefone sob escuta uma vez que estava na altura na mira da Operação Húbris, que investigou o misterioso reaparecimento das armas de Tancos. Viria a saber-se que a PJ Militar investigou o desaparecimento de forma paralela à PJ, para passar à frente desta polícia, acabando por chegar ao material desaparecido com a cooperação de um dos autores do roubo. Aliás, a Operação Húbris recebeu este nome precisamente devido ao significado desta palavra: “Arrogância, presunção ou excesso”.

A procuradora Cândida Vilar tem sido responsável por alguns dos processos mais mediáticos no país. Já tinha trabalhado com o major Vasco Brazão a propósito da investigação à morte de dois recrutas dos comandos, em 2016. Mais recentemente, esteve também envolvida no caso da invasão da academia do Sporting por membros da Juve Leo — durante o qual foi muito criticada devido à forma como conduziu interrogatórios, nomeadamente com o ex-líder da claque, Fernando Mendes.

Cândida Vilar foi alvo de três processos disciplinares só no último ano. Um no caso dos comandos e dois no caso de Alcochete. Esta semana, a procuradora foi constituída arguida numa queixa relativa à forma como agiu no caso dos comandos.