Parecia que a goleada sofrida pelo PSG frente ao Lille no passado fim de semana não teria sido mais do que um mero adiar da festa da reconquista do título, segundo consecutivo e sexto nos últimos sete anos. No entanto, todas as reações durante e depois do encontro tiveram o condão de expor o estado de uma equipa demasiado marcada pela saída precoce da Liga dos Campeões, no seguimento da derrota por 3-1 no Parques dos Príncipes frente ao Manchester United depois do triunfo por 2-0 em Old Trafford. Esta quarta-feira, com o Nantes, nova derrota adiou pela terceira vez o Campeonato – e até marcou um recorde negativo, porque desde 2011 que a equipa não perdia dois jogos seguidos na Ligue 1. Mas é de outros focos de discórdia que se fala.

Logo à cabeça, a ausência de Kylian Mbappé. A principal referência do conjunto parisiense, sobretudo depois da grave lesão que Neymar sofreu, passou ao lado das duras críticas à arbitragem (o que motivou a expulsão do técnico Thomas Tuchel, que se atirou ao árbitro durante ao intervalo) e fez um mea culpa à exibição frente ao Lille. “Nunca ninguém disse que nunca podemos perder, isso vai acontecer algumas vezes. Agora, não podemos perder desta forma. Cometemos demasiados erros que precisamos corrigir o mais rapidamente possível. Jogámos como amadores mas temos de recuperar porque agora temos mais jogos pela frente”, comentou no final. De acordo com a imprensa francesa, as declarações valeram-lhe a ausência nesta convocatória.

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No entanto, o maior ponto de tensão continua a centrar-se na guerra cada vez mais assumida entre o diretor desportivo Antero Henrique e o treinador Thomas Tuchel, como escreveu esta semana o L’Équipe com novos pormenores do choque.

Segundo a publicação, o alemão terá pedido de novo a Nasser Al-Khelaifi um papel mais largo na estrutura do futebol do PSG, quase como um manager inglês. Em termos práticos, o antigo técnico do B. Dortmund pretende uma margem maior de manobra na escolha dos jogadores, nas renovações e no planeamento da temporada. No entanto, a confiança do proprietário do clube no dirigente português que passou largos anos no FC Porto não saiu em nada abalada depois da eliminação na Liga dos Campeões e da “derrota” com o Barcelona pela contratação do jovem médio holandês Frenkie De Jong, do Ajax – tanto que, nas últimas semanas, Antero Henrique terá mantido várias reuniões com empresários para preparar a próxima época.

Nasser Al-Khelaifi entre Antero Henrique e Thomas Tuchel: um trio que não parece ter grande futuro (FRANCK FIFE/AFP/Getty Images)

“É muito fácil dizer que não tivemos personalidade, como fez o Mbappé. Tivemos o controlo do jogo, mas com dez jogadores tornou-se difícil. Jogámos com jogadores que não estavam nas melhores condições e que nem sequer deviam ter entrado. Não é possível só ter 16 convocados! Ao contrário do que toda a gente pensa, este jogo mostrou aquilo de que somos feitos mas para ganhar aqui preciso de mais qualidade”, assumiu Tuchel no final da goleada sofrida com o Lille. “Acho que nem vamos ganhar em Nantes… Talvez vá para lá só com 13 jogadores e vou dizer isto ao presidente. Sinto a falta do Lassana Diarra e do Adrien Rabiot e está à vista de todos. Antes ninguém dizia nada porque ganhávamos, mas agora…”, acrescentou. Não foram 13, foram 16. E com apenas quatro habituais titulares perante a onda de lesões e afastamentos que assolam os parisienses.

O PSG ganhou quase todos os jogos mas há uma guerra Antero-Tuchel em que alguém terá de perder

O PSG está prestes a ganhar mas nem por isso o machado de guerra é enterrado. Até porque, entre os encontros mantidos por Antero, a renovação de contrato com Buffon e Dani Alves terá estado em cima da mesa, algo que não agrada a Tuchel, que pretende pelo menos quatro novos jogadores mas escolhidos por si para equilibrar um plantel que continua a apagar-se sempre que chega às grandes decisões europeias – mesmo com 400 milhões de euros investidos só em Neymar e Mbappé, por exemplo. Para já, o objetivo continua a ser carimbar o triunfo na Ligue 1, que pode aconteceu no domingo caso o Lille não ganhe ao Toulouse ou caso pontue na receção ao Mónaco de Leonardo Jardim. E tudo porque três golos de jogadores do Nantes que passaram por Portugal (Diego Carlos e Waris) conseguiram uma reviravolta por 3-2 num jogo que estava em atraso.