“Deixámos de nos amar uns aos outros. Perdemos a nossa libido coletiva”, comentou Jean-Claude Juncker numa entrevista a um jornal alemão, o Handelsblatt. O presidente da Comissão Europeia diz que esse é o principal problema que torna difícil o combate contra os partidos populistas.
“Nós, os europeus, não sabemos o suficiente uns sobre os outros. As pessoas na Lapónia não fazem a mínima ideia daquilo que motiva as pessoas na Sicília”, lamentou o luxemburguês, acrescentando que “a UE precisa de ter regras conjuntas para todos, pelo que temos de estar atentos às sensibilidades de cada um” dos povos.
Juncker, que está a poucos meses de abandonar o cargo de presidente da Comissão Europeia, recorre à ideia da “libido” para se referir à solidariedade entre os povos. A última vez que essa “libido coletiva” se fez sentir foi cinco ou seis anos após o fim da Segunda Grande Guerra, refere Juncker — mas hoje, lamentavelmente, diz o luxemburguês, deveria haver melhores condições para que “os europeus se apaixonassem uns pelos outros, mais do que em 1952”.
Porém, o Brexit não é propriamente o melhor exemplo desta perda de “libido coletiva”. “O Brexit é um caso especial. Se ao longo de quatro décadas fazemos um país sentir que não pertence, realmente, à união, é normal que a decisão de sair seja uma consequência lógica”, comentou Jean-Claude Juncker. “Fez-se, sistematicamente, com que a noiva fosse injuriada, pelo que depois ela foi rejeitada”, comparou o presidente da Comissão Europeia.
Parte da responsabilidade pelo crescente extremar de posições é da “animosidade” entre os dois principais partidos políticos que dominam o Parlamento Europeu: “A estrutura dos partidos tornou-se tão polarizada que até é difícil descrever”, comenta Jean-Claude Juncker, ao Handelsblatt.
O que já não parece preocupar Jean-Claude Juncker é a possibilidade de se criar uma aliança de partidos de direita na Europa, uma ideia lançada pelo ministro italiano Matteo Salvini. “Vamos esperar e ver se essa aliança alguma dia se irá materializar”, diz Juncker, considerando que “estes partidos de direita não têm grandes dificuldades em criticar a União Europeia. Mas tendo em conta que a sua origem está em movimentos nacionais, vai contra a sua própria natureza lutar por algo ao nível europeu”, diz Juncker, vaticinando que “uma aliança desse género iria rapidamente fragmentar-se”.